O que fizemos de nós

Passam os anos. E com eles seguimos em momentos

ora de luz intensa, ora de brumas; às vezes

mergulhados nas espumas, às vezes brilhando ao

sol. Sentenciados a envelhecer como palha colhida,

às vezes espalhada pelo chão, outras vezes armazenadas

em silos. E lá vamos nós. Acumulando alentos. Sonhos

que guardamos sem viver. Vidas que vivemos sem sonhar.

Sulcos, cabelos brancos, algumas sombras no olhar.

Às vezes muitas!

Diminuimos o passo. Cansaço.

Será que corremos demais, sem olhar os canteiros da

felicidade que brotavam às margens do caminho? Na ânsia

de chegar a lugar nenhum, deixamos o melhor por onde

passamos. Levamos coisas as quais adquirimos com suor e

esquecemos de levar o bem maior. Temos nossa casa, mas

não temos nosso lar. Temos nossos filhos, mas não temos

nossa alma gemea, nem os papos no café, nem os almoços

barulhentos de domingo.

Estamos envelhecendo sós.

Sufocados na solidão que escolhemos por intolerância,

pelo egoísmo de dividir os espaços e os abraços.

Estamos vivendo sem laços, presos em nossa liberdade

individual.

Fatal...