O INFERNO DE DANTE É AQUI !

O INFERNO DE DANTE É AQUI !

O poeta florentino Dante Alighieri nasceu em maio de 1265 e morreu de malária em 13 de setembro de 1321.

A Florença de Dante era uma cidade tomada pelo conflito entre brancos e negros. Os brancos eram da burguesia local, constituida principalmente por banqueiros e comerciantes, cuja única preocupação era ganhar dinheiro. Os palacetes dos ricos eram construidos de forma prática onde a estética dava lugar aos seus objetivos de acumular fortunas. No andar térreo ficavam as lojas para o comércio; no alto, as torres e bastiões para defesa. Tão logo os chefes de uma facção política eram banidos, os adversários lhes desmantelavam as casas. Era uma cidade em que não havia lugar para gentilezas, onde todos viviam sob a inquietação das ciladas e violências. Os negros eram a classe pobre e com eles se aliavam os trabalhadores mais humildes e os restos da antiga aristocracia feudal que compartilhavam o ódio pelos prósperos burgueses das lojas, dos bancos e das incipientes indústrias. As casas ficavam amontoadas e comprimidas entre si. As ruas eram estreitas e mal cheirosas com porcos e galinhas remexendo o lixo, jogado pelos moradores, à procura de comida. A cidade estava em permanente estado de escuridão: à noite não havia iluminação pública e de dia a sombras das casas, alinhadas e coladas entre si, impediam a luz solar. Quase não havia espaço livre, pois todos eram ocupados por moradias que mais pareciam fortelezas improvisadas.

Apesar das constantes discórdias, Florença era uma cidade próspera e o dinheiro circulava com abundância.

O início do século XIV foi marcado pelas constantes lutas pelo poder entre as famílias tradicionais. Todos os cargos públicos ficavam à mercê dos interesses políticos que geravam corrupção, subornos, peculato e gastos irregulares para garantir a permanência no poder.

Embora apaixonado pela bela Beatriz, em 9 de fevereiro de 1277, Dante, aos nove anos, casou-se com Gemma Donati, de mesma idade e de poderosa família nobre que lhe trousse um grande dote de 200 pequenos florins. A precocidade era parte dos costumes da época que faziam do casamento uma espécie de aliança entre famílias.

Foi neste clima de violência e insegurança que Dante viveu e produziu uma das mais célebres obras: a "Comédia" que em 1555 recebeu o aditivo de "Divina", passando então a chamar-se "A Divina Comédia". É um poema de viés épico e teológico da literatura mundial. O início de sua composição deu-se por volta de 1377 e foi concluido poucoa antes de sua morte em 1321.

Buscando na história, podemos fazer um paralelo com o que está acontecendo em nossos dias urbanos.

Nossas cidades estão tomadas por favelas e seus habitantes vivem em constante clima de terror e medo. O poder governante perdeu o controle. Estamos todos em um mar tempestuoso a caminho de iminente naufrágio. Nossas estruturas representativas perdem prestígio a cada dia. Os parâmetros adotados nas últimas décadas são fórmulas para capturar o espaço público e garantir o poder e enriquecimento ilícito. As estruturas de contestação social ocupam as ruas e estradas apenas para defender seus interesses pessoais. Nos partidos políticos, a oposição se molda de acordo com os interesses individuais. O regime federativo do país está contaminado pela banda podre e infiltrado pelas mais diversas formas de criminosos corruptos e corruptores.

Durante muitos anos assistimos pacientemente a migração de brasileiros do campo para as cidades. As periferias e os morros foram silenciosamente sendo ocupados sem nenhum critério de ordenação urbanística. Aos poucos as favelas foram tomando dimensões megalíticas sob os olhos omissos das autoridades. Em cada comunidade surgiram novas formas de poder com leis próprias. As crianças são educadas de acordo com as leis locais e até aprendem admirar o crime como a melhor forma de vencer na vida.

A estrutura governamental de segurança pública está dividida entre o bem e o mal, dando surgimento a organizações paramilitares _"milícias" - que fogem ao controle das próprias instituições a que pertencem.

Verdadeiramente, não conhecemos a vida na favela. Ali parece ter surgido uma nova classe social que se alfabetiza no analfabetismo das ruas e vielas com esgoto a céu aberto. O crime é a lei, o líder é o mais cruel e a miséria é estado permanente de viver.

O ideal de governo verdadeiramente representativo seria a consolidação de lideranças nascidas no seio dos partidos políticos, mas um partido não pode ser simbolizado por um único personagem, forjado no calor de uma conjuntura social adversa que, geralmente, acaba em atitudes ditatoriais como as que estamos assistindo em vários paíese da América Latina.

O que vemos é ausência de uma vontade política que atraia e incorpore a verdadeira indignação e descrença estampada na cara do cidadão que paga impostos e mantém as estruturas.

Nossa paralítica burocracia e falta de vontade política impedem medidas que possam criar os mecanismos necessários para atualizar as leis e evitar impunidades. O legislativo acomoda-se sob o véu da imunidade parlamentar. Fala muito, mas pouco faz.

O Judiciário aplica as antigas leis que impedem punições. Os crimes são cometidos, alguns julgados e seus autores, mesmo condenados, continúam soltos. Os presídios estão cheios de "ladrões de galinha" enquanto os grandes criminosos estão livres e praticando suas barbáries sem que nada seja feito.

Por tudo isto aqui é o Inferno de Dante!

"DEIXAI TODA A ESPERÂNÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS !". Dante Alighieri.

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Será que ainda estamos na Idade Média?

Será que é este o Brasil que queremos deixar para as nossa criânças?

Nicéas Romeo Zanchett - artista plástico

http://www.artmajeur.com/niceasromeozanchett

http://artesplasticas-artigosderomeo.arteblog.com.br

Romeo
Enviado por Romeo em 17/10/2008
Reeditado em 17/10/2008
Código do texto: T1233692