Em busca do invisível

Tomar decisões é atividade típica da personalidade humana. Desde que nascemos, adquirimos personalidade jurídica a qual nos concede uma aptidão para exercer direitos e contrair obrigações, o que nos leva a ter que tomar e exercer decisões. Algumas são mais fáceis, outras mais difíceis, mas nenhuma delas é prescindível. E cada vez que tomamos uma decisão vamos formando a nossa identidade. Nós somos aquilo que decidimos ser, fazer ou agir. Ou seja, o que nós somos é conseqüência direta de nossas ações. Outras pessoas podem até nos dar sugestões, nos orientar, mas quem vai tomar a decisão e assumir as conseqüências dela decorrentes somos nós. Não será possível jogar a culpa nos outros. Teremos que assumir e fazer o nosso ato de contrição: "por mea culpa, mea tão grande culpa, mea máxima culpa". Enfim, nós somos os únicos responsáveis pelo que somos.

É claro que nós vivemos querendo jogar a culpa de nossos erros e fracassos em cima dos outros, porque é mais cômodo. Mas isso não resolve a questão, apenas faz uma aparente transferência de responsabilidade, que na verdade não se dá, posto que somente nos livraremos dos nossos problemas, quando nós mesmos conseguirmos solucioná-los, demonstrando maturidade e crescimento. E quanto mais cedo, melhor. Pessoalmente, demorei muito a cair na real a respeito da minha pessoa e a assumir a responsabilidade comigo mesmo, mas a minha vida somente sofreu mudanças positivas quando eu entendi que ela era um problema meu e que se fosse uma droga, eu seria o único culpado por isso estar ocorrendo. Então reagi e passei a buscar o que era melhor para mim; comecei a construir o meu mundo, as minhas crenças, a minha fé e os meus sonhos. O mais gostoso de tudo foi descobrir que eu poderia ter isso, desde que buscasse encontrar.

E assim vai a nossa vida. A cada dia que passa vamos tomando decisões mais conscientes, consistentes e maduras. Vamos envelhecendo. Aliás, peço que me desculpem pela redundância, porque evidentemente, todos nós estamos envelhecendo e a cada segundo que passa é um a menos em nossa vida terrena. Tomar consciência disso significa perceber a nossa volubilidade e fluidez. "A vida passa, tudo se acaba", diz uma canção. E nós... Não podemos simplesmente deixá-la passar sem tirarmos dela o máximo de proveito, de benefícios e de préstimos do que ela nos oferece . A vida tem tanta coisa boa, embora também haja muito de ruim espalhado ao longo de seu percurso e que muito das vezes nos impede de ver o belo, de senti-lo, de apreciá-lo e de absorvê-lo. Isso apenas aumenta a nossa responsabilidade. Temos que saber distinguir o joio do trigo, o que vale do que não vale a pena. Temos que aprender a examinar tudo e reter o que é bom. As nossas decisões não podem ser simples impulsos. Devem ser pensadas e analisadas. Deve ser produto da nossa melhor e mais apurada reflexão racional. Então serão decisões consistentes e que alicerçarão a construção do nosso mundo e da nossa vida.

A maioria das pessoas vive em função do sensível, do imediato e do visível. Só vêem o que está na ponta do dedo, não conseguem ver mais longe, o que as tornam muito limitadas. Precisamos ir além dos sentidos, às entrelinhas, ao que não foi dito, que não foi mostrado. O que pode ser visto é o que já está decidido. Só poderemos tomar decisões sobre o que ainda não foi tomado. Isso é difícil, mas somente seremos alguém ou alguma coisa, se nós conseguirmos decidir de forma inédita. O sensível e o visível podem ser os pontos de partida, mas o alvo, a reta de chegada será sempre o invisível, o ainda não pensado, o não vislumbrado e que somente será produzido pela nossa inteligência criadora. Então seremos, na verdadeira extensão do verbo ser. Seremos alguém e seremos felizes.

Izaias Resplandes de Sousa é membro da UPE – União Poxorense de Escritores.