Questões de Gênero - Algumas Razões para SER - Muitos motivos para ESTAR

OBS.: Seria interessante que antes lesse o texto Questões de Gênero - ser ou não ser? Eis a questão para melhor entendimento.

Capítulo II

2 ALGUMAS RAZÕES PARA SER.

Aprendi na Bíblia Sagrada que Jeová Deus criou os seres humanos; homem e mulher os fez. Sendo que primeiro criou o homem e por último a mulher. O primogênito da criação humana fora criado do barro e sua companheira de uma de suas costelas.

Por conta disso, posições mais radicais defendem que a ordem observada no ato criador define os papéis sociais de ambos. A situação da fêmea agrava-se após a queda e posterior expulsão do casal do Jardim do Éden, quando Deus diz que a mulher seria submissa ao homem, seu desejo pertenceria ao marido e teria dor ao dar à luz um filho.

Nos séculos subseqüentes este episódio da criação será usado como argumento em favor de posições machistas que marginalizam o sexo oposto, embora as palavras do Criador definam a mulher como adjuntora, ajudadora; não como escrava. Infelizmente, tal pré-conceito encontrará eco ainda nas relações contemporâneas.

A submissão, neste caso específico, deveria ser entendida como sinônimo de docilidade, humildade, não como autorização expressa dos Céus para o macho fazer da fêmea um escravo particular; quando se diz que o seu prazer seria para o seu marido, fora dito também que o desejo do marido pertenceria à mulher. Isso no sentido de que ambos estariam ligados por laços bem mais fortes do que meras convenções sociais.

No entanto, não há nestas declarações nada que autorize o preconceito, o descaso, e a marginalização para com a mulher. Embora isso aconteça ainda hoje, um olhar mais atento permitirá enxergar um movimento em prol das causas feministas já no século I a. D.. Jesus em seu trato pessoal com as mulheres, apresentando um padrão diferente do adotado pela sociedade de então.

O Jovem Galileu dá o tom, ele sugere qual o verdadeiro papel e lugar da mulher independente de sua condição financeira, etnia ou credo. Quando era proibido falar com ou estar no mesmo ambiente que prostitutas – hoje conhecidas profissionais do sexo – ele não só falou, como as ouviu, animou, tocou e deixou-se tocar, amou-as e elevou-as ao seu devido, mas negligenciado e subtraído lugar.

Uma escritora norte-americana diz que os desprezados e as desprezadas fluíam para Cristo como as águas do caudaloso regato buscam o mar, para encontrar nele paz, afeto e compreensão, é curioso notar que em nenhum momento é mencionado um tipo de tratamento que anulasse ou marginalizasse o outro.

Os discípulos de Jesus Cristo deveriam seguir cabalmente seus passos. Pedro e Paulo escrevem exaustivamente aos maridos para que “amem” as suas esposas assim como Jesus amou a sua igreja – as pessoas – e entregou sua vida por ela. Não sei se você acredita ou não na história bíblica, leitor amigo, mas um fato é incontestável, independente de nossa crença ou falta dela as sociedades que adotaram o cristianismo como regra de fé, após o exemplo do pobre Filho do Carpinteiro, deram um tratamento diferenciado às chamadas minorias discriminadas, sobretudo à mulher.

Como fonte cristalina no ermo, água ao sedento peregrino e bálsamo à ferida as palavras e atitudes de Jesus mostraram ao mundo que o Ser mulher não pode ser nem o é sinônimo de maldição ou castigo divino. Isso motivou muitas mulheres dando-lhes uma forte razão para desejar SER.

O comportamento do inspirador do cristianismo, bem como o de seus discípulos, elucida um paradigma comportamental que aqui chamo de Razões de Ser, uma vez que suas atitudes, em contraste com as convenções da época, quebraram correntes e derrubaram muros de preconceitos absurdos que buscavam justificar-se na Palavra de Deus; na religião.

2.1 MUITOS MOTIVOS PARA ESTAR

A literatura é uma arte. E que arte maravilhosa ela é. Pode-se dizer dela ainda que é um produto resultante do fazer humano. Só o Homem pode produzir literatura. Acho isso fantástico! Não há um ser sequer que possa produzi-la. Por conseguinte, tal arte reflete tão somente, ou pelo menos deveria, as necessidades do homem, a razão mais sensata para tantos movimentos, manifestações e surgimento de escolas literárias.

