Machado de Assis: Uma ótica sobre a paisagem Machadiana

“Uma ótica sobra a Paisagem Machadiana”

Fez-se por muito tempo mister, principalmente numa época em que a Escola Moderna (Modernismo) propunha-se a aproximar a arte brasileira do próprio Brasil (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Vila-Lobos, Tarsila do Amaral, etc...), criticar com veemência obras que não cultivavam traços regionais e descrições brasilianistas. Nem Machado de Assis escapara.

Isso ocorrera mesmo sendo já naquela época sabido, que Machado havia sido e talvez para sempre seria, o maior ícone das Letras brasileiras. E de fato o é. Machado, ao lado de Guimarães Rosa (este, participante da Segunda e terceira fase do Modernismo) são os maiores escritores que nossa terra já teve o prazer de ler.

As críticas ao escritor carioca, fundiam-se quase sempre sobre o mesmo tema: a falta de retratação da paisagem (exterior) do ambiente onde se desenrolavam suas obras, ou seja, o Rio de Janeiro.

Esperava-se que tão talentoso escritor, mostrasse ao mundo de leitores, de todos lugares e todas as partes, um pouco mais do cenário local, pelo menos, esperava-se que isso fosse evidente em descrições tradicionais, talvez como as que encontramos nos textos de Alencar.

Mas essa falta descritiva não era fato. Quem pôde perceber isso com alguma facilidade foi o crítico literário francês Roger Bastide, intelectual da mais alta patente e profundo conhecedor e estudioso da cultura tupiniquim. Foi então, em 1940, com a publicação de “Machado de Assis, paisagista” que o eminente intelectual esclareceu à massa em que pontos Machado se fazia até mais descritivo que seus contemporâneos. O artigo foi publicado na Revista do Brasil, na edição de número 29, no mês de novembro daquele ano.

A descrição Machadiana era diferente, atendia outra técnica, fazia-se subliminar à forma narrativa dos românticos, e muitos, não viam isso. A fase, a época, em que Machado produziu seus textos, já recebia uma influência bastante diferenciada. Havia, na sociedade, tanto nos trópicos, quanto na Europa uma urbanização do homem. O homem passara a ser mais influente ao meio do que as paisagens. Machado percebera isto e fizera um álbum de retratos alicerçado no psicológico de seus personagens.

A urbanização, tal qual o desenvolvimento antropológico do homem, fizeram com que as atitudes, os gestos, o pensar e o diálogo, mostrassem muito mais do que descrições passo a passo de um determinado local. Talvez afirmar que desde o início dos tempos, até o advento da Revolução Industrial Britânica, o ambiente fez o homem – dali para frente – o homem faria o ambiente.

Esta ligação com o homem de uma forma ampla, fez com que alguns críticos (Aurélio Buarque e Cassiano Ricardo, por exemplo) não percebessem o Brasil que estava nas entrelinhas do discurso de Machado de Assis, taxando-o de “grande escritor brasileiro de espírito antibrasileiro”.

Bastide nos diz, então, que nada é exatamente nativista quando se fala de arte, pois na verdade, o papel prestado pelo artista que assim o faz é par ao estrangeiro que ao aqui pisar, exprime toda sua admiração ao exotismo natural de nossas terras. E disso é necessário fugir, assim como fez o escritor carioca. Ao fugir do nativismo que seria, sim, uma ponte curta para o exotismo, Machado construiu uma nova forma de declarar seus pontos de vista sobra a cidade, sobre a natureza e sobra o habitat, em que ele mesmo vivia.

Já na poesia Machadiana, vamos nos defrontar freqüentemente com a presença de nativismo, exotismo e até nacionalismo. Parece que o autor escolheu os versos para equilibrar seu método. Foi impecável: Machado de Assis é dono de uma obra plural e sem par na literatura brasileira ( diria mundial).

A metáfora, diversamente utilizada pelo autor de Dom Casmurro, nos indica um pouco da alusão ao ambiente dentro dos personagens. Nas suas heroínas, Machado deixa claro características cariocas através dela. Em Iaiá e Capitu, por exemplo, é possível notar características ambientais por dentro de seus olhos. Os famosos “olhos verdes e de ressaca” de Capitu, nada mais são que uma alusão metafórica à encosta litorânea brasileira. Mas alguns críticos não viram isso.

Concluindo, Bastide prova aos leitores de seu brilhante artigo, que não é apenas descrevendo ortodoxamente um ambiente que se mostra o mesmo aos leitores. Ele está hoje no Homem, e principalmente no Homem Machadiano. Bastide vai fundo em seu argumento e nos propõe inclusive, tal qual ele próprio, sentir o sabor da maresia ao vento lendo Machado de Assis. Certamente essa impressão não seria praxe na obra de outros escritores, nem mesmo nas daqueles românticos detalhistas como Sthendall, Flaubert, Victor Hugo e José de Alencar, mas seria sempre evidente na magnífica obra de machado de Assis, o escritor que pintava quadros com as palavras.

Prof. Rodrigo Augusto Fiedler do Prado

Rodrigo Augusto Fiedler
Enviado por Rodrigo Augusto Fiedler em 05/08/2008
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