O MITO DO AMOR MATERNO

O MITO DO AMOR MATERNO

"Não deveria gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e de educá-los". (Platão)

As mulheres aprendem desde cedo que devem ter filhos, amá-los incondicionalmente e por eles sacrificarem-se (custe o que custar), entretanto, esta mentalidade nos foi imposta no decorrer dos séculos e as que abandonam seus filhos são as desnaturadas. Aquela mulher que opta por sua carreira é rotulada como egoísta e insensível – considerada uma “anormal”.

Quando nos deparamos com mães que pretendem entregar seus filhos para adoção, o primeiro pensamento vem em forma de julgamento e não de apoio. As críticas negativas surgem de todos os lados - muitas vezes fortes e cruéis porque a decisão delas é encarada como extremamente desumana e não parece justa com o bebê tão pequeno e indefeso.

A “falta” de amor e de vínculo concretizada pelo ato da entrega fere o curso da natureza como muitos pensam, mas nem sempre foi assim. Abordaremos a questão mais adiante.

Antes de qualquer julgamento, devemos entender os motivos que levaram esta mulher//mãe a optar pela entrega. Citamos alguns deles: não estar preparada para enfrentar as responsabilidades da maternidade, fator idade, falta de condições financeiras para proporcionar uma vida digna à criança, dentre muitos outros. Entretanto, inexiste compreensão e respeito quando a decisão é definitiva, razão pela qual, muitas fogem dos hospitais e abandonam o recém-nascido.

Podemos sempre verificar preocupação salutar com a criança em detrimento da mãe biológica (vista como figura má e sem qualquer escrúpulo - desnaturada). O bem estar e interesses da criança são priorizados a todo instante - como ela se sentirá, o que será dela, se viverá numa instituição ou será adotada, etc.

No momento em que esta mãe resolve entregar seu filho, ela sofre impacto emocional intenso ao contrário do que muitos pensam e aí surge o sentimento de perda, havendo a necessidade dela vivenciar o luto pelo período que for necessário. É fundamental que isso ocorra porque esta mãe precisa recuperar-se para seguir sua vida sem qualquer culpa. E caso a venha sentir futuramente, poderá contaminar e estragar as diversas relações que virá a ter.

Primeiramente, para ficar com o filho a mulher precisa sentir e desejar ser mãe, estar consciente das conseqüências da maternidade e da necessidade do vínculo com o filho, pois do contrário, a relação construída entre ambos não será boa – poderá ocorrer maus tratos, abandono psicológico, uso da criança como instrumento de defesa e manutenção financeira própria (exemplo: crianças em semáforos nos centros urbanos), dentre outros motivos.

Enfrentamos constantes transformações com o decorrer do tempo – e não seria diferente no que se refere a maternidade.

Maria Antonieta Pisano Motta, em sua obra “Mãe abandonadas: a entrega de um filho em adoção” – 2ª edição, nos ensina que no século XVIII, era comum o desapego com o filho nascido e isso resultava em inúmeros abandonados, entretanto, no final do referido século, o mito do amor materno foi priorizado por motivos econômicos e as francesas foram convocadas a procriar e cuidar de seus filhos a fim de que a França não fosse despovoada como pregava Montesquieu, Voltaire e Rousseau. “A criança adquiriu um valor mercantil, pois perceberam sua potencialidade como riqueza econômica e como garantia do poderio militar da nação” (página 66, obra citada).

O argumento de que a mulher nasceu para ter filhos e que sua companhia era fundamental para seu desenvolvimento (teoria freudiana) foi usado como instrumento político pelo Estado com o intuito de eliminar investimentos em creches e escolas infantis.

Não podemos negar a existência de vínculo e amor numa relação entre mãe e filho, entretanto, também não podemos negar sua ausência. Precisamos entender os motivos e apoiar a mãe que decide entregar seu filho, deixá-la bem confortável, inclusive no anonimato se essa for sua vontade, pois tais medidas podem evitar abandonos de recém-nascidos em caixas de papelão nas calçadas, matagais, rios e nos hospitais.

Aquele que condena a decisão da mãe biológica é tão culpado quanto ela porque incita na pratica de um crime que ela não tinha intenção em cometer e apenas o fez por pressões sociais.

É importante ressaltar que a criança “rejeitada” por sua mãe biológica, ao ser adotada por pais preparados, conscientes das suas responsabilidades, terá maior oportunidade de encontrar a felicidade, ser verdadeiramente amado, ter um crescimento saudável e normal do que se continuar com a mãe que foi influenciada por terceiros a continuar com o bebê e criá-lo com a promessa de um belo futuro entre eles. Lembremos que nem sempre o amor nasce com a convivência e a criança sempre refletirá perdas, inclusive de identidade.

O presente artigo visa, em poucas palavras, demonstrar o sentimento de uma mãe que entrega seu filho em adoção e esclarecer que elas não devem ser julgadas por sua decisão, mas simplesmente amparadas, compreendidas.

Bianca Stievano
Enviado por Bianca Stievano em 08/08/2008
Reeditado em 25/04/2011
Código do texto: T1118275
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