Professores encurralados

Quarta- feira, à tarde do dia 28 o telefone tocou. Era da escola dizendo para eu comparecer lá após as 10 horas de quinta-feira, o assunto, só iria saber lá. Dia seguinte, dirigi-me à escola. O que se passa? Perguntei à secretária, e ela me respondeu: “Estamos convocando todos os professores que se inscreveram pelo artigo 22 para saber se ainda vão continuar participando do processo de indicação ou não”.

Por quê? Perguntei novamente. “É que quem continuar participando desse processo só vai poder pegar 20 aulas, nada mais que isso”. Só que para um professor que paga aluguel e mora longe dos pais (que se encontram no interior) fica difícil se não puder pegar pelo menos d4 40 a 50 aulas. Como viver com 20? O salário cai por demais. Assustado, tive que desistir, não tinha saído e o jeito é esperar a próxima inscrição para Remoção. Não sei por que cargas d’água a remoção que pedi esse ano não saiu, eu pretendia ir para o interior de São Paulo, próximo de Ribeirão Preto.

A esperança de morar perto dos pais foi frustrada por um governo truculento e antidemocrático do PSDB. Não é a toa que o apelido dele é “Moto Serra”, pois já iniciou o seu governo cortando direitos dos professores: para determinados políticos, eliminar direitos é como serrar uma árvore, depois, é só reflorestar com pinheirinho e tudo bem. Tudo bem? Ôps... Substituir professor não é como substituir árvores, porém, muitos professores estão desistindo da profissão por causa do descaso e do desrespeito que sofre essa categoria.

Acuados, vários professores, senão todos desistiram de participar do processo de indicação de escolas para trabalhar em outros lugares, todos tiveram que fazer uma declaração de próprio punho desistindo, e quando disseram que eu teria que me submeter a uma cara de 20 aulinhas apenas, pensei: não vai dar! Pago aluguel, pensão dos filhos, IPVA do carro. Assim um aluno ajudante de pedreiro em Alfaville ou uma baby sister irá ganhar mais que eu. Foi ai que eu desisti!

Não vou mais participar da inscrição pelo artigo 22, pois pego 52 aulas e tenho que me dividir entre dois cargos para sobreviver, disse SO-BRE-VI-VER para ficar bem claro que professor que se desdobra para sair dos 900 reais por mês não vive, sobrevive. Valeu governador! De decreto em decreto, está acabando com os professores.

Adolescência sofrida: são 16 anos de desvalorização profissional. Sendo atacados de todas as formas, chegamos a adolescência com o PSDB, tratados como crianças, os professores são premiados com o “BONUS” e quem fizer a lição de casa passando mais alunos, ficará mais feliz em fevereiro. Estão impondo uma avaliação de produtividade como se faz com a avaliação de “peças” na indústria capitalista, só que avaliar a qualidade do aprendizado é uma coisa e avaliar e avaliar a qualidade de um objeto é outra. Não dá pra predeterminar 100% no aprendizado, estamos lidando com cabeças, com pessoas, sentimentos e razões. Não se pode impor 100% de aprovação, pois se um aluno decidir não fazer coisa alguma, não tem jeito, e se sair de casa e decidir fingir que foi estudar e não estudou pior ainda. E os pais? Muitos estão trabalhando, e quando chegam cansados, nem olha o caderno do filho. Aluno engana todo mundo, porém, as críticas nunca recaem sobre eles. Para dar uma aula de qualidade o professor enfrenta muitos entraves, desde a estrutura física e mal planejada das escolas a alunos desinteressados. Então, é muito relativo avaliar a qualidade do ensino. Cada comunidade tem uma realidade diferente, uma mais carente, outra menos, uma mais participativa, outra totalmente omissa, enfim, a realidade se apresenta com múltiplas facetas, o que é imprevisível em matéria de se avaliar e impor resultados. Ninguém manda em cabeças, ninguém pode determinar pensamentos e cada um é livre para expressar-se como quiser, diria Voltaire. Mas parece que o governo desconhece a livre-expressão quando impõe metas a alcançar e assim bonificar por cabeça os professores que promoverem mais. Está-se esperando que se alcance cifras ou qualidade? Cifras, números, é isso que eles querem. Enquanto se exige, não se oferece nada, exceto isso:

“O governo Serra publica o Decreto 53037/2008 que, entre outras medidas, impõe prejuízos à categoria, entre eles, estabelece avaliação de desempenho aos ACTs (Admitidos em Caráter Temporário); impede a utilização do artigo 22; dificulta a participação dificulta a participação nos concursos de remoção; e propõe atribuição de aulas compulsoriamente”. (Fonte: Apeoesp)

É preciso ter muita coragem e garra, para continuar sendo professor no Estado de São Paulo. Alvos do bombardeio neoliberal tucano, os professores vão ficando cada vez mais acuados. Reféns de uma política perversa, tirana, precisa explodir duras pedreiras para comer e dar conta das suas despesas mensais. Será que o governador agüentaria dar 60 aulas por mês? Trabalhar em três períodos: manhã, tarde e noite? Professor não tem vida própria? Será que o governo segue a risca a origem do professor que era na Grécia um “escravo” chamado de PEDAGOGO? Pois é...

O que mais vem pela frente? Ouço o ronco da “Moto-Serra”, queria tanto que a gasolina acabasse, ou que pifasse o motor. Às árvores agradeceriam e haveria menos Co2 na atmosfera educacional: a educação precisa respirar!