O GRANDE CRIADOURO

Caminhar diariamente pelas ruas cinzas, escuras do meu bairro, aos que aprenderam a ler a história da vida, soa poético e clama por ação.

Digo, que o rosto daqueles que moram onde não há esperança, possui uma tonalidade diferenciada, escura, que conversa com o escuro das ruas sujas e irregulares.

Na periferia desta grande cidade, não há nada que grite ao mundo, nada que seja suficientemente forte para incomodar. Neste mundo obscuro onde não se faz nada que a vontade e a alma aventureira humana pede, só restam homens que não possuem vida, que morreram no mesmo momento em que nasceram, que terão por toda a sua vida que sofrer para satisfazer o que é vontade daqueles que nasceram para levar adiante a máquina da dominação.

O povo que foi lançado para longe de onde caminham os bem-nascidos, discute, em seus momentos de folga, o que aqueles que são seus senhores falam, comem, lêem, fazem. Existe um interesse quase que inconsciente pelos patrões. A periferia ainda não acordou para o que sua vida realmente é. Seria o “acordar” o primeiro passo para a mudança. Falta uma voz no meio da ignorância do povo, uma voz que grite, pois, quem grita mais alto acorda mais gente, e são os bem-nascidos que tem gritado alto ultimamente.

Desde sempre, a periferia tem sido uma espécie de criadouro, como são os criadouros de galinhas, ou de bois. Cria-se o povo para o trabalho braçal e não-pensante, cria-se homens que darão suas almas, sua saúde, sua vida, para realizar as ambições dos outros. Não faz sentido viver para fazer aquilo que nunca foi idéia sua. E assim, os criadouros são mantidos longe de onde os ricos descansam, os pobres só são importantes enquanto produzem. No criadouro, os ricos criam falsas escolas, onde diz-se ensinar ciência, onde o povo adquire conhecimento, uma falácia! Na verdade, as escolas apenas dão ao pobre o mínimo que ele necessita para servir, é o local onde se condiciona o trabalhador, onde é dito a ele que é preciso trabalhar, ganhar seu dinheiro, casar, ter filhos, o que na verdade significa, “se reproduza e crie mais cabeças para o meu rebanho”.

Nesta organização da sociedade, o grande combustível chama-se dinheiro. É por ele (em quantias mínimas) que os pobres vendem suas almas, e é por ele também (em quantias enormes) que os ricos escravizam. E se o dinheiro deixasse de existir? Se tudo fosse de todos e se o acúmulo de bens fosse proíbido? Provavelmente seria em vão, pois a ambição humana encontraria formas para se sobressair.

Não existe solução, pelo menos não para esses que hoje habitam a terra, se as futuras gerações fossem isoladas e educadas levando em consideração sua condição de apenas mais um animal que habita a terra, que fosse esclarecido que as ambições podem ser alcançadas sem se recorrer ao absolutismo, talvez os homens pudessem evoluir, pois, a evolução do homem deve ser tornar-se primata novamente.

M.A.S.P.