NA LISTA PARANÓICA: uma freira, um cantor e um pacifista.

Eliott Ness, como se sabe, existiu; de verdade. Ele foi o agente do FBI que acabou com as bandidagens do gângster Al Capone. Essa história é muito conhecida porque foi parar na TV e no cinema;percorreu o mundo. Pois esse mês de julho, que termina já, já, o Federal Bureau of Investigation está completando 100 anos de existência. O criador do FBI foi um sujeito chamado Charles Bonaparte, curiosamente, o que é engraçado, da família de Napoleão Bonaparte, o imperador francês. Charles Bonaparte era ministro da Justiça e em Baltimore, no estado americano de Maryland, onde morava, juntou uma turma de detetives para investigar crimes federais.. Começaram investigando 20 casos, os mais diversos, e alcançaram a glória na época da Grande Depressão dos anos 30 do século XX. Os bandidos tomavam conta de tudo o que era ilícito. E ganhavam muito dinheiro com tudo o que era proibido. Naquela época, e até hoje, um agente do FBI é chamado de “G-Men”, e não de “oficial” como traduzem nossos tradutores caboclos das dublagens brasilinas.. Em 1930, os bandidos eram tão famosos como os G-Mans.Não só lá, nos Estados Unidos como em todo o mundo Além de Al Capone “Il capo de tutti capi”, John Dillinger, Machine Gun Kelly entre outros que Hollywood não se interessou, os G-Mans faziam tanto sucesso como os astros do cinema que viriam eternizá-los. Durante a Segunda Guerra Mundial o FBI já reunia 13 mil G-Mans e as séries de TV do pós guerra deram fama,importância e respeitabilidade a todos os seus arapongas.

Hoje em dia não há na Terra ninguém mais procurado pelo FBI do que Osama Bin Laden, o grande líder da Al-Quaeda, que o mundo inteiro sabe onde se esconde, mas que eles, os G-Mans, não são capazes de capturar-lo. Não são capazes ou não devem capturá-lo.

Depois do pavoroso atentado as Torres Gêmeas em Nova Iorque, que o Governo dos EUA atribui a Al-Quaeda , o FBI não é, digamos assim, ainda tão bem visto como já o fora, pelas autoridades americanas pois, segundo o Departamento de Justiça, ele não foi capazes de prever o atentado e, assim, evitar sua execução. O que resultou no maior fracasso investigativo desde a sua fundação.

Depois disso, desse fracasso investigativo e de espionagem, o FBI passou a fazer listas de suspeitos na tentativa de achar algum muçulmano para cristo; e tantas fizeram que a paranóica tomou conta da razão, do bom senso.

As agências internacionais de noticiais espalharam mundo a fora e a dentro a notícia de que os EUA têm uma lista de terrorista com mais de um milhão de nomes.. A paranóia que não é só bushniana, é, principalmente, de todo o sistema, do establishment, que tem mais poder do que o Presidente, como alias acontece em todos os regimes presidencialistas.Convenhamos: se um milhão de terroristas estivesse ameaçando a nação americana, e resolvessem, de comum acordo, agir, não haveria G-Man suficiente para impedir a ação dessa multidão de celerados.

Paranóicos, com certa razão, mas só até certo ponto, o pessoal do FBI manda uma enorme lista de terroristas suspeitos – ora, todo terrorista não é um suspeito? - para as companhias aéreas, agências de viagens, alfândegas e por onde mais possa adentrar algum maluco disposto a praticar a estupidez de um atentado. E com cuidados levados a extremos colocaram uma singela freira, Secretaria de Educação da Conferencia Episcopal Católica Norte-Americana, Glenn Anne MacPhee na lista do milhão porque um sujeito afegão havia usado o sobre nome McPhee e acessado o San Francisco Faith que é o boletim na internet da Diocese onde ela trabalha. Durante mais de 10 meses a freira foi investigada e somente com a intervenção do Bispo saiu da lista depois que ele conversou com Karl Rove o principal assessor político de Bush.

Nelson Mandela precisou de uma ordem especial do Congresso Americano para que seu nome fosse retirado da lista. Ninguém sabe o porquê e nem quem achou que o velho ex-presidente da África do Sul pudesse ameaçar o território norte-americano aos 90 anos de idade. Tá certo que ele foi considerado terrorista, foi guerrilheiro, rebelde,sabotador,ativista. Um ameaça sem dúvida. Porém, foi para o governo branco do apartheid na África negra. Mas a paranóia antiterrorista esqueceu que Nelson Mandela a época do atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, já havia recebido, em 1990, o “Premio Lênin da Paz para o fortalecimento da paz entre os povos”.

Quem ainda era jovem entre os anos de l960 e 1970 deve lembra-se do cantor e compositor britânico de “folk songs” Cat Stevens – e de “Morning Has Broken”, “On the Road to Find Out”. Pois em 1978 depois de quase morrer afogado numa praia em Malibu, e por isso, converteu-se ao islamismo, abandonou a carreira por uns tempos e quando retomou-a passou a chamar-se Yusuf Islam - agora cantando “Don’t Let Me Be Missunderstood”; quase uma súplica. Por isso entrou para a lista paranóica do FBI e teve suspenso seu visto de entrada nos Estados Unidos. Três décadas depois de ter encerrado sua carreira como Cat Stevens ainda vende por ano mais de um milhão de seus velhos e bons discos ao redor do mundo. E agora como Yusuf Islam, mais ainda. Apesar de ter fundado três escolas muçulmanas em Londres e uma organização sem fins lucrativos, com o sugestivo nome de Small Kindness, reconhecida pela ONU, não pode entrar nos Estados Unidos. Essa organização ajuda órfão dos conflitos da Bósnia,Kosovo e do Iraque destruído pelos Estados Unidos. Mesmo assim, Cat Stevens é considerado pela paranóia americana como sendo um terrorista.

Volta e meia escuto dizerem e leio escreverem que depois do “11 de Setembro” os Estados Unidos jamais será o mesmo. Uma idéia que sempre pareceu-me vaga demais para explicar alguma coisa; agora, porém, acho que a frase começa a fazer sentido.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 29/07/2008
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