Coimbra: momento

Domingo fui a Coimbra. Tinha que tratar de documentos na Universidade, na segunda-feira. A viagem não foi má. Na automotora até à Guarda, observei o comportamento de um pai a braços com um filho e uma filha. Resumindo: uma grande barulheira e um comer de boca escancarada e riso alarve. Ai a família, Senhor, porque lhe dás tanta dor? Bem. A paisagem é linda. Agora, nos comboios, puxa-se do computador portátil, como se puxa do telemóvel. Já no Intercidades, um grupo de estudantes, a assistir a um jogo de futebol via Internet, creio, no meio da emoção e de gritos " O Tiago???", disse, um par de vezes, aquele vestuto palavrão terminado em alho! De regresso, no Inter até à Guarda, assisti a outras cenas familiares. Na carruagem de 1ª. classe, só vinha velhada (eu incluída). Um casal, em particular, chamou a minha atenção. O porte era aristocrático. Ele era bem mais frágil fisicamente do que ela mas, chegados ao destino, foi ele que reuniu a bagagem, trémulo, e lhe disse quando ela se devia levantar. Quando ela deitou a mão à sua malinha, muito feminina, ele disse-lhe: «Dá cá, eu levo. Agarra-te bem e tem cuidado com um fio no corredor (de um computador). Não caias.» E, se bem o disse, bem o fez, agarrou na malinha da mulher e seguiu-a, protector até à porta. É nestes momentos que a família faz sentido. Fiquei emocionada. Senti-me a criatura mais abandonada do planeta. Nunca ninguém agarrará na minha malinha para eu não tombar, desamparada, na carruagem balançante do comboio.

Estadia: vacas magras, hotel deprimente, mas limpinho. E agora o momento. Na baixa de Coimbra, com um céu lindo, límpido e vista sobre o Mondego, uma mulher jovem, linda, educada, tocava acordeão, com uma caixa por perto para recolher moedas. Eu queria dar-lhe não uma esmola, mas o pagamento justo pelo serviço prestado. Mas não sabia como fazê-lo. Ela tocava bem de mais. Andei para cá e para lá, ouvindo e até "traulitando" (homenagem ao Herman José) algumas melodias: sóbrias, lindas, hipnotizantes. Acabei por aproximar-me, colocar uma moeda na caixa e dizer-lhe: Muito obrigada menina, toca muito bem! Ela riu-se, agradeceu e continuou a tocar. Eu dei mais uma ou duas voltas, fiz umas compras e depois fui embora.

Ah, já agora, mais uma nota de cariz grosseiro. Os homens portugueses devem andar a fazer ginásio que se fartam. É com cada constituição física que se vê!...