Repressão desorganizada: a polícia que não merecemos

Frequentemente, ao ligarmos a T.V. ou lermos as páginas dos tablóides nacionais, podemos acompanhar notícias sobre abusos cometidos por policiais civis e militares contra o cidadão comum.

O pior é que isso pode acontecer quando o agente público agressor não se encontra a serviço do Estado, ou seja, quando tal agente está prestando um serviço particular extraordinário, conhecido popularmente como "bico".

Recentemente, um jovem de 15 anos, em meio a uma festa realizada em um clube, jogou um copo de bebida para o alto, e por acidente, acertou e molhou um policial militar "à paisana" que fazia segurança particular em tal clube. O policial então, chamou outro colega de "bico", também policial militar, e logo depois, pegaram o garoto pela gola da camisa e levaram para fora do clube. Já na rua, procuraram um canto escuro e passaram a cometer excessos, fazendo com que o menor passasse por momentos de terror com agressões do tipo tapas no rosto, socos na região abdominal e chutes nas pernas e genitais. Quando os agressores se cansaram de bater, disseram ao menor que se eles o encontrassem na rua quando estivessem em serviço, aquele estaria "no saco", fazendo uma clara alusão ao filme "Tropa de Elite".

Todos sabemos que os policiais, principalmente os militares, recebem baixos salários e trabalham em más condições de operabilidade, fazendo com que recorram ao serviço extraordinário para complementarem a renda familiar.

Acontece que, um policial que trabalha um dia todo, no clima quente brasileiro, vestido em uma farda que aumenta o calor corporal, em viaturas desconfortáveis e mal remunerado, e que chega em casa já no período noturno e apenas tira a farda, partindo para fazer "bicos" em casas noturnas, bares, lanchonetes, danceterias e outros estabelecimentos congêneres, provavelmente não terá o tempo de descanso necessário para sua recuperação; e indubitavelmente, passará a apresentar sintomas como irritabilidade, distúrbios visuais e auditivos, dificuldade em se concentrar, perda de memória, agressividade repentina, depressão, entre outros sintomas causados pela falta de repouso e de alimentação adequada.

E quando os mesmos estão em rondas ostensivas noturnas, chegam em casa amanhecendo, trocam de roupa e partem para garantir a segurança particular de casas lotéricas, joalherias, supermercados, farmácias e outros estabelecimentos que funcionam durante o dia, apresentando os mesmos sintomas acima descritos.

Não bastasse, alguns agentes policiais ainda fazem mais de um "bico", e com isso, desempenham pessimamente a função pública, dedicando-se muito mais ao serviço particular.

Nós, cidadãos que pagam impostos e que temos garantido o direito constitucional à segurança e a um serviço público de qualidade, merecemos uma polícia bem equipada, corajosa, disposta e educada, que saiba tratar as pessoas com respeito e urbanidade, sem abrir mão do rigor legal.

O que nós certamente não merecemos, é uma polícia que espanca sem orientar e mata sem alertar, porque assim, cristalizar-se-á o medo e o terror de sermos parados em uma "blitz" de rotina, já que nesse instante, corremos o risco de um policial mal preparado, fadigado e estafado, em um momento de descontrole, vacilar e tirar a vida de um cidadão de bem.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 12/02/2009
Reeditado em 03/03/2009
Código do texto: T1435018
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