Os aspectos mitológicos do olho de Sauron

Meus irmãos, o forjador do Um anel foi retratado por Tolkien como o antagonista em suas obras. Desde o início dos tempos, Sauron, corrompido por Melkor, mostrou interesse em dominação e perversidade. Mas em quais traços mitológicos o professor se baseou para retratar Sauron a partir da 2ª era?

Após a última aliança, quando o Senhor do escuro teve o anel cortado de sua mão e deixou sua forma corpórea, é observado que a forma mais predominante de Sauron em O Senhor dos anéis é de um olho. Com isso foi inevitável a Sauron ser chamado de o grande olho, ou ainda de olho flamejante ou o olho sem pálpebra. A 3ª era teve seu início, onde ainda existia a presença do grande olho maléfico. Traçaremos a seguir um paralelo entre a simbologia do olho onisciente encontrado em diversas mitologias. possível que Tolkien tenha (seja de forma acidental ou proposital) usado a mitologia do Olho de Hórus quando pensou em retratar Sauron como um olho sem-pálpebra flamejante. O professor já disse muitas e muitas vezes que nunca desejou traçar paralelos com o mundo real em sua histórias. Todavia seus estudiosos concordam que, Tolkien desejando isso ou não, os paralelos estão lá.

“Esse é um dos mais antigos e mais difundidos símbolos para representar a onisciência. Nós o encontramos no Egito e na Índia, e no Egito Olho Aberto representava Osíris... na Índia, Shiva é representado por um olho."

(Carl Claudy, Introduction To Freemasonry: Entered Apprentice, Fellowcraft, and Master Mason Complete In One Volume)

Segundo uma lenda, o olho esquerdo de Hórus simbolizava a Lua e o direito, o Sol. Durante a luta, o deus Seth arrancou o olho direito de Hórus, o qual foi substituído por este amuleto, que não lhe dava visão total, colocando então também uma serpente sobre sua cabeça. Depois da sua recuperação, Horus pôde organizar novos combates que o levaram à vitória decisiva sobre Seth. Era a união do olho humano com a vista do falcão, animal associado ao deus Hórus.

“Ele atirou um de seus olhos no poço de Mimir em troca de um gole de sabedoria...”

(Sail, history of the gods, pg 65)

O que se observa nesse trecho, é uma passagem da mitologia nórdica, em que o deus Odin, ou Wotan, arranca um de seus olhos com as próprias mãos e o joga, como oferenda, em um poço místico, para que alcançasse uma sabedoria maior do que antes possuía. Literariamente, Tolkien, como foi dito em meu texto anterior, sempre manteve a visão cristã com base na teoria criacionista. Se observarmos o personagem Sauron vemos que sua tipologia pode ser facilmente associada ao mal, já que ele exerce o papel de antagonista. Odin renunciou a sua forma física desejada para obter sabedoria. Sauron sob um disfarce de Annatar, o Senhor dos Presentes, se juntou aos elfos ferreiros de Eregion na criação dos anéis do poder. Mas foi na Montanha do Fogo Ardente de Orodruin, ele forjou secretamente o Um Anel. Aprendemos que, mesmo tendo objetivos diferentes, os dois – o deus Odin e o maia Sauron – fizeram renúncias físicas.

Todavia é fato conhecido que todos os Ainur tinham a habilidade de mudar de forma a vontade, sendo que Sauron assumiu diversas formas. Mas novamente temos uma semelhança, pois em muitas passagens sobre as andanças de Odin ele se apresenta sob o disfarce de um viajante, envolvido numa enorme capa azul ou cinza, com um chapéu de abas largas, quebradas em cima do olho perdido, como nas baladas édicas. Odin aparece com pseudônimo de Grimnir (o disfarçado), em uma das lendas.

