O roubo.

Eu sempre achei que não iria acontecer comigo. Agora despertou o medo de voltar pra casa à noite. Pois voltava eu do trabalho, sozinha, com o guarda-chuva e já estava próximo a minha casa. Perto de uma esquina onde havia uma rua residencial deserta, senti pessoas atrás de mim. De repente um braço entrelaçou pelo meu ombro chegando ao meu pescoço.

Muito rápido, meu cérebro achou que fosse um amigo meu que sempre me cumprimenta dando-me abraço. Mas quando olhei pro lado vi que não o conhecia. Ele disse coisas rápidas que agora não consigo lembrar. E meu cérebro demorou pra processar o que estava acontecendo.

Quando vi, já havíamos virado a esquina e apenas vi aquela rua comprida e vazia. Ele disse, muito rápido, no pé do meu ouvido:

- Fique quieta. Não fale nada. E me acompanhe.

Percebi então que algo estava errado. Entrei em pânico. Logo meu coração batia mais forte do que o normal e o guarda-chuva já tremia.

Continuamos a caminhar, e eu não consegui pronunciar um som sequer. Ele disse sempre que eu deveria ficar quieta e acompanhá-lo.

É incrível como nosso cérebro é capaz de pensar em tantas coisas em tão pouco tempo. Um filme passou em minha mente. Lembrei da minha mãe. Lembrei de um campinho de futebol deserto próximo dali, e pensei que algo terrível poderia acontecer lá. Lembrei de flash de reportagens dizendo “Morre hoje um jovem em meio a um assalto.” “Homem morre por reagir ao assalto” “ Bandido estupra e mata vítima”

O cara, que era um pouco mais alto que eu, e andava rápido comigo, com um blusão maior que ele de cor azul continuava a falar.

Ele disse:

- Fique calma, eu não vou te machucar. Eu não vou fazer nada pra você. Fica calma! FICA CALMA!

Eu não disse nada.

Quando chegamos ao fim da rua ele pediu a bolsa e mandou-me continuar andando sem olhar pra trás. Ainda muito bondoso, disse que deixaria meus documentos na caixa do correio ¬¬

Então ele se foi.

Me vi parada em uma rua onde não tinha ninguém, perto de uma praça sombria e morta de medo. Corri pra casa. E muito chorei.

Na bolsa havia 10,00. Não era muito. E algumas moedas de 50 centavos arrecadado da rifa que eu e minha mãe estamos vendendo. A cartela estava quase completa e se foi. Havia também meu mp3, que mais servia como um disquete onde salvava muita das coisas que escrevia. Foi burrice minha não ter salvo o livro que estou escrevendo em um computador. Ele estava apenas lá. E também se foi. Havia meus cartões, meu RG, minha carteira da escola com os dados da escola, série e telefone. Tinha um clube social e um suco de pêssego que nessa altura já deve ter sido tomado. Um DVD de um seriado que peguei emprestado do meu primo. Meu bilhete único... E algo que me deixou muito magoada, além do meu mp3 que foi comprado pelos meus pais com muito custo e onde meu livro estava gravado, foi embora um espelho moldurado rusticamente por um hippie muito simpático de uma feirinha em uma praia que eu comprei. Eu deixava esse espelho de enfeite no meu quarto, porque ele era muito bonito! Mas ontem resolvi pôr na bolsa pra quando eu quisesse me olhar.

Chorei de medo, depois de tristeza e depois de raiva. Trabalho e estudo como uma cidadã digna até vir um maloqueiro, vagabundo e tirar o pouco que eu tenho.

Felizmente ele não me feriu. Mas não acho que tenho que agradecer por isso, afinal, ele não deveria nem ter me roubado.

Carolina Hanke
Enviado por Carolina Hanke em 18/03/2009
Reeditado em 18/03/2009
Código do texto: T1493403
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