A figura de Tolkien como humanista

Que Tolkien era um humanista, todos sabemos. Tal característica é visível em suas obras, se observarmos principalmente o Senhor dos Anéis. Após conhecermos a obra desse “gênio literário” adentramos em um único e fantástico universo. A diferença de Tolkien para os demais autores, é que ele não simplesmente criou um mundo de fantasia, onde Elfos, Homens, Anões, Orcs e tantas outras raças convivem juntos, Além de criar esse universo, ele fez o mais importante: Ele acreditou que era real. Podem crer meus amigos... Em todos nós, mesmo que não sejam físicas, existem características dos seres que foram criados por Tolkien. Como foi dito, em “O Senhor dos Anéis” o autor faz questão de evidenciar quão frágeis e corruptíveis são os personagens. Frágeis em caráter e não fisicamente (Afinal, Trolls não são nem um pouco delicados). Até mesmo nos elfos, que são seres exímios e perfeitos, achavam-se fraquezas. Sobre Elrond de Rivendell, como exemplo, o professor caracterizou:

“Era belo como um senhor élfico, forte como um guerreiro, sábio como um mago, venerável como um rei dos anões, generoso como o verão.”

Nessa bela descrição não percebemos nenhuma simbologia relacionada à negatividade, seja física ou intelectualmente. Mas pesquisando mais a fundo as obras do nosso “gênio”, percebemos que a fraqueza de Elrond estava em sua linhagem. Ver sua filha, Arwen Undómiel, se abdicar da imortalidade pelo amor à Aragorn, fez o Senhor élfico colocar em prova toda a esperança.... A falta de fé foi sua fraqueza.

Não se pode negar o caráter da herança cristã nas obras de Tolkien. Mesmo baseando-se nas culturas dos povos nórdicos, celtas e anglo-saxões, ele fez questão de criar sua própria mitologia inglesa. Comprovamos isto através de um paralelo traçado entre a teoria criacionista e a obra do professor. Eru ou Illúvatar (Figura de um único Deus) foi o criador de todas as coisas se contrapondo ao politeísmo das outras culturas e mitologia. Além disso, a essência do mal estava presente. Quando Tolkien menciona a queda de algumas “criaturas angélicas” por terem seguido à Melkor ou Morgoth (Figura do Demônio ou Lúcifer) vemos ali mais um ponto baseado na cristandade. Sabemos que é devido a essa exaltação das forças maiores que Tolkien demonstrou as outras criaturas com um caráter corruptível. Muito notório, é que existe o conceito do livre-arbítrio. Onde cada desejo, cada pensamento, cada instante vivido pelos personagens é de uma escolha ou de uma decisão. Os que observam a narrativa de “O Senhor dos anéis” com mais afinco, percebem que há uma alusão entre as fraquezas humanas e os erros cometidos pelos seres da Terra-média. Tomamos como exemplo agora o Regente de Gondor, Denethor: Pai de Boromir e Faramir. O capitão Faramir, pela lei, deveria ter executado Sam e Frodo. Mas o livre-arbítrio veio à tona e com bom coração honroso, apesar de não amado pelo seu pai, o nobre deixou os pequenos seguirem o próprio caminho, provando seu verdadeiro valor. Já Boromir, tomado pelo poder do “um anel” tentou roubá-lo de Frodo, o que fez de sua morte um pesar para Denethor. Como de costume, os homens costumam depositar a confiança nas pessoas erradas julgando pelo externo ou emoções.

O anel é progenitor da corrupção (bonito isso...) que faz todos o desejarem, pois sabiam o poder que tal objeto poderia lhes trazer. Vemos que os personagens desejam o “um anel” não por curiosidade (Nem todos são um Tûk), mas sim, pela possibilidade de governarem a Terra-Média e os que nela habitavam. Percebemos na obra, que o anel exerce um poder inimaginável sobre os personagens. Vemos esse poder exercido em Golum que obteve uma destruição física e psicológica quando em posse do “um anel”.

