CULTURA DE PAZ

Fui convidado para participar de uma caminhada pela paz. Paz que para nós daqui de Itapipoca, do Ceará, ou do Brasil não é exatamente o contrário de guerra, mas significa a Não-violência. Nós não vivemos numa guerra declarada, vivemos sim uma situação de violência declarada em todos os ambientes: no trânsito, nos esportes, em casa, nas escolas, nas periferias das cidades, nos bairros nobres e no meio rural. Violência manifestada de várias maneiras: homicídios, furtos, assaltos, seqüestros, estupros... E paralelamente a estes: as drogas, o tráfico, a sonegação de impostos e o pior de todos: a corrupção no serviço público. Aliás, a dimensão do problema é tamanha que mesmo sabendo as causas não nos sentimos seguros seja para acomodar, seja para propor soluções. Os condomínios fechados com muro, cerca elétrica, cães de guarda, vigilantes, circuitos internos de TV, etc. não tem surtido efeito. Os casos de violência são diversificados e a cada dia se tornam mais sofisticados. A violência é uma espécie de cultura que assusta e que impressiona. Os programas policiais na TV ou no rádio são os mais assistidos.

Numa expressão de singela lucidez a CNBB afirma que a paz é fruto da justiça. Dessa forma acho que a nossa causa primeira seria antes a denúncia ou o combate às injustiças já que aqui está a raiz dessa guerra não declarada que é a violência nas suas variadas formas.

Na minha compreensão o exemplo mais gritante de injustiça é o das desigualdades sociais. E são muitos os exemplos concretos disso. Vivemos numa sociedade onde poucos têm tudo e muitos têm nada. Falta igualdade na renda, no lazer, na escolaridade, no acesso a moradia, no acesso a emprego, no acesso a tecnologias, no domínio de habilidades hoje indispensáveis à digna cidadania.

A superação das desigualdades sociais requer muito mais do que nos manifestarmos publicamente nas praças e avenidas, embora isso também seja necessário. As desigualdades sociais serão superadas quando isto também se tornar uma cultura - de denúncia e de atitude. Compete a sociedade através de suas estruturas ou instituições. Da mesma forma que se formam os aparelhos de administração, de arrecadação de impostos, e gestão de políticas, deveriam ser gestadas as medidas de combate às desigualdades sociais. A sociedade impor limites seria a medida mais simples. “Toda riqueza existente é uma hipoteca social” (João Paulo II).

Ocorre, entretanto, que o modelo social atual é impulsionado pelos princípios da competição ou da concorrência e do acúmulo. As próprias leis os afirmam. Para a realização de um determinado empreendimento, se houver concorrência é salutar. Isto é um erro. A seleção natural ou a supremacia do mais forte e mais preparado para sobreviver segundo a lei da evolução de Charles Darwin só é aceita no meio biológico. No meio social esta é uma atitude inaceitável, por que não dizer criminosa. O problema é que nem todos têm condição de concorrer. A desigualdade gera mais desigualdade. O pobre cada vez mais pobre e o rico cada vez mais rico. Se as leis do Evolucionismo se aplicassem na sociedade humana não teríamos o nível de conhecimento e de desenvolvimento que ora ostentamos. Nem mesmo Darwin haveria existido.

A existência humana deve pautar-se em princípios racionais baseados em outra lógica não na concorrência e na competição. O homem em sua inteligência necessita descobrir-se valendo mais que um verme ou um orangotango.