DEUS É CULPADO?

Para quem tem opinião formada no que diz respeito a cristãos e muçulmanos, fica difícil descrever a visita do Papa em terras palestinas, pois diversas situações corroboram para uma constatação contrária as boas intenções da mesma.

Maneiras primitivas da política vaticana há séculos, onde só o ponto de vista dela é que deve prevalecer, mostram nas relações religiosas a que ponto o ser humano distorce a sua própria condição de humano e permite que bizarrices como as que estão acontecendo com os palestinos herdeiros da sanha cruel dos donos da força, a partir da criação do Estado de Israel.

Em muitos países em situações semelhantes, embora a exploração humana não deva ser privilégio de nenhuma raça, as práticas mesquinhas contra o povo palestino nos mostram que a política israelense age de maneira desproposital, enveredando para a selvageria de quem tem o poder, procurando extinguir da sua vizinhança, mesmo que se considerem suas razões históricas.

Grandes nações persistem em brincar de governar dentro de sua própria casa, querendo emanar ditames nada exemplares em termos de relações humanas, só para manter o status quo que só a eles interessa, de peculiaridades solidificadas no passado, como se os demais viventes tivessem que seguir suas políticas nada exemplares. Vide os iraques, os afeganistãos, alguns países africanos e outros menos votados que só vão ser notícias quando as “limpezas” já estão em fase final. Interferências de países tidos como pacificadores, salvacionistas, só após a terra arrasada.

Sem dúvida a viagem do Papa à Palestina, há que se reconhecer, foi difícil, mas deve-se levar em conta a qualidade de quem a fez, pois a completou pisando em ovos, evitando de todas as formas emitir opinião sobre o passado e teorizando sobre o futuro, receando incorrer em risco de vir a ser desmentido antes de voltar para casa.

Já se pode estar seguro de que os governantes de Israel não ouviram do Papa que o mundo deve continuar a pedir perdão permanente pelo que o povo judeu sofreu. Evidentemente jamais condenar as atrocidades que eles têm cometido contra o povo palestino nos tempos recém findos, com a chancela das organizações mediadoras da ordem mundial.

Foi politicamente correta à visita do Papa. Foram evocadas as vitimas dos ataques a Gaza e simultaneamente ele chorou a sorte dos palestinos refugiados que foram expulsos das suas terras a partir da criação do Estado de Israel. Ao despedir-se da visita, diante dos governantes israelenses, expressou o primor da política vaticana que pede o reconhecimento universal do Estado de Israel, da mesma forma que seja reconhecido o mesmo direito, utilizando a palavra Estado para a pátria palestina pela primeira vez. Que esta solução não continue a ser um sonho.

Esperteza ou tapeação, não importa o termo, a verdade é que atraída pelo valor mítico de tudo o que diz respeito à repressão política no Oriente Médio desde 1948, o mundo surfa na onda e fixa-se na subjetividade sugerida para presença de tropas estrangeiras na região mediando possível solução, tão fácil de acontecer, desde que seus dirigentes voltem a raciocinar a favor de seus povos e não para manutenção das suas vaidades a partir das suas incursões opacas.

Levando em conta os evangelhos sejam eles canônicos, apócrifos, pergaminhos do mar morto, textos gnósticos, ou o que professo “Segundo o Espiritismo” nos quais busco iluminação, embora a diversidade impressionante entre eles resta-me a constatação de que não posso duvidar de todos e a indagação do meu livre arbítrio sobre o qual que devo acreditar.

Sempre haverá narradores de fatos que aconteceram, e cada qual com sua motivação real, além daqueles intencionalmente deturpadores de realidades por interesses obscuros.

Sabe-se que Abrahão foi descendente de Sem. Ismael e Isaac são filhos de Abrahão. Portanto, semitas. Os árabes têm o sangue de Sem na sua formação. Os judeus têm o sangue de Isaac na sua formação, portanto, também são semitas, logo em equação simples: são irmãos, mesmo sendo filhos de diferentes mães. Eram brigões entre si, e não se tem registros que exerceram a Lei do Perdão.

