Enquanto eles apenas vivem, nós navegamos...

Caro leitor, todos devem conhecer pessoas que falam muito e nada fazem de fato. Portanto, todos conhecem pessoas que apenas vivem e não ousam navegar.

Algumas correntes filosóficas do oriente atribuem maior importância ao ouvir, ao perceber e ao sentir, ao invés do discurso para além do necessário.

Não quero ser reducionista, mas simpatizo com a dita Navalha de Ockham. Trata-se de um princípio lógico que afirma que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir as premissas estritamente necessárias à explicação do fenômeno e eliminar todo o engodo desnecessário. A frase latina: "entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem" (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade) vem corroborar com a idéia. Digo isso, porque para navegar de verdade é preciso simplicidade.

Leitor, talvez você tenha percebido no título deste artigo um trocadilho do poema de Fernando Pessoa: “navegar é preciso, viver não é preciso”, outros talvez lembraram a frase que o general romano Pompeu pronunciou aos marinheiros amedrontados que se recusavam a viajar durante a guerra: "navigare necesse; vivere non est necesse", evidentemente, trata-se da mesma frase reeditada pelo poeta português dois mil anos depois.

Agora reflita, você apenas vive ou tem se permitido navegar?

Bem, sugiro uma metáfora para ajudar a pensar sobre este questionamento. Adotarei como exemplo, a música.

Diria que viver com a música seria simplesmente observa-la, ouvi-la, estuda-la quem sabe, critica-la ou dizer que ela é esteticamente importante para as pessoas. No entanto, navegar com música é sentir sua melodia correr pelas veias, sentir seu ritmo pulsar com o coração, poder além de ouvi-la, efetivamente escuta-la; navegar mais fundo seria criar a música, improvisar e executar canções. Navegar é deixar que a música invada teus pensamentos e te conduza à legítima fruição.

Leitor amigo, partindo dessa linha de raciocínio sobre “viver” e “navegar”, podemos replicar esta reflexão para diferentes áreas da existência. Faça este exercício e perceberá que navegar pode ser simples e, certamente, muito mais prazeroso que viver!