CRIANDO PRÍNCIPES

Quando Maquiavel escreveu “O PRÍNCIPE”, sabia o que fazer para tornar um herdeiro enganador, mentiroso, ladrão, perpetuador de seu cargo e sobretudo querido pelos seus súditos.

O que talvez ele não soubesse é que lançava as bases oficiais para a criação dos príncipes atuais, verdadeiros reis do engôdo, que compram os parentes, amigos, enganam a sociedade e sua capacidade se concentra num só dom: enganar a todos, para levar vantagens.

Todos os pais gostariam de ver seus filhos queridos por todos, admirados pela sua competência e satisfeitos com a vida, mas como já repeti em diversos artigos, muitos não possuem a capacidade para conseguir tal intento. Assim tentam provar sua capacidade de amar e educar, fornecendo uma caneca para beber água na escola, que deixa qualquer coleguinha de boca aberta.

Apesar de serem instruídos sobre a melhor merenda escolar, escondem no fundo da lancheira as bolachinas que farão os colegas com uma sensação de estarem comendo lixo.

O sapato do rebento, mesmo que seja falsificado, brilha a ponto de cegar os professores.

Seu lápis contém grafites perfumadas, que impedem os professores de avaliar o analfabetismo do pimpolho.

À medida que o tempo passa uma nova preocupação surge: abastecer o filho com dinheiro que faltará para as rotinas caseiras, mas causará sucesso entre os colegas que verão o príncipe fumar cigarros caros, beberá cervejas importadas e para coroar um fuminho de maconha puríssima.

Aos poucos ele aprende que brigar na rua só se bater bastante no oponente, ou se tiver uma bela turma, que estrague qualquer festa, enchendo todo mundo de “porradas”.

Sexo? Começa logo; dando presentes para as meninas não contarem que sofre de ejaculação rápida.

Amor? Coisa para “boiolas”!

Filho? De preferência fora do casamento, coisa chata, que impede de ser livre.

Emprego? Com uma bela indicação dos tios, onde pulará de galho em galho, até que o patrão perceba que é preferível romper com o indicador ao cargo, que manter um fuxiqueiro, sabotador de todas as boas idéias. Adoram falar mal e destratar um dos progenitores, para ganhar as boas graças do mais consciente, mas certo de as brigas não levam a nada. Em compensação, quando estes pais morrerem, serão bajulados ao máximo, para esconder o extremo cansaço em que viveram, ponderando argumentos lógicos, desdenhados pelos príncipes.

Criação produtiva? Só de idéias megalomaníacas, impossíveis de serem implantadas.

Muitos acabam achando abrigo aconchegante na política, apadrinhado por corruptores que os pagarão a peso de ouro, para conseguirem indicações e dicas milionárias nos governos.

Um dia os pais se perguntarão: “Como ele se esqueceu de nós? Teremos que ir para o asilo, pois dilapidou nossos bens!...”

Para estes pais ofereço um consolo: É um sucesso inesquecível, com práticas de fazer Maquiavel sentir-se um aprendiz. Se tornará eleito para sempre, com slogans fantásticos, como: “Ele rouba mas faz!”.

Procurem ver no passado destas raposas se não seguiram os passos magistralmente ensinados pela família, sem um mínimo de bom senso?

O pior é perceber que hoje o que conta é: “Quanto fatura por mês?”, ao contrário de: “Quanto é capaz de produzir?”

Pessimista, eu?

Tenho pena da hora final destes infelizes, ingênuos, crendo que jamais se auto-avaliarão.

Olhe à sua volta. Se não for um príncipe, os identificará com facilidade.

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