POR QUE MAIS UM LIVRO SOBRE ATEÍSMO?

POR QUE MAIS UM LIVRO SOBRE ATEÍSMO?

“Que concluir de tudo isso? Que o ateísmo é um monstro perniciosíssimo para os que governam, e igualmente para os estadistas em disposição, ainda que cidadãos inocentes, pois podem um dia ou outro ser elevados à boléia do poder. Que, se não é tão funesto como o fanatismo, é quase sempre fatal à virtude” (Voltaire)

Eu sei que os ateus não são mais os visionários que foram outrora e que minha visão de mundo não é tão singular. Muitas pessoas partilham de uma mesma opinião, mas não sabem como defender seu ponto de vista. Este trabalho é recente, embora minhas pesquisas já venham de uma longa data. Quero mostrar aqui todos os motivos que me levaram a tornar-me ateu, quero dar a pessoas como eu a força e os argumentos para defender sua posição, quero reivindicar nossos direitos na sociedade e rechaçar o preconceito dos poucos que lerem este livro, fazer com que pessoas que acreditam na existência de um ser supremo revejam seus conceitos, reflitam com sinceridade e admitam que temos nossos motivos para duvidar e quem sabe até partilhar de nossa opinião.

Não quero aqui causar polêmica como o fazem a maioria daqueles que estão ao meu lado, embora, como diz o próprio Voltaire, “o que já é bem difícil quando se quer dizer a verdade”. Agressividade é conduta de quem não têm mais argumentos. Não quero aqui afirmar dogmaticamente a inexistência de Deus. Quero mostrar à luz da razão que sua existência é racionalmente insustentável e que a fé ou os pressupostos morais supostamente adjacentes à crença em Deus não são razão suficiente para aceita-la. Não adianta afirmar, como Feuerbach, que Deus é apenas uma projeção que o homem faz de si mesmo, daquilo que vê de melhor em si mesmo em um ser supremo que as contêm elevadas ao infinito. Os crentes simplesmente dirão “Não é verdade. Foi Deus quem colocou no homem aquilo que havia de melhor nele, só que de forma limitada”. Pronto! Como convencê-los do contrário? Embora saibamos que eles estão errados, estaremos sendo tão dogmáticos como eles ao dize isso. É preciso fazê-los notar as incoerências internas dos seus argumentos, onde eles falham e estabelecer um critério onde ambos possam concordar. Não se pode exigir que todos os homens creiam, porque muitos simplesmente não crêem, mas não é demasiado presunçoso pedir para que pensem, pois todos os homens pensam – assim espero.

Aqueles que atacam o ateísmo, não atacam suas idéias, mas imprimem nele conceitos morais, ou melhor, imorais, que ele não contém. Existe ainda quem diga que os ateus se opõem à moral cristã, o que é um absurdo. Todos os ateus concordam que é errado matar e roubar, mas não concordam com outros preceitos cristãos, como que temos que amar a Deus sobre todas as coisas, ou que devemos guardar o sábado. Na verdade, todas as civilizações admitem que seja errado matar ou roubar, isso não é exclusividade dos cristãos nem dos judeus. Acontece que os crentes pensam que, mesmo os não cristãos, acreditam em um deus que irá castigá-los se não seguirem estes valores, já os ateus não acreditam em nada, não tendo nada a perder se não cumpri-los, tornando assim o ateísmo uma ameaça potencial. No entanto, o que o ateísmo ensina, embora de forma tácita, é que devemos fazer o bem por ele mesmo e não por medo do inferno ou pela promessa de uma vida eterna e feliz. Os próprios judeus não acreditavam nestes conceitos. Em nenhuma parte do Antigo Testamento existe algo que afirme a existência do paraíso ou do inferno. Eles faziam o bem apenas por temor de um castigo imediato. Sendo assim, as leis podem muito bem cumprir esse papel.

Além de vincular o ateísmo como anticristão e imoral, ele é muitas vezes associado a conceitos que a princípio não lhe são próprios. Durante a Guerra Fria, o ateísmo era associado ao socialismo. Por conta disso, nos Estados Unidos, os ateus eram descriminados como sendo socialistas conspiradores contra a liberdade e o governo norte-americano, o que levou George Bush (pai) a dizer, durante a campanha para presidente em 1987, que não sabia “se ateus deveriam ser considerados como cidadãos nem como patriotas. Essa é uma nação sob Deus." Isso revela o preconceito e a intolerância do povo norte-americano. Se um candidato habilidoso diz uma coisa do tipo é porque têm o apoio da população. No Brasil, que se orgulha da sua tolerância religiosa e do seu vasto sincretismo, as coisas não são muito melhores para os ateus. Peguei este depoimento no site http://www.ateusbrasil.hpg.ig.com.br/folhas/textos/somosateus.htm:

“O caso da família Heuser, do Rio Grande do Sul, é emblemático. Asa Heuser, hoje com 45 anos, mudou-se recém-casada para a cidade de Tenente Portela, no interior gaúcho. Ela e o marido não acreditavam em Deus – Asa, de origem finlandesa, havia inclusive sido criada numa família ateísta há várias gerações. Ao chegarem à cidade, no entanto, resolveram entrar para a igreja luterana. ‘Ficamos com medo de ser rejeitados pela sociedade local se nos declarássemos ateus. Além disso, meu marido, que é veterinário, poderia perder clientes’, conta Asa. Os três filhos do casal foram batizados na fé luterana. Hoje, eles se orgulham de formar uma família 100% ateísta, e assumida”

A minha militância é para fazer as pessoas pensar nesta forma de preconceito e fazer os que ainda têm capacidade de pensar refletir um pouco acerca do problema de Deus. Por isso dividirei o livro em duas partes: a primeira, onde mostrarei que a existência de Deus é impossível, ou pelo menos improvável, e que não temos motivos nenhum para crer nela senão a fé simples e cega; e a segunda, onde demonstrarei que é possível levar uma vida ética mesmo sem religião e que é até melhor fazer o bem sem pensar em recompensas eternas em um lugar lindo e feliz ou por medo de uma punição severa. Voltaire é um filósofo que admiro muito, no entanto ele muitas vezes apenas repetia os preconceitos do seu tempo. Por isso comecei o texto com uma frase dele, justamente para terminar com outra, onde ele revela por que sua tolerância foi tão respeitada e admirada:

“Havia-se Hobbes por ateu: entanto viveu tranqüila e inocentemente. Os fanáticos de seu tempo ensangüentaram a Inglaterra, Escócia e Irlanda” (Voltaire)

Igor Roosevelt
Enviado por Igor Roosevelt em 13/08/2008
Código do texto: T1126121
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