Ainda vale a pena ser professor

Ainda que o magistério seja para alguns, apenas um meio de ganhar o pão de cada dia e, para outros, um mero “bico” para complementar a sua receita, para uma grande maioria docente ele ainda representa um ideal de vida, um compromisso com a transformação, o progresso, o desenvolvimento da sociedade e a dignidade da pessoa humana.

Para os primeiros, o dia do professor – 15 de outubro – , sempre foi um marco de “lutas” por melhores salários, condições mais dignas de trabalho, redução da jornada e por outras reivindicações de natureza profissional. Esses atos os tornaram conhecidos como profissionais da educação, coisa que de muito se orgulham. O Mato Grosso, diga-se de passagem, tem no SINTEP, um dos mais atuantes sindicatos de professores, responsável por memoráveis conquistas sociais para a classe. Mas, apesar disso, na visão demonstrada pelos atos desses profissionais sindicalistas, educação é profissão regulamentada por lei, com direitos e obrigações definidas e limitadas pela norma legal. Tem, por exemplo, hora para ser feita: doze, vinte, trinta, quarenta, quarenta e quatro horas semanais. Tem valor pecuniário. Isso faz com que alguns trabalhem até vinte horas a mais por semana para também ganhar mais. Isso quer dizer que é realmente um trabalho feito por dinheiro. Entre os requisitos para fazer parte do grupo está o ter um diploma, encontrar uma vaga e ter algum conhecimento para ser vendido, mesmo que não sirva para modificar em nada a vida dos seus alunos-clientes. Como os marqueteiros, eles também estão entre os sofistas do século XXI.

Para os últimos, a educação é a sua alma, a sua vida, a sua missão. Como os simples profissionais da educação, eles também sofrem com as condições indignas de trabalho que lhes são oferecidas. Mas, embora participem igualmente dos movimentos profissionais da classe, não fazem deles a sua principal bandeira de luta. Antes de tudo, pensam nos “seus” alunos, naqueles que estão fora da escola, naqueles que começam e depois desistem, naqueles que não conseguem se integrar no processo produtivo, no mercado laboral e, conseqüentemente, naqueles que são marginais da sociedade. Podem também ser tachados de profissionais da educação, mas, com certeza, seu labor não é uma mera prática da profissão. Eles são educadores. Seu trabalho não consiste em mera transmissão de conhecimentos e reprodução do saber que está posto. Não ensinam papagaios, ensinam gente. Agem em prol da mudança e da transformação social. Esperam por utopias, por um dia em que cada um de seus alunos possa fazer do conhecimento que adquiriu sob sua orientação, um instrumento de defesa e de minimização das desigualdades sociais. São semeadores de sonhos e cada uma de suas palavras é um germe da esperança de melhores dias para seus alunos.

Os simples profissionais da educação querem ganhar dinheiro. Assim, se promover seus alunos sem conhecimento deixam esses felizes, então eles promovem, porque para eles tanto faz como tanto fez se esses vierem ou não se dar bem ou mal na vida em sociedade. Já os educadores têm outras preocupações. E, às vezes, até retém um ou outro aluno por mais um período, por entender que ele ainda não está em condições de prosseguir e conseguir fazer a sua inclusão social. Se o avançar não incluir, então é melhor não avançar. O motivo daquele um é apenas o vil metal; o deste, acrescenta o compromisso com a socialização.

Pelo fio desenvolvido nessa meada, não vemos nenhum problema em sermos profissionais ou em sermos classe, mas não podemos, em hipótese alguma deixar de ser educadores. Eu sou, inclusive, um dos associados e mantenedores do SINTEP/MT, mas não concordo com uma atitude meramente profissional e tenho o direito de oferecer o contraditório, até mesmo para que possamos aperfeiçoar o processo. Penso como o Prof. José Carlos Iglesias, o qual, no artigo “Enfim, e o que é feito da esperança?”, recentemente publicado, declarou que, “no altar da educação devemos depositar toda nossa esperança de vida, que tenha como resultante um porvir de amor e fraternidade eternos para todos nós”. São idéias e ideais como esse que tem feito e continuará fazendo a diferença entre o simples profissional e o educador, mostrando que, apesar dos pesares, ainda vale a pena ser professor. Antes tarde, do que nunca. Aos meus colegas de magistério e aos nossos verdadeiros mestres, parabéns!

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Izaias Resplandes de Sousa é professor de Matemática e Pedagogo, atualmente graduando em Direito pela UNICEN de Primavera do Leste, MT.