Chega um momento em que o modelo literário vigente não mais atende às necessidades da sociedade. Isso pode ser observado não só na referida área, mas na Arte como um todo: música, arquitetura, pintura, teatro, cinema etc.. Ou ela atende aos anseios do povo ou não faz sentido. À medida que o homem muda, mudam também as manifestações artísticas. E a literatura absorve homem e sociedade, confunde-os de maneira tal que por um momento não se sabe quem influenciou ao outro na verdade: se a arte ao ser ou o ser à arte.

Um fato é que ambos se refletem, se explicam. Expandem-se como mar e rio, como chuva: gota a gota caindo n’alma, enchendo vidas, regando sonhos, criando necessidades de pontes, contornando obstáculos, oportunizando encontros, sugerindo a vida. Porque literatura é a vida em palavras, é vida ávida por encontrar ecos, figuras, formas, anseios.

Alguém disse que há por aí uma literatura desesperada. Eu digo que há uma literatura promíscua; não é desta que falo, não é esta que inspira e sugere vida. É aquela que incita ao sonho! Exemplo dessa literatura é a amadiana. Quando leio Jorge sinto-me naquela Ilhéus imponente e bela: tela majestosa – que o tempo, inimigo cruel, não me permitiu conhecer, mas – que a literatura pintou e exibiu bem em minha frente.

Gabriela, cravo e canela me fez sentir o cheiro de terra molhada, o gosto “dos quitute”, da maresia, “dos ‘pexe’”, “dos caju”; ouvi a música, dancei e bebi no Vesúvio, tão cheio de pernas e sorrisos que mais parecia o próprio vulcão iniciando maravilhosa destruição, tamanha a agitação. As ruas de terra, o progresso chegando, o olhar receoso e resistente dos coronéis, a expectativa dos visionários, a alegria e motivação dos empreendedores adotados pela terra; o ciúme da Capital. Até isso eu senti.

Amei tanto a São Jorge dos Ilhéus de Jorge que odiei Salvador. E de repente, fortes e arrasadoras como chuvas de verão, entram em meu devaneio Gabriela, Tieta, Flor, mulheres belas cheirando a simplicidade, corpos perfeitos, beleza exclusivamente brasileira. Formas e contornos que deixaram a prosa do Jorge uma delícia.

Com olhar atento de anarquista convertido ao capitalismo, (ninguém é perfeito, não é verdade?) O amado Jorge apresenta-nos uma mulher ousada, à frente do seu tempo e das convenções sociais, isso no caso de Gabriela e Tieta, pois Flor era mais recatada, mais presa as rédeas da opinião pública.

Em Amado temos uma Mulher que busca e realiza-se sexualmente, que com exceção de Florinda, usa o macho para satisfazê-la sem o compromisso marital, que trabalha fora de casa, que estuda, e tem no corpo, no encanto, na beleza, na faceirice, nos dengues, no sexo uma oportunidade. Oportunidade de ser deflorada, de gozar no sentido lato da palavra.

As figuras femininas da referida obra são dominadoras, fortes, conscientes de sua capacidade de sedução e todas sedentas por prazer, mesmo que para isso fosse preciso “esconder-se” no matrimônio, como fez D. Flor que por arder em chamas de tesão concordou em casar-se com o senhor Teodoro, que por sua vez não era lá grande coisa entre quatro paredes. Não para ela que havia sido introduzida na putaria pelo mestre do puteiro: o finado Vadinho.

O amado Amado com sua pena mágica nos convida a perceber àquela fêmea, que Cristo alforriou, emergindo das margens do mar cozinha e bradando por liberdade. A mulher amadiana em questão não ‘tem pudor’, usa o macho para aquilo que quer quando lhe convém. É até capaz de invocar desejos adormecidos como o falecimento do primeiro marido e ressuscitar fantasias.

Em alguns momentos esconde-se na falsa virtude de uma sociedade machista, não revela ao cônjuge suas vontades mais ocultas e trás do além a memória daquele que não pode censurá-la tampouco condená-la por ser mulher, por arder em chamas, por querer prazer, por desejar em um momento na vida ser deflorada como uma puta.

