TEMPO DE ANGUSTIA

Há tempos venho observando como vivem presentemente os nossos jovens, pois, me preocupa, entre outros aspectos, a falta de valor que a vida lhes parece ter. Embora pareçam divertir-se para valer em suas baladas e outros eventos do gênero, percebe-se que muito dessa alegria é falsa, já que é movida a álcool, energéticos e outras drogas similares ou mais mortíferas. Paira uma estranha euforia no ar que, traduzido pelas suas posturas comportamentais no dia-a-dia, me fazem crer que eles, em sua maioria, na verdade sofrem de angústia e apreensão, desconfortos estes que podem levá-los a desenvolver distúrbios mais graves de caráter e vícios variados.

Quando mencionei este fato numa palestra, me foi indagado sobre quais seriam as razões desse fenômeno; quais seriam as suas causas? Dentre outras, eu prefiro me ater àquela que considero a mais importante, à educação familiar. É notório já há muito tempo o despreparo da maioria dos pais para educar seus filhos, parece-me até, que lhes falta, sobre tudo, maior entendimento e comprometimento com essa que, sabemos todos, é uma árdua, mas, ao mesmo tempo, essencial tarefa. A realidade de hoje é, por exemplo, diferente de 30 ou 40 anos atrás. Atualmente há muito mais informações disponíveis e, em virtude disso, não é possível realizar uma boa educação sem que se estimule, desde cedo, tanto a criança como o adolescente a pensar e formar um senso crítico para saber escolher aquelas informações que lhes serão mais úteis e saudáveis. Também não há como abdicar dos bons valores e práticas que antes norteavam a educação dos filhos, por força de uma pretensa modernização de costumes que, em grande parte, são nocivos à suas vidas.

É bem sabido, também, que alguns pais, sob a justificativa de “ter de trabalhar para ganhar a vida”, alegam falta de tempo para dedicar-se à educação dos filhos, como se isso fosse suficiente para desonerá-los da responsabilidade educativa que, consciente ou inconscientemente, assumiram ao “colocá-los no mundo”, como se diz na linguagem popular. Ocorre que a questão não está unicamente ligada ao tempo propriamente dito, mas, à qualidade dele e da atenção destinada aos filhos; não basta prover suas necessidades materiais ou enchê-los de mimos supérfluos, se não lhes forem dados valores, bons exemplos, afetividade e limites, elementos fundamentais para que eles cresçam com maior auto-estima, façam melhores escolhas e valorizem mais suas vidas.

Há que se entender também que a apreensão e a angústia dos nossos jovens estão intimamente ligadas à insegurança que sentem em relação à vida presente e futura, à falta de uma estrutura emocional que, a princípio, só uma boa relação familiar pode proporcionar. Por outro lado, não há como ignorar que o meio social também contribui com este quadro. Partindo das escolas, em todos os níveis e da grande mídia, por exemplo, o que há é uma grande incapacidade de transferir valores e estímulos que não sejam aqueles voltados para o imediatismo materialista. Até mesmo a maioria das religiões não tem conseguido transmitir um discurso verossímil que os convença da importância da espiritualidade em suas existências. Então o que lhes sobra é o vazio. E esse vazio que os faz agressivos, revoltados e confusos acaba por lhes dirigir a existência rumo a fontes passageiras de ilusões, ao mesmo tempo em que lhes abre as portas das práticas autodestrutivas.

Enfim, nesse infeliz contexto o que chama mais ainda a atenção, é a cegueira que acomete, além da maioria dos pais, os educadores, os que detêm algum poder político, enfim, a sociedade em geral, que inertes assistem a esse trágico espetáculo como se tudo estivesse na mais perfeita ordem... Em sendo assim, ficam as questões: Não será a angústia que acomete os nossos jovens, fruto da nossa sociedade agonizante e corroída em seus valores essenciais? Não estamos hoje todos sofrendo desse mesmo mal?

Boa Reflexão para você.