O VESTIBULAR DA EXCLUSÃO

Conhecí uma pessoa, um "empresário" teórico, que teve um "insight" interessante.

Frequentava Brasília. E sempre se encantou com o que vê lá. Empreendedor, veio cheio de idéias. Varias delas alienígenas, mas de autores consagrados pela "academia".

Decidiu, na comunidade (favela) onde mora, criar um "embrião de uma rede de supermercados". Por enquanto, iniciante como é, responde pelo nome de "Armazém do Chulé", apelido do rapaz.

Preocupou-se em "qualidade". Já para selecionar pessoal, exigiu que, no mínimo, o pessoal fosse multilíngue. Bi não serve para o negócio que ele imagina.

Teve uma decepção danada. Estranhamente, o pessoal habilitado em várias línguas estrangeiras, com experiência profissional cosmopolita, não aceitou ir trabalhar lá no interior do interior, numa comunidade. Assim, teve que se contentar com empregados que tem bagagem livresca, porém inexperientes em vários casos.

Preocupou-se, muito, com o "mix" dos produtos a serem comercializados. Pela primeira vez ali na comunidade ouviu-se falar em "carnes maturadas", presuntos "pata negra" e de parma, camarões e lagostins. As frutas começam com lichia, passando pelo kiwi e outras com nomes igualmente estranbódicos.

O Armazém do Chulé, inaugurado com pompa e circustância, não "decolou". Por razão incerta e não sabida, a comunidade não quis se adaptar aos novos serviços e alimentos apresentados. Curioso isso. A realidade não querer se curvar ao planejamento cuidadoso.

O Armazém do Chelé vem se arrastando. Não vai longe, visto que são recursos pessoais e finitos. Pudesse eu - pensa o Chulé - ter verbas públicas para manejar. Se assim fosse, eu poderia manter ativa essa estrutura que excluí toda a circunvizinhança. Com verba pública, mantenho toda a estrutura subutilizada até que, num futuro sabe-se lá quando, o "crème de la crème" social descubra o valor intrínsico do Armazém do Chulé!

Afinal, ninguém pergunta ao cidadão se ele quer manter toda uma estrutura cara para atender um número pequeno de nacionais. O contribuinte simplesmente paga, sem saber o que está pagando. E sem poder utilizar o que está pagando! Simples assim.

O mundo que se adapte ao padrão Armazém do Chulé. Ou o mundo que se lixe!

EDUGIG
Enviado por EDUGIG em 09/02/2009
Reeditado em 09/02/2009
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