Claro que ainda há nas cenas pintadas por Jorge Amado muito preconceito para com as figuras femininas que transitam na sua prosa, no entanto, observa-se que há um grito de alerta como que dissesse: olhem, sou a nova mulher! Estou indo aos bares, trabalho fora de casa, transo quando e com quem quero, quantas vezes quiser, não quero mais o jugo pesado do matrimônio a menos que me seja favorável.

Olhem – diz: sou intelectual. Sou puta. Sou fogosa, acanhada, sou cozinheira, professora, deficiente, mãe, filha, mas, sobretudo, sou mulher e este espaço é o que reivindico!! É um movimento silencioso, sem bandeiras, passeatas, sem discursos memoráveis, sem queima de peças íntimas.

Não há nudez desfilando pelas vias públicas nem se banhando nas fontes das praças das capitais, no entanto há um burburinho que vai crescendo, há uma revolução ganhando corpo, porque a história não pode mais sufocar esse grito. Porque o capitalismo disse em alto e bom som: CONSUMIR!

Consumir é preciso! E quanto mais indivíduos autônomos, geradores de renda maior será o consumo. Esse contexto histórico abre alas à mulher, uma vez que os avanços tecnológicos, a re-significação de valores remodelam a sociedade e concebem novo padrão moral e comportamental. Há, portanto, uma nova configuração do SER e do ESTAR mulher. Um mar de razões para SER e um oceano de motivos para ESTAR.

No passado Ser e Estar se confundiam, uma vez que o SER determinava ou ditava o ESTAR. Assim, quem nascia mulher era obrigado a comporta-se como tal, idem para quem nascesse homem (salvo em raríssimos casos. Como aqui, bondoso leitor, não nos ocupamos da exceção e sim da regra, eximo-me de maiores explicações) na sociedade retratada na prosa jorgeamadiana não se obedece a estas convenções, pois há pessoas que apresentam comportamento socialmente atribuído ao sexo oposto.

As relações identitárias de gênero acontecem ao passo que, mesmo sendo vítimas de violências várias, essas pessoas seguem suas vidas, ainda que consideradas na contramão do mundo, agindo de forma antinatural – neste caso o natural seria homem relacionar-se sexualmente com mulher e vice-versa. Há quem diga que a preferência de um jovem negro por indivíduos do mesmo sexo é um vício, algumas pessoas de determinadas regiões brasileiras tratavam o caso como sendo uma “doença”.

Nesses casos específicos, é mister observar que o SER não é determinante do ESTAR. O ESTAR, ou seja, sua opção de gênero é quem determinará suas ações, escolhas e comportamento social; sobretudo no que concerne à prática sexual. O ESTAR confere ao indivíduo status flutuantes de atuação, pois ora atua como mulher, mãe, religiosa, cozinheira, esposa ora figura como parceiro libidinoso; agente da volúpia e avesso à moral, uma puta de marca maior, uma gata no cio, este último status independe do sexo.

Fora dito anteriormente que Literatura é ARTE. Mas Literatura também é ciência, seu objeto de estudo é a palavra. E como ciência presta serviços à sociedade, no caso da obra discutida é perceptível este caráter, haja vista, permite levantar várias discussões a cerca das relações identitárias de gênero.

Em sua obra, o autor grapiúna vislumbra um panorama de metamorfoses sócio-econômicas e a nova configuração da mulher. Jorge prenuncia o advento de uma nova fêmea: a “fêmea fatal”. A mulher que ameaça; que marca território, que luta pelos seus direitos, que força uma re-significação e nova configuração da família.

Mulher competitiva, competente, geradora de renda, sonhadora, humana, mulher “macho sim senhor” que não se rende às convenções sociais, que não abre mão da vaidade, dos chamegos, dos caprichos da fêmea, mas que não se curva sob o jugo servil. A nova mulher busca uma espécie de ESTAR HOMEM.

Isso não tem que ver com relações homossexuais, lesbianismo, todavia com aquele status que durante séculos fora exclusividade masculina. Coisas simples: fumar, bebericar com os amigos, falara em público, votar, candidatar-se, jogar futebol, freqüentar ambientes etc.. Ações que em nossa sociedade servem como indicadoras e definidoras de status.

Essa questão lembrou-me um episódio que presenciei recentemente. Por questões meramente estéticas compartilharei a história contigo, amigo leitor, no parágrafo seguinte.

