José Antônio, Paulo Vannuchi, Tarso Genro, Dom Helder Câmara...

Ao psicólogo maracaiense José Antônio da Silva

Na última quinta-feira, 7 de agosto, a União Maracaiense de Associações Comunitárias (UMAC), em parceria com o “Jornal de Assis”, as Secretarias Municipais de Cultura e de Saúde de Maracaí e a Avon, promoveu uma importante conferência sobre os dois anos de vigência da Lei Maria da Penha.

Ministrada por Olga Mattioli, professora emérita da Universidade Estadual Paulista e coordenadora do Núcleo de Estudos de Violência e Relações de Gênero, a palestra abordou pormenorizadamente a história da violência e, mais detidamente, a da violência contra a mulher.

Antes, durante e depois do evento organizado pela UMAC, sob a coordenação de José Antônio da Silva, psicólogo especialista em Saúde Mental e Coletiva e Assessor de Direitos Humanos da UMAC, os ministros Tarso Genro e Paulo Vannuchi, respectivamente titulares das pastas da Justiça e dos Direitos Humanos, reivindicavam punição contra os torturadores do regime militar brasileiro (1964-1985).

Todos temos responsabilidade, mas os que detêm o conhecimento acadêmico, a percepção das patologias sociais e o poder simbólico têm a obrigação moral e universal de lutarem por aqueles que, consciente ou inconscientemente, não possuem força ou discernimento para a transformação da sociedade.

As concepções teórico-acadêmicas e as iniciativas pragmáticas alçam José Antônio da Silva, em âmbito local, Paulo Vannuchi e Tarso Genro, numa perspectiva nacional, ao mesmo patamar de pessoas da grandeza de Dom Helder Câmara que, detendo o exercício simbólico do poder em decorrência do cargo eclesiástico, lutou em defesa das liberdades de expressão, da democracia e do respeito incondicional aos direitos do Homem.

Diferentemente de tantos colegas que se omitiram ou eventualmente apoiaram a ditadura militar, Dom Helder Câmara – assim como Dom José Maria Pires, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Pedro Casaldáliga ou os primos Lorscheider – denunciou e combateu corajosamente as barbaridades cometidas pelos agentes estatais em pleno regime de exceção.

No caso local, a atuação do psicólogo José Antônio da Silva, presente nas cidades de nossa região – orientando ações de Organizações Não Governamentais em cidades como Assis, Ibirarema ou Paraguaçu Paulista, além de sua intensa atividade em Maracaí, fundando, supervisionando e brigando pelas Associações de Moradores, pelo Grupo Civil de Orientação e Prevenção à Aids de Maracaí, pela Associação de Deficientes de Maracaí, pelo Centro de Recuperação do Alcoólatra (CEREA), entre outras entidades – representa o distanciamento do discurso ineficiente e a aproximação da prática altruísta, privilegiando a compreensão da condição humana. José Antônio não fugiu à responsabilidade inerente àquele que possui o conhecimento e, consequentemente, à responsabilidade de transformação.

Hélio Bicudo, em seus tempos de promotor de justiça, avançou nas investigações dos grupos de extermínio comandados por policiais e, de maneira lúcida, denunciou os envolvidos nos crimes. Militante dos Direitos Humanos e do Partido dos Trabalhadores, Bicudo abandonou o PT e o governo Lula depois da ascensão de interesses contrários aos Direitos Humanos.

Se os empecilhos enfrentados por Hélio Bicudo afastaram-no da política partidária, os mesmos empecilhos impulsionaram alguns raros políticos petistas comprometidos com os Direitos Humanos. Uma das principais queixas de Bicudo eram a demora e a timidez – ou covardia? – do governo Lula na abertura dos arquivos da ditadura militar (1964-1985).

Se por um lado a demora na abertura de arquivos continua, a timidez – ou covardia? – é substituída pela coragem e amplia o leque de debates, solicitando não apenas a abertura dos arquivos, mas igualmente a punição de torturadores do execrável regime autoritário. Agora nos resta observar os desdobramentos das iniciativas de Paulo Vannuchi e Tarso Genro. Pelo menos, dois ministros desse governo trabalham seriamente e não se deixam abalar pelas picuinhas políticas.

Quando vejo as iniciativas de José Antônio da Silva, de Paulo Vannuchi, de Tarso Genro e de brasileiros cônscios e responsáveis na transformação social do país, imagino a Esperança como um pássaro guerreiro: sofre, abala-se, tentam massacrá-lo ou silenciá-lo, mas suas forças multiplicam-se mesmo que o Sol esqueça de brilhar ou a melancolia estoure os peitos mais alegres. A Esperança estronda as barreiras intransponíveis para sussurrar que a espera amargura, porém a recompensa do vôo mais alto permite a visão acima das nuvens e renova a beleza da vida.

*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 15 de agosto de 2008.