Liberdade x Vaidade

Desde 1988, com a nova constituição e as conseqüentes eleições diretas de 1992, voltamos a viver um período de democracia em nosso país; regime governamental em que a liberdade de expressão é direito que torna possível a todo e qualquer cidadão expressar suas idéias. Este direito faz com que nada, nem ninguém, tenha o poder de cercear tal benefício inalienável.

Sem sombra de dúvidas, a liberdade é aquilo de que a nossa sociedade contemporânea brasileira mais deve orgulhar-se em ter conquistado, e esmerar-se por não perdê-la, haja vista a tremenda luta travada durante décadas de ditadura militar, período negro de nossa história em que tal diamante era oficialmente perseguido pelos que se julgavam os donos da verdade. Evidentemente, naquele contexto político havia o forte risco de um golpe comunista em nosso país. Foi necessária uma atitude capaz de deter tais forças revolucionárias que teriam transformado o Brasil em uma espécie de Cuba abaixo do Equador. Porém perseguir, torturar, eliminar e proibir de se expressar cidadãos que sonhavam com o melhor para seu povo, com certeza foi o caminho mais pecaminoso. Uma coisa é a ilegalidade de cometer um crime, outra completamente distinta é o Estado ser aquele quem efetua.

Há, logicamente, muita podridão em nossos governos que são legitimamente democráticos, conforme os jornais antes censurados nos revelam. Porém, felizmente, a maioria da população brasileira, conforme foi provado em um plebiscito posterior as eleições de 1992, prefere a democracia, ou seja, um regime em que haja a possibilidade do cidadão expressar-se como tal. Contudo, mesmo diante deste cenário, há pessoas que até afirmam concordar com tais áureos ideais, mas nas relações agem como os velhos generais, que há muito devem estar em companhia não lá muito agradável. Para estes, ainda é demasiadamente complicado para seu entendimento limitado aceitar o oposto, conviver com opiniões que ferem a sua mesquinha vaidade. Para estes, seria muito mais fácil que ainda houvessem meios de calar as vozes daqueles que não têm o mesmo pensamento que os seus; talvez até tenham saudade do “pau-de-arara”, da forca, da guilhotina, e claro dos A. Is. (Atos Institucionais).

Não só durante a ditadura militar brasileira houve esta extinção da liberdade, como todos sabem. Houve muitos outros regimes totalitários, escravidões, a tão lendária Inquisição, e imensuráveis mecanismos de poder capazes de calar muita gente coerente em sua época. Homens e mulheres de bem padeceram por incomodar a vaidade alheia com suas verdades mais que evidentes: Tiradentes, Martin Luther King, Zumbi dos Palmares, Olga Benário, Dom Paulo Evaristo Arns, Chaplin, dentre tantos outros homens e mulheres cuja ousadia foi capaz de levar à fúria poderosos feridos em sua vaidade, que desejavam ardentemente que a massa concordasse com suas megalomanias.

Ter senso crítico é algo que incomoda, deixa qualquer tirano vaidoso enfurecido, porque percebe que seu posto por si só não lhe imprime autoridade alguma, e o sonho destas pessoas é justamente o oposto. Desejam possuir um rebanho de carneirinhos, que possam fazer o que deles desejar sem que estes não digam nada além de um solene e uníssono “Amém”.

Entretanto, mesmo já passados os heróis que não titubearam frente à intransigência e vaidade dos ditos donos do poder, felizmente ainda nasce, talvez pelo exemplo destes, novos homens e novas mulheres de igual coragem e ousadia para o bem. É suscitada novamente a vontade de enfrentar qualquer que seja o moinho. Assim, em nossa sociedade atual, estes verdadeiros aspirantes a ditador, que se orgulham em calar seus semelhantes, imperam com indelével majestade. No entanto, basta virarem as costas, que emergem os comentários, livres como pássaros em pleno vôo.

TIAGO CASADDO
Enviado por TIAGO CASADDO em 29/07/2008
Código do texto: T1102124
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