Outro dia visitei um jovem professor, amigo meu, pai de um menino de três anos. Conversávamos, quando a criança dirigiu-se ao pai e perguntou inocentemente: “Papai, você quer namolar comigo?” Gargalhada geral, que menino arteiro! O pai vaidoso abaixou-se, colocando-se no mesmo plano visual do pequenino e respondeu: “o papai não pode namorar o filhinho porque menino deve namorar menina. E você e o papai são meninos. Repete comigo; menino namora menina!”

Percebe leitor, como construímos nossas convicções e as transformamos em acordos sociais unilaterais e, arbitrariamente, pré-definimos os status? Não confunda o leitor isto com uma defesa para esta ou aquela opção sexual, não se trata disso. A questão é que a criança sequer tem noção do pedido que fez, mas já está instruída a cerca do comportamento e das escolhas que deve fazer e como fazê-las quando crescer. São convenções estabelecidas sem prévio acordo.

A busca feminina por espaço e autonomia, como era de se esperar, suscitou a resistência da sociedade e mesmo entre as mulheres houve quem se opusesse ao movimento, ou melhor, a esta nova concepção de mulher. Tão enraizadas eram as crendices, tão cauterizadas estavam as mentes pela igreja, pelo Estado, pela própria sociedade que sustentava que lugar de mulher era em casa cuidando do marido e dos filhos ou na cozinha.

Que fosse, mas ela também queria as ruas, os bondes, as praças, as sorveterias, a bossa, a cama, a poesia; a noite. A doce volúpia de um beijo roubado, de uma mão boba “no escurinho do cinema chupando drops de anil” ou sabe lá o que quisesse chupar ou deixar chupar, pegar, despudorar, amassar.

Simplesmente queria o direito que muito tarde a constituição lhe concedeu. Que bom! Pois os desejos de ESTAR tendem a determinar as ações do SER. E quando SER e ESTAR se irmanam o equilíbrio acontece. Pode-se perceber isso nas personagens femininas do Jorge Amado.

Para constatar isso, querido leitor, note que Flor só se realiza enquanto MULHER quando aprisiona em seu regaço o doutor Teodoro – bom marido, honesto, comprometido com a moral e os bons costumes, mas que praticava um amor “feijão com arroz cotidiano”; o “papai-mamãe dos casamentos-nossos-de-cada-dia” – e o lascivo Vadinho, putanheiro de carteirinha, pífio; no sentido lato da palavra, mas gostava da ‘rapadinha’, que lhe apertava forte, mordia, fazia-a cachorra, vadia-a, espancada, humilhada, mas sexualmente realizada.

Gabriela que faceira se entrega ao peão, ama-o com os mais requintados despudores do desejo da carne, que faz o mundo enamorado, que conquista o árabe, mas tão somente para o seu bel prazer, rende-se às cadeias do compromisso apenas no momento que a convém. Nas horas frias, solitárias e tristes das noites no deserto, por exemplo.

Não é muito diferente com Tieta, sendo mais apimentada é verdade. No entanto, tão senhora e dona dos desejos daqueles que a rodeiam como as duas outras e, como elas, tão desejosa de pecar, de devorar e ser devorada. Histórias, espaços e tempo diferentes, personagens que se inter-relacionam, permitindo-nos pela perspectiva destas mulheres contemplar a anunciação do nascimento de um novo ser. Ser que em suas buscas, conquistas e realizações compreende em si as prerrogativas do SER e do ESTAR.

3 Considerações Finais

Penso que nestas linhas finais cabem algumas explicações acerca da estrutura deste, que se espera seja um texto monográfico. Durante muito tempo discute-se sobre originalidade e o ineditismo das produções acadêmicas, no entanto o que se tem na prática é uma constante e contínua repetição. Recorta-se o que fora dito, cita-se um punhado de teóricos, reproduz-se pensamentos, muda-se uma ou outra expressão e pronto: tem-se uma monografia.

Já ingressei na faculdade cansado disso: produzir ou reproduzir para nada. Pois na maioria dos casos o que é discutido no âmbito universitário se perde no imenso abismo do descaso e falta de compromisso de docentes e discente, acaba preso nos muros de concreto da burocracia do mundo acadêmico. Enxergo nesta uma oportunidade de fazer algo diferente, Independente da nota que receberei pelo mesmo.

