a historia de um presidente

A História de um Presidente

Com base no documentário produzido pelo cineasta Walter Moreira Salles referente ao acompanhamento dos passos na campanha do então candidato à presidência da republica, Lula, para o primeiro e segundo turno da eleição 2002, pude extrair e formar um conceito sobre os acontecimentos surgidos pós-vitória.

Ao analisarmos a história do Brasil pós-republica verificamos várias gestões exercidas por militares. Também, verificamos longos períodos de exeção protagonizados por Getulio Vargas e pelos militares entre 1964 a 1982. Temos, portanto, pouco mais de meio século de uma tênue democracia. Lula já inicia como fato inédito. Um sindicalista - operário no poder. Esta ascensão ocorreu muito mais rápida que os próprios atores imaginaram. Também inédito, a alternância de poder deu-se no momento que se permitia a reeleição. O documentário, em minha opinião, permitiu que se fizesse uma leitura de um ser humano pobre, oriundo de um bolsão nordestino. Chegou a maior cidade do país e se fez líder.

Vamos ao documentário-Sempre acompanhando o candidato via-se o marqueteiro Duda Mendonça, José Dirceu, fuxiquem(?), Mercadante, Gilberto Carvalho, D. Marisa, Frei Beto, Pallocci, Dulci, entre outros. O aparato logístico era formado por abnegados profissionais. Uma maratona. Viagens para todo canto neste país continental. Horários para tudo. Preparar os dizeres para cada local e para cada público, mexia com a cabeça do candidato. As malogradas tentativas em campanhas anteriores funcionavam como fantasmas. Eram como as mariposas ao redor da lâmpada. As coletivas eram massacrantes. Cada gesto, cada palavra tinha que ser policiado. As orientações do marqueteiro tinham que ser observadas. Duro era a compatibilização do discurso ideológico e partidário com o politicamente necessário. O partido dos trabalhadores já com vinte anos guardava, ainda, correntes xiitas. Pude perceber, claramente, que o candidato, chegando à porta da vitória, encontrava-se quase perdido. O que faria depois do resultado das urnas. Ele manifestava o desejo de ter seu momento único. Ficar a sós. Pensar. Impossível. Estava lançada a sorte.

Veio a posse. Emoções e comoções. Esperança. A partir deste ponto comecei a refletir. Tudo foi muito bem planejado para ganhar as eleições. Muito pouco para governar. Então se percebeu que tinham que dividir o poder. A famigerada maioria no Congresso Nacional constitui o passaporte à governabilidade. Provavelmente lembraram Collor de Melo. Deu banana para este Poder. Deu no que deu. O Partido dos Trabalhadores, tão sectário internamente, não se entendia. Transparencia - se que várias correntes não tiveram acesso às costuras pré - campanha arquitetadas pelo poderoso José Dirceu. Condenavam( Correntes internas do PT) alianças do chamado centro e centro esquerda – Cito, PMDB, PTB e PP. O histórico PC do B, PPS e PSB eram aceitos, mas insuficientes para obtenção da maioria. O PT, a luz dos tradicionais, estava desvirtuado e maculado na sua ideologia, consolidada através de muita luta e sofrimento. Não demorou surgir expulsões, dissidências, abandono de apoios partidários e manifestações de frustração e descontentamento de vários intelectuais. Penso que o personagem Lula, ao fundar o Partido dos Trabalhadores de dentro das fábricas para fora, não teria percebido que o ingresso de intelectuais, de movimentos de esquerda, como a Católica, de radicais sindicalistas e de outros movimentos sociais organizados, traria conseqüências danosas no sentido da obtenção da unidade partidária. Para mim isto ficou muito claro. Ainda, sobre governabilidade, restava a questão de como lidar com a oposição. PFL (DEMO) e PSDB postavam-se implacáveis. Reivindicavam a paternidade do modelo econômico e de alguns programas sociais. Batiam forte.

Formou-se, portanto, a base governista. PMDB, PTB e PP eram os principais, além do PT, como obvio. Surgiu a BOMBA. Líder de partido aliado acusa integrantes do governo de promoverem compra de parlamentares em troca de apoio. CPI(S) são instaladas.Cabeças rolam. Mandatos são cassados. Dinheiro na cueca, presidente da Câmara recebendo propina de dono de restaurante são episódios que só não são cômicos porque foram trágicos. E o Homem do nordeste, sindicalista, que pronuncia mal as palavras, como ficou neste cenário? Exatamente neste ponto, rememorando uma cena do documentário, obtive a senha que descortinou, para mim, a estratégia deste pernambucano que eu imaginava perdido. E que cena foi esta? Já as vésperas da eleição para o segundo turno o então Presidente do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu, dirigiu ao candidato informando que teve um encontro muito proveitoso com o PC do B. O Candidato não deu a menor bola para o fato. Da mesma forma, já como presidente, percebi que tava pouco se lixando com as peripécias de um Severino Cavalcanti ou com as denuncias de um arrogante e vaidoso líder partidário ou da prepotência do seu mais importante colaborador. O operário percebeu que cairiam de maduro. Seu foco era outro. Tinha certeza que seus programas sociais e o crescente ganho real do salário mínimo aliados a seus inflamados e pensados discursos lhe dariam uma popularidade jamais obtida por qualquer outro mandatário. Quanto a governabilidade, foi sábio. Deixou por conta da base aliada. Disponibilizou, para tal, importantes ministérios. Teve muita sorte. O cenário mundial era extremamente favorável. Deu as costas à paternidade do modelo econômico. Manteve-o. Agradou o sensível mercado financeiro. Livrou-se do FMI. Em minha opinião foi um equivoco. As regras e parâmetros estabelecidos por este fundo já constavam das metas, ou seja, ampliação do percentual do PIB (superávit primário) para atendimento dos compromissos externos e o controle da inflação ( não seriamos reféns). Pagar em dia é melhor que antecipação da dívida, nestas condições. Continuando, o operário transmitiu confiança. Surpreendeu a elite. Reelegeu-se. Hoje detém 80% de aprovação junto à população. Transformou-se em um dos maiores líderes mundiais. Com sabedoria, não deixou que os episódios com a Bolívia e Venezuela causassem maiores danos à sua imagem interna e externamente. É ouvido e respeitado. Seus propósitos de permanência no poder, fazendo seu sucessor, lastream-se na continuidade de seus programas sociais e nas propostas de crescimento (PAC). Para ele é irrelevante o rótulo de esquerda, direita ou centro. Isto é mero ponto geográfico.

Finalizando, não poderia de deixar de mencionar a questão da crise mundial. Até então o governo Lula navegou em águas mansas neste mundo globalizado. Os analistas em todo mundo falam da pior crise dos últimos 80 anos. Lula procura amenizar seus efeitos por aqui. Se errar, o terreno estará fértil para seus opositores. Falta pouco tempo para assistirmos o final da história do nosso Presidente.