Muitos judeus tornaram-se muçulmanos e muitos árabes tornaram-se religiosamente judeus. O que deveria ser uma luta religiosa entre eles, cada raça a sua maneira, mas ambas condenáveis quando matam por interesses mundanos, poderia ser um debate político em busca de soluções.

A bronca de hoje sexagenária por ato dos homens, até então era milenar, e mais, devemos levar em conta que Moisés era egípcio. Ressalte-se que o Egito há muito tempo não briga com ninguém. A flexibilização pode ter sido a marca que proporciona essa situação tranquila.

E o tempo, senhor da razão, continuou dando volta, nos deu Jesus, com sua mensagem de amor, e mais, na mesma terra onde até hoje insanos, portadores de pústulas de ódio, teimam arrasá-la pelo mau uso do livre arbítrio se recusando a curá-las.

Israelenses e palestinos independentemente de se colocarem abaixo, na linha da humildade, não absorveram a lição do que é amar o próximo como a si mesmo.

Os judeus entendem que a Palestina lhes foi dada por Deus há quatro mil anos atrás -- quando Deus a deu a Abraão -- e que eles têm direito sobre ela . É lá em que eles pretendem reconstruir o Templo de Salomão, justamente na colina de Sion, onde os árabes construíram a mesquita de Omar. O detalhe que não aparece, é que, eles não lutam por ouro ou petróleo, em princípio, mas um lugar, uma colina: Sion.

A presença judaica na Palestina remonta ao segundo milênio antes de Cristo. A partir da Diáspora judaica no ano 70 e da expansão islâmica na Palestina em 635, a região foi ocupada pelos árabes.

Deus não se esconde atrás de máscaras. Ele não tem nacionalidade, está sempre em todos os lugares.

Será que as preces de árabes ou de judeus têm alguma motivação em leilões que convém a Ele esperar para ver quem faz o melhor lance para tomar uma atitude?

Penso que o problema não é o lance a ser apresentado, mas sim a motivação, a atitude do amor no interior de cada um, que tanto Jesus e Alá pregaram com extremo zelo e propriedade.

O conflito entre eles até prova em contrário é sim, religioso. Observe-se que entre um pontificado e outro, cada papa pontua sua ação para não perderem o lado católico/cristão da guerra intestina.

Principalmente a partir das Cruzadas, o Cristianismo de Jesus vem sendo desfigurado pelo cristianismo clerical imposto pela política vaticana. A fé, principal alimento da alma, tornou-se dogmática com a manipulação de políticos e inescrupulosos das religiões.

Para meu lamento, demorei muito tempo para descobrir que fui criado acreditando que meu Deus era um malvado de marca maior. Era obrigado a confessar minhas culpas, e para escapar da punição, além de pagar indulgências e obedecer a dogmas emanados do vaticano, e mesmo cumprindo tudo, ficava sujeito a não ganhar o céu.

A Natureza, sábia, que não erra, levou-me ao Espiritismo, concedendo à minha fé uma direção racional no sentido de iluminação da vida.

Se formos analisar, só pelo fato de possuírem mães diferentes, Isaac e Ismael deixaram para a posteridade dois povos conflitantes, que vêm guerreando um com o outro, desde as primeiras gerações provindas deles, só porque não souberam resolver rotineiras questões de família.

Sugiro que no Oriente Médio se aplique a Lei do Perdão. Não é necessário pensar que se está sendo honesto um com o outro. Deve-se sim, aproveitar a oportunidade para curar as feridas geradas sem inibir a tentativa de envolvimento na intimidade dos seus povos.

Antes que culpem Deus, perdoar não custa nada, e esse tipo de perdão para israelenses, palestinos e adjacentes, representa a Paz, permanente.

Nilton Salvador
Enviado por Nilton Salvador em 17/05/2009
Código do texto: T1599626