NINGUÉM ENGANA A MORTE POR MUITO TEMPO

Desde pequeno conheço a estória do homem que, em busca de glória e fortuna, fez um pacto com o demônio. Tudo ia muito bem com ele - ficou rico e famoso - até que chegou a hora de pagar o preço do tal pacto, ou seja, entregar a sua alma. É claro que ele não estava disposto a fazer tal coisa, imagina, perder aquela boa-vida que levava para padecer no inferno...

Teve então uma idéia brilhante: fez plástica, trocou de nome e mudou-se para muito longe da sua cidade, na esperança de nunca ser encontrado pelo diabo. E por algum tempo foi bem sucedido, até o dia em que alguém bateu na sua porta. Ao abrir, deu de cara com ele, seu credor. Pensou consigo mesmo: "Ele não pode me reconhecer. É só

manter a calma e continuar a enganar esse trouxa."

Agiu como se nada tivesse a esconder, papeou animadamente com o diabo e, no fim, indagado se conhecia o senhor fulano de tal, seu antigo nome, respondeu que não, nunca ouvira tal nome. Perguntou como era o homem que o diabo procurava, e este descreveu alguém totalmente diferente dele. "Não, nunca vi essa pessoa na minha vida" disse o homem, ao que o diabo respondeu: "Sinto muito, mas não posso voltar de mãos vazias para o inferno. Já que não consegui encontrar quem procurava... Terei de levar você!"

Digo isto por conta da trágica história de Eloá, mantida cativa e assassinada pelo ex-namorado Lindemberg na última semana, em Santo André, grande São Paulo. O final da história todos conhecem, mas não quero falar sobre isso. Quero falar sobre o pai de Eloá, Everaldo Pereira dos Santos, que segundo a Polícia MIlitar de Alagoas, é um perigoso assassino do esquadrão da morte alagoano, que fugiu no início dos anos noventa de Maceió e se escondeu em Santo André, sob nome falso. Guardadas as devidas proporções, a história real deste homem lembra-me muito a estorinha sobre o sujeito que tentou enganar ao diabo. Durante anos ele viveu como sicário, deixando sabe-se lá quantas viúvas e órfãs em terras alagoanas. Fugiu, achando que poderia escapar do acerto de contas, mas esqueceu que quem vive pela espada acaba morrendo por ela, e aquele que semeia vento colhe tempestade. Ele tinha cheiro de morte, e mesmo anos mais tarde, essa mesma morte o localizou, em Santo André, a milhares de quilômetros de Maceió, em meio a quase vinte milhões de pessoas que habitam a grande São Paulo. E a morte é cruel. Seria fácil demais levá-lo embora, não, ela queria mais. Levou Eloá, sua filha, e através dela, revelou ao país inteiro quem era de verdade aquele homem aparentemente íntegro e correto, que parecia sofrer tanto com o seqüestro da filha. Existirá dor maior para um pai do que a morte de uma filha? Acredito que não. E acredito também que essa história ainda não chegou ao seu epílogo. Algo me diz que Everaldo ainda vai pagar muito caro pelos erros do passado.

A morte tem sempre uma resposta pronta para quem tenta enganá-la.