Laboratórios de informática

Estamos vivendo a chamada era da informação e do conhecimento. Nunca tivemos tanta informação como temos agora. Diante de tão grande quantidade, a atual geração necessita de ferramentas com alta capacidade para processa-las e transforma-las em conhecimento útil para cada indivíduo. Precisamos de mais laboratórios de informática em nossas escolas, para que nossos alunos possam extrapolar o campo das teorias que tanto ouvem nos auditórios escolares e experimentar os futuros campos de trabalho que os “labore”-tórios podem proporcionar-lhes. O uso das novas tecnologias não pode mais continuar sendo utopias para a comunidade escolar, notadamente para a pública onde essa realidade é mais acentuada, principalmente porque aqueles laboratórios que foram implantados em algumas escolas estão funcionando precariamente, por falta de preparação dos professores-usuários e de manutenção das despesas, o que equivale a mandar comer e não dar o pão. As escolas-auditórios, movidas a cuspe e giz, lamentavelmente, é um passado que ainda se faz presente em nossos dias, por conta de uma interpretação de educação, hoje superada, que confundia conhecimento (produto e-labore-tariado) com informação (produto falado) e que não sai de cena, apesar das novas teorias vigentes e das tecnologias inventadas. É como se só nós estivéssemos parados no tempo, enquanto tudo caminha a passos largos a nossa volta.

Vejamos a história. A grande missão da escola sempre foi a de propiciar ao educando a aquisição do conhecimento, através dos múltiplos meios postos à sua disposição. No afã de possibilitar que a humanidade tivesse cada vez mais conhecimento, o homem investiu maciçamente no processo das comunicações. Saiu de uma época em que a informação conhecida era apenas aquela que circulava no perímetro da aldeia, vila ou povoado e avançou para a época da informação instantânea de tudo o que se passa nos quatro cantos do planeta, transformando o mundo em uma aldeia global, onde toda informação, por mais fútil que seja, pode ser disponibilizada para todos. Para que isso acontecesse, milhares de laboratórios estiveram funcionando a pleno vapor em todo o mundo, com os cientistas pensando, experimentando, pesquisando e criando formas e fórmulas cada vez mais avançadas e sofisticadas para atender aos reclames da humanidade sedenta de informação. Foi nesse contexto laboratorial que surgiu o computador como o grande instrumento de mediação da informação. Ele foi criado para processar com a maior rapidez possível, todo o volume de informações sobre os conhecimentos produzidos pela humanidade. A sua utilidade é tamanha, a ponto de podermos afirmar que sem a utilização de seus mecanismos de filtração, a montanha de informações produzidas diariamente em todo o mundo, com toda a certeza, seria desprovida de valor, por estar inacessível. De forma que precisamos não de um, mas de vários laboratórios de informática, para que possamos processar os esforços das gerações passadas, representados por essas informações e assim talvez consigamos descobrir alguma coisa que possa melhorar a qualidade de vida do ser humano no universo. Caso contrário, corremos o risco de sermos os responsáveis pela formação de uma geração com um nível de informação jamais visto em toda a história precedente, mas, paradoxalmente, também com o mais baixo nível de conhecimento de todos os tempos. Sim, porque ter a informação não significa ter o conhecimento.

Durante décadas, informação e conhecimento foram vistos como denominações diferentes para o mesmo assunto. Por conta disso, tradicionalmente o processo educacional era visto como sendo a “transmissão de informações”, onde o professor falava e o aluno aprendia. (Aprendia ou decorava? Sim, porque, segundo o professor Amaral Fontoura, aprende-se o que interessa; o resto, decora-se para passar nos exames e se esquece no dia seguinte). Baseado nessa concepção, os pesquisadores contemporâneos criaram uma gama de programas, cuja principal finalidade é propiciar a informação/conhecimento que o estudante precisa. Nesse sentido, o computador estaria sendo pensado como uma espécie de professor tradicional eletrônico, o qual, inclusive, poderia substituir com sucesso o professor humano. É evidente que aos professores que viam a educação nessa concepção tradicional, o computador era um perigoso adversário ao seu emprego e deveria ser mantido à distância da escola a qualquer custo. Mas voltando ao cerne do problema, o que temos aqui é uma questão já superada. Sabemos hoje que informação e conhecimento são elementos distintos e complementares do processo educacional. O conhecimento é resultante do processo de análise e apropriação da informação. Informação sem análise não é nada; informação analisada é mera informação; e, somente a informação analisada e apropriada pelo analista e que for incorporada ao conjunto das apropriações anteriores é de fato conhecimento.

A missão do professor não é a de simplesmente transmitir conhecimentos. Essa foi a concepção superada do passado. Sua missão é a de mediador da aprendizagem, cabendo-lhe selecionar e apresentar aos seus alunos informações que ao seu ver sejam significativas e que possam despertar o interesse dos mesmos pela apropriação. Esse planejamento da aprendizagem é algo inerente ao homem, que sofre, que é feliz, que sente e que tem emoções. O computador pode ajudar o homem nessa atividade, mas não pode substituí-lo. Após o planejamento, vem a apresentação e novamente o professor pode e deve usar o “multi-mídia” para enriquecer a sua aula. Quanto melhor e mais convincente for a apresentação das informações, tanto mais eficiente será o professor. Assim sendo, o computador já não é mais um rival, senão um aliado que deverá ser utilizado pelo professor para fazer com que a sua apresentação seja bem sucedida. Para concluir, poderíamos dizer que o sucesso do educador é medido não pela quantidade de informações apresentadas aos seus alunos, mas pela quantidade de informações apresentadas e que forem transformadas em conhecimento e apropriadas por eles.

Mais do que nunca precisamos de laboratórios de informática em nossas escolas, para que as informações apresentadas pelos professores possam ser dissecadas, digeridas e deglutidas pelos alunos, produzindo modificações comportamentais. Os computadores são ferramentas que servem aos dois lados: aos professores, para apresentar de forma magistral as informações; e, aos alunos, para analisa-las, interpreta-las e subtrair delas o que realmente vale a pena incorporar e eliminar o que for considerado desprovido de valor. O que não podemos admitir é estarmos no centro dessa mais fantástica evolução no processamento da informação e ficarmos marginais de tudo isso. De forma que a ordem do dia é uma só: laboratórios já, em todas as escolas e em quantidades suficientes para atender a demanda de professores e alunos, principalmente destes, para os quais a escola foi arquitetada e implementada.

_______________________________

Izaias Resplandes de Sousa é pedagogo e professor na Escola Pe. César Albisetti em Poxoréo, MT e concluinte do curso de Matemática da UFMT em Primavera do Leste, MT.