“Já que o olho que tudo vê representa o Osíris egípcio, vejamos quem é Osíris. Ele cometeu incesto com sua irmã Ísis, o que resultou no nascimento de Hórus... o deus egípcio dos mortos, bem como um deus-sol... Osíris é conhecido por muitos outros nomes em outros países. Na Trácia e na Grécia era conhecido como Dionísio, o deus dos prazeres, das festas e do vinho. Os festivais realizados em homenagem a Dionísio freqüentemente resultavam em sacrifícios humanos e ritos sexuais orgiásticos. Os frígios conheciam Osíris como Sabásio, e ele era adorado como a divindade solar (um deus-sol) que era representada por chifres e tinha como emblema uma serpente. Em outros lugares, ele era conhecido por outros nomes: Deouis, Júpiter-menino, Órion, Saturno, Plutão-menino, Iswara, o Alado, Ninrode, Adônis, Hermes, Prometeu, Poseidon, Butes, Dardano, Hímero, Ímboro, Iaso, Zeus, Iaco, Hu, Thor, Serapis, Ormuz, Apolo, Tamuz, Atus, Hércules, ou Shiva, Moloque e, acredite se quiser, BAAL!"

(Burns, Masonic and Occult Symbols Illustrated, pg 359)

Outro paralelismo é encontrado nesta citação quando se fala da serpente. Como já registrado Sauron podia adotar diversas formas, e durante a Primeira Era, sua forma costumeira parece ter sido a de um feiticeiro escuro, comandando inúmeras criaturas más, especialmente lobisomens. Foi nesta época que Sauron assumiu a forma de um lobo monstruoso em Tol-em-Gaurhoth para lutar contra Huan. Ainda durante a batalha, o senhor do mal se metamorfoseou em uma serpente:

“Contudo, nem feitiço nem encanto, nem garra nem veneno, nem arte demoníaca nem força animal, nada conseguiu derrubar Huan de Valinor. E ele abocanhou o adversário pela garganta e o dominou. Sauron, então, mudou de forma, de lobo para serpente, e de monstro para sua forma costumeira, mas não conseguiu se livrar de Huan sem abandonar totalmente seu corpo. Antes que seu espírito imundo deixasse sua casa sinistra, Lúthien veio até ele e disse que ele perderia sua vestimenta de carne, e seu espectro seria mandado trêmulo de volta a Morgoth”

(J.R.R Tolkien, O Silmarillion, pg 114)

Ficam registrados assim, mais uma vez, os padrões da herança cristã de Tolkien. A serpente, tipo de idealização do mal e do engano na história do pecado original está presente. Sendo simbologicamente representada no momento furtivo de Sauron. O professor faz questão de evidenciar o bem e o mal em suas obras.

O deus Baal também pode ser associado à figura de Sauron. Esse deus era adorado pelos antigos habitantes da Mesopotâmia, sendo que mais tarde Baal deu origem ao nome Beliel ou Belial. Este personagem teve a sua origem muito anteriormente como o príncipe do mundo epíteto que lhe garantia uma superioridade em relação aos outros componentes da divindade desta época. Este deus era conhecido também por Enki - O Senhor da Terra. Se analisarmos etimologicamente a origem do nome Enki, veremos que se trata de um deus do subterrâneo, equivalente ao caos primordial de outras culturas antigas.

Irmãos, é visto que as semelhanças são notáveis, mas não podemos julgar como regra. Pode ser que Tolkien tenha desejado fazer uma personagem de maneira despretensiosa (o que eu não creio) mas estamos aqui para pesquisar, não é? Seja como for, paralelismos e analogias com as obras do professor sempre serão feitos. O que não podemos deixar de frisar foi à bem sucedida criação de uma mitologia própria e que se fortifica mais e mais através dos tempos. Pesquisas, devaneios de autores e amantes da cultura Tolkieniana nunca acabarão, isso é fato. É uma eterna busca. Mas se um dia essa busca cessar... podem ter certeza, a 4ª era terá início.

Diegus
Enviado por Diegus em 29/05/2009
Código do texto: T1621466
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