Há muita fome no mundo

José Manuel Barbosa

Uma rapariga adolescente fijo-me um comentário de sobremesa o outro dia num jantar: “Nom haverá cousas mais importantes nas que empregar esforços e dinheiro do que fazê-lo polo galego? Há gente que passa fame no mundo!!

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A rapariga, adolescente luzida e inteligente tapou a minha boca com uma manifestaçom rotunda e categórica para além de verídica e real perante a minha paixom galeguizadora acrescentada com uns quantos anos de compromisso linguístico. A sua lógica feita com a visom realista das cousas duma nena de 16 anos que começa a ver o mundo tal qual é trouxo-me à realidade.

A sua ideia simples mas impecável levou-me a cavilar toda a tarde e nom pudem mais do que dar-lhe a razom finalmente. Pensei que países como Uganda ou Tanzânia, Zimbabwe ou Namíbia têm prioridades mais importantes do que desterrarem o inglês dos seus territórios para fazerem das suas múltiplas línguas nativas instrumentos de cultura, comunicaçom ou criaçom literária.

É assim como neste caso o inglês se fai a língua mais poderosa do planeta; porque os pobres orçamentos desses países nom vam destinados para a normalizaçom do swahili ou o hotentote mas para erradicar a fome, vacinar as populações contra enfermidades que nom conhecemos na Europa polas nossas condições higiénicas e de salubridade ou ensinar a ler às crianças para elas poderem ver um futuro de maior qualidade de vida nos seus países.

Já o dizia Jordi Pujol a respeito do catalám: “O catalám custa dinheiro”. Tinha razom o velho dirigente catalám, como razom tem a rapariga, mas evidentemente Catalunha nom é Uganda e a fome como mal social endémico nom existe, como também podemos dizer que o seu sistema de saúde é dos melhores da Europa que é como dizer que está entre os melhores do mundo.

Catalunha pode portanto permitir-se o luxo de investir na sua língua milhões de Euros e fazer com que o catalám seja uma língua de cultura, arte, comunicaçom e seja aliás elemento gerador de riqueza material ao existir com isso a possibilidade de que haja um mercado linguístico que crie e agilize o movimento económico e enriqueça os catalães.

Por outra parte o Reino da Espanha ingressa aproximadamente um 15% do seu P.I.B. graças ao castelhano por ser esta a língua oficial de 22 países do mundo e um total de mais de 400 milhons de utentes. A política linguística da Espanha a respeito do espanhol é por isso geradora de riqueza material fazendo da língua de Cervantes uma das mais prósperas do mundo do ponto de vista criativo, cultural, artístico e literário mercê a um mercado amplo que lhe dá umas possibilidades importantes a respeito doutras línguas de países com mais poder político e económico.

No que diz respeito da Galiza podemos dizer com total tranquilidade que também nom somos Namíbia; também nom passamos fomes, nem andaços embora nom sejamos tam desenvolvidos como a Catalunha pois vivemos numa conjuntura económica europeia que nos fai ricos com referência ao contexto mundial embora pobres dentro do contexto europeu.

Para além de todo isto a Galiza tem uma política linguística que polo menos na teoria -e digo na teoria- vai destinada para fazer do galego essa língua de cultura, arte e comunicaçom que sonharam os nossos grandes galeguistas e que nom só fosse usada por razons de voluntarismo patriótico ou fervor nacionalista mas também por gerar riqueza material com o qual a nossa gente se sentisse achegada a ela por algo mais do que por sentimentalismo neo-romântico.

Mas também Galiza nom ingressa o 15% do seu P.I.B. pola sua língua, mais bem neste caso tem um índice negativo. A Junta da Galiza perde dinheiro por causa do galego de tal jeito que se as nossas instituições deixassem de investir na língua (ou contra ela) o nosso P.I.B. subiria 2 ou 3 pontos. Essa situaçom dá asas e argumentos a pequenos colectivos que se organizam para atacarem o galego, reivindicarem o direito de ignorarem-no e agirem para que este desapareça do nosso país. Hábil política linguística que nom mata mas dá para que morra.

Curiosamente, ou por acaso, o galego é reconhecido por linguistas, filólogos e cientistas como uma das três variantes do sistema linguístico galego-português (galego, português lusitano e brasileiro), falado por quase 320 milhons de pessoas por todo o mundo e os cinco continentes; é oficial em 10 países, co-oficial desde o 2007 na antiga Guiné-Equatorial espanhola, segunda língua de Uruguai; segunda língua latina em número de utentes depois do espanhol, por acima do francês, do alemám e do italiano em extensom territorial e humana; terceira língua europeia depois do inglês e do espanhol, quinta do mundo depois do chinês, hindi, inglês e espanhol; língua oficial da ONU, da EU, Mercosul, Unidade Africana...

Com uma política linguística acertada e focada nom só para a sua sobrevivência mas também para o seu florescimento, com um bom tratamento filológico e linguístico, adaptando a norma a esta realidade científica tam favorável quiçá nom chegaríamos a ingressar o 15% do P.I.B., (ou sim?) mas sim o 8% ou o 10% ou o 6% com o qual a nossa língua geraria riqueza material para além de cultural. E digo eu: Nom haverá cousas mais importantes nas que empregar esforços e dinheiro em vez de gerar gastos e perdas por causa dum modelo de normalizaçom que mata e inutiliza fornecendo de argumentos a pequenos grupos muito ideologizados que trabalham para bani-lo da Galiza? Nom estamos para deitarmos a casa pola janela. Há muita fome no mundo!!!

Jomaba
Enviado por Jomaba em 17/08/2008
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