Não faço citações diretas, poderia fazê-las, fazendo-as, segundo a norma, dá-se veracidade ao texto, mas porque preciso que um teórico torne minhas experiência e considerações verdadeiras? Será que preciso de J. Cüller ou seria mesmo necessário beber em Massud Moisés – eu, ‘um baiano nato no sentido lato’ – para saber que o cheiro que sinto quando leio Jorge é do “cariru” de Flor, meu rei?! Será que sou incapaz de perceber – sem que esteja debruçado em um teórico – que aquele gosto acredoce que me vem à boca, quando nas madrugadas lentas converso com Gabriela, é do caju colhido no próprio pé? Acredito que não.

Seria mesmo necessário um referencial teórico que me suporte quando, às vezes, nem eu mesmo consigo de tão chato que sou? Preciso não bichinho! Tomo o volume nas mãos e automaticamente, num cantinho do meu ser, ouço aquele grave maravilhoso do Caíme cantarolar: “é doce morrer no mar...”, isso quando o velho Lula não rouba minha saudade e em sua sanfona toca majestosamente: “inté mermo a asa branca foi simbora do sertão...”. Não há teórico que possa me dá isso.

Não podem dizer-me – que quando passeio pelas areias escaldantes do sertão embriagado pelo cheiro de Tieta, correndo atrás de suas cabras, com sua pouca roupa surrada pelo sol, teimando em expor seu corpo delicioso e rijo – que a música que ouço é a melodiosa voz do vento interpretando “Catito”.

E se tu, por ventura, não me entendes, caro leitor, saiba que me consolo com a idéia de que há muita gente incompreendida no mundo (embora minha intenção seja bem outra). E isso vai além das relações identitárias de gênero ou quaisquer outras relações identitárias. A pretensão foi analisar como a literatura, enquanto ciência, comportou-se diante de tantos avanços e mudanças, e como a obra amadiana atentou para o papel da mulher naquela sociedade em transe.

Ao fim da discussão proposta, percebe-se que as relações identitárias de gênero se dão em dimensões que devem ser compreendidas não só enquanto o SER homem ou mulher, mas como e em que circunstâncias homem e mulher podem SER e optar pelo status preferencial ou melhor, status que lhe permita ao mesmo tempo SER e ESTAR no mundo independente de ser masculino ou feminino.

As discussões permitiram, ainda, entender que tais relações identitárias devem ser melhores observadas tanto no ambiente profissional, quanto no doméstico, a fim de que na tentativa de se evitar a perversão da moral e dos costumes não se acabe por proporcionar um clima de preconceito e intolerância como o visto em alguns momentos das tramas: Flor expulsa de casa pela mãe que a educara para o matrimônio arranjado; Tieta que é ‘empurrada’ pela família para o mundo da prostituição e Gabriela sofrida pelo simples fato de ser mulher, ser pobre, desejada apenas como objeto sexual, por suas prendas domésticas e seus atributos femininos.

Não me detive em adentrar nos livros discutidos simplesmente por julgar que texto monográfico não é espaço para resumos de obras ou biografia do autor, vivemos o momento da informação, da velocidade e esses por menores esvai o tempo. A vida urge, precisamos re-significar o tempo e os espaços e rever nossas prioridades, para quem sabe sofrermos metamorfoses significativas que resultem em posturas mais tolerantes.

Optei por esse estilo: linguagem informal, escrita em primeira pessoa, histórias do meu cotidiano, exemplos vividos não por arrogância, falsa modéstia ou por rebeldia, mas por acreditar que o mesmo era o mais adequado à proposta. Quando o fiz pretendia me divertir lendo e produzindo, quando me causou dor interrompi e refleti, quando me deu prazer aproveitei-o ao máximo.

Querido (a) espero que você possa aproveitá-lo também de alguma forma, pois esta é a maneira que nos conheceremos pelo menos no primeiro momento. Assim acontecem as relações identitárias, assim se constroem as identidades: com coisas ou momentos, ou ainda, com escolhas que se lhe dão prazer ou oportunidades.

Por fim, percebeu-se a literatura como um instrumento eficaz a serviço do homem e da mulher. Pois como objeto exclusivamente humano reflete tão somente sua necessidade e seus anseios. Claro que isso não furta ao texto literário suas prerrogativas ímpares que o tornam exatamente aquilo que é. Com suas possibilidades permite interpretações várias, inferências e conclusões de tantas e complexas maneiras o quanto são as pessoas.