A tranqüilidade do ser

Tento entender o tempo e penso, não a contento, que é teimosia minha tender para o lado traidor de tudo conhecer. O que sei já podia bastar o suficiente para continuar a caminhar, ao menos e tão somente no presente momento posto à frente e agora. Trato feito comigo mesmo, resta tratar dos assuntos trabalhosos sem temer as conseqüências mais tenebrosas, para e só assim, ter aquilo que tanto almejo: tranqüilidade da alma.

“Ataraxia” era o termo grego que significava a imperturbabilidade da alma. Como a palavra é muito complicado, podemos trocá-lo por “tranqüilo”. Uma alma assim está disposta a ter paz em si. Tal realidade não se relaciona a prosperidade material, a um conjunto de fatores externos ao ser que promove ou não, uma vida financeira e social confortável. Muito longe disso, o que os filósofos gregos entendiam sobre ‘ataraxia’ requeria do homem o desapego total de todo supérfluo para viver.

Quanto mais temos acumulado bens materiais, mais nos desgastamos em mantê-los. Isso cria uma situação interior muito desconfortável, pois ao invés de construir o ‘ser interior’ e assim o autoconhecimento tornar-se parte marcante da vida, se finca as atenções no possuir, valoriza-se mais aquilo que tem um valor financeiro elevado do que a própria vida e todo saber o qual não a preço para o ser humano, seja ele qual for. A minha vida, ao menos para mim, tem um valor incalculável, devendo ser valorizada a qualquer custo. Para tanto, o conhecimento dela deve ser prioridade para mim, sendo esta a via exclusiva para chegar na ‘ataraxia’, na tranqüilidade do ser.

Outra palavra, agora mais cristianizado, teria certa semelhança ao significado dado pelo termo grego. Em português traduzimos ‘spe’ (em latim) por esperança, virtude pela qual aquele que a possui pode acreditar mesmo passando por problemas, inquietações, raiva e sentimento depressivo, tudo será resolvido no futuro diante da fé depositada em um Ser Superior. Esse futuro é construído no presente, promovendo a liberdade dos sentimentos negativos, e favorecendo a uma paz antes impossível demais para existir diante de tantas mazelas. A tranqüilidade capaz de vencer os piores desafios antes mesmo de serem enfrentados se faz presente, se constrói gradativamente na alma, dando ao corpo um lenitivo para superar tudo. A tranqüilidade cristã, ou seja, a esperança, dá-nos forças para exceder as barreiras do medo e da ignorância pessoal; eu começo a usar o meu tempo para entender a mim, o que há em mim e como posso trabalhar-me para ser melhor.

Melhorar a vida é ter a capacidade de amar e ser amado, de encontrar-se com o Criador; e encontrando, encontrar-nos (Santo Agostinho). Antes, contudo, uma luta interior acontece dentro do nosso ser a qual pode durar anos. Muitas batalhas são superadas e vencidas para seguir em frente, seja estando no mesmo lugar ou saindo do seu ambiente natural em busca de outro mais propício. Muitos conseguem se mover interiormente sem sair de onde estão para chegar a um estado de autoconhecimento maduro e satisfatório, encontrando assim sua paz, sua tranqüilidade. Outros, no entanto, têm que deixar muito de seus bens, inclusive abandonar aqueles que amam para progredir humano e espiritualmente. A dor nasce, mas a esperança é mais forte e a fonte da tranqüilidade repousa nas garantias de Jesus Cristo, Homem e Deus, o qual afirmou não abandonar àquele que “negar-se a si mesmo, carregasse a sua cruz e segui-lo”.

É a disposição do ser mais especial, quando diante de tudo, do mundo e do seu próprio amor, dominasse a ponto de expandir-se para muito mais além que os seus sentidos são capazes de captar.