Imposto Único - O buraco é mais embaixo...

Imposto Único - O buraco é mais embaixo... (26/06/1991)

A maioria vive de contemplação e paga o preço imposto sem entender o mecanismo, sem bússola confiável para nortear seu destino. Em todos os setores, público ou privado, existem bons e maus profissionais. Aqueles dispensam comentários; estes, no entanto, predominam no setor público.

O Ponto de Vista de Joaquim Fonseca Júnior (Revista Veja - 1991), referente à proposta do imposto único, do economista Marcos Cintra Cavalcante de Albuquerque, é algo que realmente nos faz meditar e, analisando profundamente o efeito cascata positivo provocado - na verdade a reversão do efeito cascata negativo acumulado através dos séculos, vislumbramos nessa terrível escuridão em que vive a nossa economia, um facho de luz iluminando nosso horizonte financeiro para resolver de forma simples e objetiva os problemas aflitivos de um povo - na sua maioria simples e objetivo, vivendo e sofrendo o reflexo de medidas impostas pelo governo e pagando caro - muito caro mesmo, pela burocracia, pela máquina emperrada, pela ineficiência, pela corrupção, pelos roubos, pela impunidade, pela complacência dos governantes - devido à complicada situação que os mesmos são obrigados a administrar, movendo-se num labirinto escuro como um morcego - guiando-se apenas pelo reflexo e repercussão das suas próprias medidas e correndo o risco, inclusive, de sucumbir ante um obstáculo maior e inesperado que surja neste ângulo perigoso em que vive a sociedade como um todo e levar junto, a cada manobra frustrada para escapar dessa armadilha em que se encontra, esse povo aflito que na sua grande maioria vive apenas de contemplação e de esperança de um dia ver transformado em sonho esse pesadelo que vive e não compreende, pelo qual paga o preço que lhe é imposto sem entender o mecanismo com o qual convive, sem poder se livrar das correntes que oprimem o seu dia a dia, sem uma bússola confiável para nortear o seu destino, rumo a um futuro melhor para a geração atual e uma herança digna para as gerações futuras.

É preciso, como afirma J.F.Jr., abrir o debate no seio da sociedade, para avaliar prós e contras, e se realmente for viável devemos exercer a pressão necessária para a idéia vingar e refletir os efeitos desejados.

O país precisa realmente de mudanças radicais, porque o que se vê, por mais que se camufle, é um Estado falido. A começar pelos impostos, para simplificar um setor do governo (desorientado) e enriquecer a vida de um povo (desgovernado) e abrir o leque de opções para modificar, etapa por etapa, o sistema como um todo.

O governo precisa, antes de tudo, deixar de ser contra-producente. Em todos os setores, público ou privado, existem bons e maus profissionais. Aqueles dispensam comentários; estes, no entanto, predominam no setor público. Haja vista a fiscalização do comércio. A maioria dos fiscais, quando saem a campo, não estão preocupados apenas em constatar se o comerciante sonega. Estão empenhados, culturalmente, em praticar uma atitude mercenária, em detrimento das diretrizes da sua função e da própria economia popular.

Alguns guardas florestais, que deveriam apenas zelar pelas reservas do governo, se esquecem disso quando tem chance de engordar suas próprias reservas capitalizando a “vista grossa”. As concorrências públicas são mal elaboradas e gastam-se fortunas em projetos - simples ou complexos - como se o erário fosse carvão. Se o cidadão comum for flagrado queimando dinheiro será internado ou preso, mas o governo é excessão. Por que esse estado de coisas continua predominando? Porque Deus é brasileiro e não interfere diretamente nas coisas que o “homem” faz; apenas lhe dá o livre-arbítrio? Perdoa os seus erros e confia que um dia ele há de aprender... e começar tudo de novo?!

É preciso que as associações de bairro, as pequenas comunidades, enfim, as Câmaras Municipais, através dos seus representantes legais - os vereadores - se mobilizem em torno do problema e discutam a proposta. Afinal, trata-se da defesa de algo que atinge e diz respeito diretamente ao cidadão comum tanto quanto ao mais privilegiado. Todo cidadão é um contribuinte em potencial, embora a maioria não tenha consciência disso por não ter IRRF e não declarar rendimentos. O imposto único restituiria a dignidade à maioria dos brasileiros pois - guardadas as devidas proporções - situaria num patamar único grandes e pequenos, no cumprimento do principal dever do cidadão que é pagar impostos - para a máquina estatal existir e cumprir com eficácia o seu papel.

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 10/03/2006
Reeditado em 19/06/2006
Código do texto: T121236
Classificação de conteúdo: seguro