O coronel suicida

No sábado vi pelos noticiários televisivos que ele, mais cinco outros militares e dois policiais foram indiciados a comparecerem ao tribunal na segunda-feira.

Responderiam pela morte da neta de um intelectual, cerca de trinta anos atrás, na época do Presidente Sanguinetti.

A tela mostrou um caucasiano semicalvo, rosto másculo na casa dos sessenta anos. Repórteres avançaram ameaçadores com seus microfones, como se fossem baionetas.

Enquanto descia as escadas e entrava no carro nada respondeu, mantinha um sorriso de Gioconda.

Acordamos por volta de dez horas da manhã de domingo, 10 de Setembro. Minha mulher gritou do banheiro pedindo que eu descobrisse qual era a temperatura lá fora, na cinzenta Montevideo. Liguei a televisão.

Não consegui ver os números Celsius no canto direito, embaixo da tela. Minha atenção foi desviada para que o locutor dizia. O coronel foi encontrado morto na garagem do edifício onde morava, com todas as evidencias de suicídio.

Admirei sua atitude. Cumprira ordens, mas tinha o livre arbítrio. Sabia que tinha errado e sabia qual preço a pagar. Nada de exposição de sua truculência, de sua bestialidade para servir de conforto ao êxtase banal do âmago masoquistas das massas.

O olho por olho só interessava à família da moça torturada e assassinada sob seu comando.

Admirei sua atitude de evitar gastos públicos com seu julgamento e depois com sua manutenção no cárcere. Assim como militar que serviu ao país, ele agiu como um bom cidadão e de uma maneira ética e honrada fez a única justiça a ser feita. E com as próprias mãos.

Junto-me aos místicos ao achar que ele sabe que arderá no inferno. E fará isso garbosamente. Minha admiração por ele aumentará ainda mais.

No momento sou um desonrado pelas negativas do crime premeditado e cometido por um cidadão que trai outros cidadãos que lhe conferiram o livre arbítrio para erradicar a pobreza, evitar a corrupção e servir com probo exemplo.

Qual canalha nacional "eleito pelo povo" teria esta atitude do coronel?

Eu ficaria honrado se me dessem a cidadania uruguaia. Pelo menos já teria um anti-herói sincero.