TODOS IGUAIS, TODOS DIFERENTES

É comum ouvirmos pais dedicados comentarem sobre como é difícil criar os filhos. No mundo de hoje, onde a informação e a permissividade não têm mais limites, educar pessoas torna-se um desafio. Por mais de uma vez ouvi pais e mães lamentarem-se por não terem recebido, junto com os filhos, um manual de instruções.

Como dosar os “nãos” que precisamos dizer, quando um “sim” pode ser dito de forma segura, estas e outras questões afligem aos que, na tentativa de preparar o filho de forma plena para a vida adulta, temem errar.

Às vezes, ao fim da longa jornada da infância e adolescência, alguns deles consideram: “Porque meus filhos se portam de forma tão diferente uns dos outros, se os eduquei da mesma forma?”

Ao refletir sobre estas questões, lembro-me de uma amiga que certa vez me ensinou: “Tenho três filhos. A cada um deles dou um tipo de criação. Apesar dos princípios morais serem os mesmos, a maneira como os transmito varia de um para o outro. A um preciso dar mais carinho. Com outro, preciso ser mais enérgica. Com o terceiro necessito despender mais tempo, ter mais contato físico. Eles são únicos, e parece absurdo supor que todos aprenderiam da mesma maneira e no mesmo ritmo.”

Assim como os pais, que procuram atender às necessidades individuais de seus filhos, os professores precisam entrar em contato com o que há de particular em cada um de seus alunos, para que consiga êxito no processo ensino-aprendizagem. Pode parecer, à primeira vista, uma tarefa quase impossível numa classe lotada, muito diferente da realidade de uma família com três filhos.

No entanto, ao observarmos mais atentamente, veremos que cada aluno se encarrega de sinalizar ao professor de maneira clara suas próprias necessidades. Cabe ao mestre a sensibilidade e perspicácia de não deixar passar estes sinais, mas revertê-los para o seu planejamento, flexionando-o de acordo com os novos sinais que vão chegando a cada dia.

Desta maneira, aquele aluno que têm atrapalhado as aulas “cantando” enquanto você tenta sem sucesso restabelecer a ordem e seguir com a lição, pode ser conquistado através da satisfação desta necessidade de se expressar musicalmente, quando são trazidos para a sala de aula recursos que dêem vazão a ela. Na aula em que não houver música, ele responderá muito melhor às atividades, pois a sua necessidade de contribuir já terá sido satisfeita.

Um outro aluno que se apresenta como “líder da bagunça” (em toda classe tem um) pode ter valorizado este traço de liderança de maneira positiva, ao ser desafiado pelo professor a contribuir com seu talento. É preciso lembrar que não existe somente um tipo de inteligência. E que ao tentarmos suprimir umas e eleger outra como mais importante, colheremos problemas de indisciplina e desatenção.

Ninguém gosta de ser somente um número ou um lugar marcado. Todos desejam contribuir, nem que para isso precisem fazê-lo negativamente. Cada pessoa necessita sentir-se notada.

Não se trata de passar as aulas numa ciranda louca tentando satisfazer a todos e vendo o seu planejamento lhe escapar entre os dedos. Isto por causa de uma verdade muito simples: depois de uma necessidade satisfeita e a autoestima valorizada, o aluno tende a se adequar e participar melhor do andamento do grupo, pois se percebe como parte dele, um membro importante e com seu próprio papel no processo grupal.

Assim como pai e mãe, o professor deve enxergar o que cada aluno tem a contribuir, mais do que apontar suas fraquezas. O que pode parecer negativo a princípio poderá ser uma virtude que muito contribuirá para o sucesso da classe. Para isso, o professor precisa aprender a lapidar essas fraquezas e aplicá-las de forma positiva, transformando-as em benefício comum para o grupo. Enxergar o potencial das pessoas e trabalhar à medida dele é uma habilidade essencial ao educador, ao exemplo do que pais sábios fazem ao educar cada filho.

Cada vez mais, o pensamento de massificar o ensino tem surtido menores resultados e ficado para trás. Trabalhar as diferenças é o melhor caminho para mediar o progresso de todos.