Por este ponto observamos uma crítica muito grande ao apego pelas coisas materiais que definham e aos poucos consomem os desejos, anseios e o coração dos homens. A grande virtude é o desprendimento da matéria, como foi com Bilbo, Frodo e Sam que venceram a tentação de posse definitiva do anel. Volto a dizer amigos ( A este ponto, já nos tornamos melhores amigos)... Tolkien era um humanista.

Vemos a quebra de paradigmas, preceitos e padrões nas paixões vividas por lúthien e Arwen, que se apaixonam por Béren e Aragorn respectivamente. Em que duas senhoras élficas se apaixonam pelos homens, abrindo mão da dádiva da imortalidade. A fidelidade tem um papel fixo na índole dos personagens seja no amor quanto na amizade. Sam acompanhou Frodo até o final de todas as coisas. Fidelidade notável, em uma amizade “Hobbitiana”. Nos tempos da guerra do anel, a humildade vence o orgulho e a soberba da personificação do mal (Morgoth), mostrando o desejo de exaltação que o professor mostrou nas características humanas. Em uma grande guerra travada pela posse do “um anel”, os que foram responsáveis pela vitória e a destruição do mal foram dois pequenos hobbits, mostrando que não se deve julgar pela aparência, pois só eles puderam levar a cabo a intenção da companhia do anel, que era destruir o “precioso”. Não obstante, fica claro o repúdio de Tolkien à morte. Vemos isso quando estudamos a narrativa da história de Numenorë, onde os homens antigos tinham uma longevidade semelhante aos homens do antigo testamento bíblico. Os elfos podem ser estudados como um arquétipo do homem perfeito: Belos, sábios, fortes e com destreza impecável.

Tudo na obra de J.R.R. Tolkien era uma alusão. Não se assustem meus melhores amigos... Alusão sim! Alusão às características humanas, aos conceitos, preceitos, aos padrões da sociedade, à mitologia nórdica, às culturas greco-romanas e celtas. A mitologia criada pelo nosso gênio Sul-Africano não somente veio de sua fé cristã, afinal seu fascínio primeiramente se deu pela mitologia nórdica durante seus estudos sobre a língua islandesa. A partir daí, existem outra séries de alusões. Os deuses em que os povos nórdicos acreditavam, habitavam no Walhalla: Paraíso Viking semelhante à terra de Aman e Valinor descritas Silmarillion. Outro ponto está nos Trolls da mitologia nórdica, que sempre estavam em conflito com os deuses. Em um conto, um dos trolls rouba o martelo de Thor(deus do trovão) com intuito de destruir Midgard ( O reino do meio) correspondendo a terra-média do “Senhor dos anéis”. Os deuses Vikings eram adorados ao ar livre e não possuíam templos, assim como os numenorianos, nos “Contos inacabados de Numenorë” onde as celebrações à Eru eram feitas ao ar livre.

Um paralelo pode ser traçado também se levarmos em conta a mitologia greco-romana. Os gregos achavam que a terra era plana assim como o mundo Tolkieniano, que era inicialmente plano. Mas os valar acabaram por arredondar a Terra, para evitar que os homens conseguisse chegar à morada dos Deuses: Terra de Aman. Ao mesmo tempo, Aman fazia menção tipológica aos campos Elíseos, que era uma terra ricamente abençoada. Irmãos (Já posso chamá-los de irmãos, afinal, o texto longo nos deu certa convivência)... Identificamos tantos paralelismos, alusões e características de uma fusão bem feita, idealizada em uma obra que resumiu a paixão do professor: O ser humano.

Amigos, melhores amigos e até irmãos. Perdoem-me a intimidade prévia, mas inúmeras coisas aprendi com Tolkien, inclusive a ser um humanista.

Diegus
Enviado por Diegus em 23/05/2009
Código do texto: T1609684
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.