O inverno

Assim diz o Senhor: “Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gn 8:22). E assim, pelo que sabemos, vem acontecendo desde que o mundo é mundo. É o que ocorre agora no hemisfério sul, desde 21 de junho e que perdurará até 23 de setembro.

De todas as estações do ano, certamente o inverno é a mais rigorosa. Tudo seca à nossa volta, até o ar. É nessa época que costumam acontecer as queimadas. Qualquer faísca, qualquer brasinha já é suficiente para começar um incêndio. Então a fumaça toma conta de tudo, o ar fica pesado, torna-se difícil a respiração, surgem muitas doenças pulmonares. A natureza, igualmente, padece ante os rigores do inverno. Algumas árvores perdem todas as suas folhas, ou não resistem à sequidão e morrem.

No quintal de casa, temos muitas árvores. Nesse período elas requerem diversas regas. Bastou um pequeno descuido de nossa parte nos últimos dias e já estamos na iminência de perder algumas. Por isso estamos com cuidados redobrados em prol das plantas ameaçadas.

Tais quais as plantas, os homens também sofrem com o inverno, além das doenças respiratórias de que já falamos. Alguns lavradores, por exemplo, por causa da dificuldade, dos maiores cuidados exigidos pelas plantas, não cultivam nesse período. Então, quando o inverno se prolonga mais do que o previsto, muita gente morre por falta de provisões alimentares. Salomão conta um caso semelhante, dizendo:

“O preguiçoso não lavra por causa do inverno, pelo que, na sega, procura e nada encontra” (Pv 20:4).

Em alguns lugares do mundo, nessa época, até os animais ficam presos nos estábulos. Os camponeses têm que preparar provisões para sustentá-los durante todo o período. Aqui mesmo, em Mato Grosso, os pecuaristas preparam ração e forragem para garantir a sobrevivência de seus animais, porque tudo seca em derredor.

Mas, logo depois do inverno a coisa muda. Salomão registra o seguinte:

“Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi; aparecem as flores na terra. Chegou o tempo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira começou a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem”.

Então tudo se transforma. Os pastos voltam a ficar verdejantes e o ar fica leve e perfumado. Então sentimos vontade de cantar, de sorrir e de abraçar. Após o inverno vem a primavera, a mais linda das estações, com sua poesia e inspiração. Aquele que conseguiu sobreviver ao inverno, agora é um vitorioso e poderá desfrutar das regalias primaveris.

Do ponto de vista espiritual, as coisas se dão de forma análoga. Todas as pessoas começam a sua vida em pleno inverno, no meio de muitas lutas e sofrimentos. Tal é o estado inicial dos homens que ele é comparado à morte. Assim se posiciona o apóstolo dos gentios, ao dizer:

“Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2:1-2).

Também o profeta messiânico faz uma alegoria à vida da pessoa antes de conhecer a Cristo, dizendo que:

“Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho;” (Is 53:6a).

A vida de uma pessoa sem Deus é um verdadeiro inverno. Qualquer semelhança com inferno não é mera coincidência. Às vezes podemos obter vitórias, ter sucesso em algumas coisas, mas tudo acaba como o diamante nas mãos do garimpeiro. Vem fácil e vai fácil. Apesar de quase todos os garimpeiros já terem bamburrado, encontrando uma boa pedra, de valor considerável, a quase totalidade deles não melhorou de vida e continua a luta, na esperança de que a primavera não demore a chegar e que eles encontrem a fortuna que nunca vem.

As coisas sem Deus não duram. Não permanecem. A Bíblia relata o argumento sábio de Gamaliel a respeito da obra dos homens e da obra de Deus, em Atos 5:33-42. Na ocasião, os apóstolos foram presos por pregarem os ensinamentos de Jesus. Gamaliel chamou a atenção do Sinédrio em particular, dizendo-lhes que muitos haviam se levantado e realizado diversas obras, as quais não perduraram. O mesmo iria acontecer com aqueles homens, se Deus não estivesse por detrás de suas ações. Por outro lado, se eles fossem de fato emissários de Deus, ninguém poderia destruí-los.

Devemos aprender de Deus. Ele diz que os nossos pensamentos, não são os pensamentos dele. Paulo declara a respeito que:

“O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são pensamentos vãos” (1 Co 3:20). Por mais que pensamos ser capazes de administrar adequadamente a nossa vida sozinhos, nós não somos capazes. Não temos a sabedoria suficiente. Nós somos dependentes de Deus. Assim concluiu o rei Davi, um homem segundo o coração de Deus, dizendo:

“De Deus dependem a minha salvação e a minha glória; estão em Deus a minha forte rocha e o meu refúgio” (Sl 62:7).

Nenhuma pessoa precisa fazer de sua vida um eterno inverno, uma longa noite, um mar de dificuldades. Jesus é a solução de todos os nossos problemas. Ao fazer a sua mensagem àqueles que estavam desejosos de libertação, ele disse:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. (Mt 11:28-30).

A primavera bate as portas. Ela é uma linda figura de Nosso Senhor Jesus Cristo. E assim diz ele:

“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”. (Ap 3:20).

O filho pródigo que vivia um inverno rigoroso numa terra distante, ao deixar a casa de seu pai, que é figura da casa de Deus, reconhece que mesmo os empregados tinham uma vida melhor do que a dele. Ele se arrepende de ter decidido seguir a própria cabeça, as próprias idéias e resolve voltar, pedir perdão e fazer as pazes com seu Pai. Então ele fez como deveria ser feito. Foi até o seu pai, implorou o seu perdão e foi recebido por ele com muita alegria e festa.

Isso é o que Deus deseja para a nossa vida. Ele quer ser o Senhor. Ele não promete boas coisas para o rebelde, mas promete o céu para o arrependido. Assim Jesus disse para aquele ladrão que foi crucificado ao seu lado na cruz: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (23:43). Deus quer regar abundantemente a sua vida, para que ela brote, enverdeça e floresça, como árvore plantada junto a ribeiro de águas!

Viva a vida! Salve a primavera!

Izaias Resplandes de Sousa é membro da Neo-Testamentária de Poxoréo, MT.