A história do homem

Eu quero contar a história do homem, a criatura mais especial de todo o Universo. A única que logrou obter de Deus a maior prova do Seu amor. Sim, queridos, Deus amou tanto a nós, seres humanos, que nos deu o seu único filho, Jesus Cristo, para morrer em nosso lugar, em pagamento pelos nossos pecados. João 3:16 nos diz que “Deus amou ao mundo de tal maneira, que Deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. E em Rm 5:8 está escrito que “Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”. E o Jesus que morreu por nós, bem o sabemos, era o próprio Deus encarnado, era o Verbo Divino que “se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade”, conforme se diz em Jo 1:14. É nesse fato que está caracterizada a importância do homem para Deus, antes de qualquer outra de suas criaturas. Deus Jesus não ofereceu a sua vida por qualquer outra de suas criaturas; ele a ofereceu pelo homem, porque o homem é muito especial para ele.

Mas quem é o homem? Essa é a resposta que nós estaremos buscando durante os próximos 30 minutos. Com certeza, todos queremos saber quem somos nós à luz das Sagradas Escrituras. Então, vejamos...

a) - O Homem foi criado por Deus. Sejam quais forem os demais pormenores do processo da criação do homem, a Bíblia nos ensina em Gn 2:7 e em 1 Co 15:45, que o Senhor Deus:

I - formou o homem do pó da terra;

II - inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e,

III - o homem passou a ser alma vivente.

b) - O Homem foi criado à imagem de Deus (Gn 1:26-27):

I - conforme determinação divina; e,

II - pela atuação divina.

Que vem a ser essa “imagem de Deus”? Existem várias opiniões a respeito desse assunto e creio que podemos nos limitar ao que a Bíblia ensina, a saber: que o homem, de alguma forma não física, se assemelha a seu Criador. Recebeu domínio sobre o mundo da Natureza e pode modificar seu próprio ambiente. Possui natureza moral refletida na sua consciência, sabendo distinguir entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio. Leiamos Gn 1:28-30.

c) O pacto de Deus com o homem. Deus abençoou o homem que tinha criado, concedendo-lhe: fecundidade, domínio, sustento, trabalho (para o cultivar), responsabilidade (e o guardar), liberdade e orientação. Gn 1:28-30, 2:15-17.

d) O Homem: corpo, alma e espírito (1 Ts 5:23). Ao estudante que lhe solicitava esclarecimento deste assunto, certo ensinador bíblico limitava-se a pôr à disposição do consulente sua vasta biblioteca. A Palavra de Deus “divide alma e espírito”. Hb 4:12. Porém, para nós, não é muito fácil fazê-lo. O que podemos observar é que:

I - não é bíblica a expressão comum, nem o conceito correspondente, que “o homem tem uma alma”. Ele é alma. Gn 2:7;

II - os termos “alma” e “espírito” são, muitas vezes, empregados na Bíblia com o mesmo sentido. Comparar, por exemplo, Gn 35;18 e 1 Rs 17:21 comLc 23:46 e At 7:59; e Ap 9:6 e 20:4 com 1 Pe 3:19 e Hb 12:23;

III - ambos os termos indicam o elemento espiritual do homem e às vezes parecem que o fazem de pontos de vista diferentes, sendo o espírito o princípio de vida e ação que domina o corpo; a alma, o sujeito pessoal que pensa, sente e decide, e às vezes é a sede dos afetos;

IV - a alma (psychê) pode ser considerada simplesmente a vida ou a manifestação do ser não material do homem para com o mundo; o espírito (pneuma), sua manifestação para com Deus pois Deus é espírito, de modo que o homem não pode aproximar-se dele senão “em espírito”, conforme Jo 4:23;

V - a distinção entre o homem “natural” e o “espiritual” em 1 Co 2:14-15, dá a impressão de que o homem que não nasceu de novo é somente condicionado pela “alma”, não podendo apreciar a revelação divina, ao passo que o nascido do Espírito está vivo para com Deus. O descrente está “morto”, o crente está “vivo dentre os mortos”, na sua relação com Deus. É o homem natural que “não tem o Espírito”, isto é, o Espírito Santo controlando sua vida. Cf. Jd 19;

VI - daí acharem alguns ensinadores que o descrente é apenas corpo e alma; o crente, corpo, alma e espírito. Até certo ponto parece ter razão esse parecer; contudo, quanto a seu ser original, o homem, alma vivente, tinha capacidade para comunhão com Deus.

Nosso estudo sobre o homem vai mais adiante. Até aqui nós temos apreciado o homem em seu estado original. Todavia, essa não é a única face dessa história. A outra face nos conta a história do homem no estado de pecado. E é bem mais negra e triste do que esta história que vimos até agora . Vejamos alguns pontos:

a) O início do pecado no mundo (Gn 3). Livre para escolher entre a obediência a Deus e a desobediência, o homem, incitado pela serpente, tomou a decisão errada: desobedeceu. Começou, assim, no mundo, o pecado com todas as suas terríveis conseqüências.

A narrativa limita-se a registrar o fato, nada nos informando da maneira ou da razão da tentação nem de como apareceu o tentador no mundo, onde tudo o que Deus fizera, inclusive a serpente, era até então “muito bom”. (Gn 1:31). Há vislumbres de alguma espécie de rebelião entre seres angélicos (Gn 6:1-8; Jd 6). Isso, porém, apenas nos leva a mais um passo atrás, sem nenhuma explicação da origem do mal.

b) A natureza do mal. O mal, como observou Agostinho, é essencialmente negativo: é o deixar de seguir a orientação divina; é a não obediência diante do aviso que esclarece a vontade de Deus.

Desse ponto de vista, o mal não tem origem no sentido normal do termo. O homem, tentado a deixar de obedecer a Deus seguindo o bem (que é positivo), simplesmente tomou a decisão de abandonar sua lealdade a seu Criador.

Consultado certa vez sobre a origem do mal, célebre pastor brasileiro respondeu que a esse respeito pouco podia adiantar mas que, se o consulente estivesse interessado em vencer o pecado em sua vida, poderia ajudá-lo.

De acordo com a definição bíblica em 1 Jo 3:4, o pecado é indisciplina, insujeição, ou insubordinação; é o inconformismo com a vontade conhecida de Deus (lei) . É esse o ensino em Mt 5:21-32.

Conforme o sentido de um dos vocábulos gregos, e também um dos hebraicos, mais empregados na Bíblia para representar o pecado, pecar é errar o alvo ou o caminho. O pecado é ainda o não atingir o padrão divino (Lc 15:18-21; Rm 3:23). Constitui também ofensa contra Deus (Ef. 2). Com relação ao nosso semelhante, é o deixar de amá-lo (Mt 5:38-48; 1 Jo 3:15; 4:8; Rm 13:9); é pecador quem deixa de respeitar a personalidade e o direito alheios (Gn 4:5 e 2 Sm 11). Em relação a nós mesmos, pecado é afetação (pedantismo) ou auto-suficiência (Ml 4:1; Lc 1:51; Tg 4:6; 1 Jo 2:16). É a atitude de quem se sente perfeitamente capaz de conduzir sua própria vida e repugna a interferência por parte de quem quer que seja, mesmo de Deus. É o orgulho egocêntrico.

Poxoréo, MT, 8 de dezembro de 1996