O Penhasco da Existência II

Um homem está à beira de um profundo penhasco. Ele encara a extensão e a profundidade desse penhasco, e então pensa consigo mesmo: “Aqui está o que está reservado, aqui está o que me destinado: a inevitabilidade da Morte. Eu poderia mergulhar agora mesmo nesse abismo, e acabar finalmente com esta angústia que está entranhada em minha consciência, e em todo o meu corpo. Então, por que não pular agorinha mesmo? Por que a grandiosa sociedade pós-moderdista e pseudo-moralista, e meus amigos, e meus familiares, todos enfim me classificariam de “fraco, de covarde, e de louco”? Ah! Pouco me importa as opiniões e conceitos das pessoas, pouco me importa os malditos rótulos preconceituosos cuspidos pela sociedade, por psicólogos, por religiosos, todos eles pensam conhecer e deter certas verdades em suas mãos mentirosas.

O que me impede de pular? O medo de um castigo divino por talvez existir uma vida após a morte? Meras cogitações e abstrações para incutir medo e controlar o comportamento das pessoas. Será o medo da dor ao imaginar meu corpo sendo quebrado e partido intensamente pelas rochas lá embaixo? O que me impede de mergulhar conscientemente e lucidamente nesse penhasco? O meu amor que injetei por mim mesmo pela vida, por estar habituado a querer continuar a viver? Várias coisas que eu poderia fazer, conquistar, aprender, vivenciar, experimentar,como se tudo isso fossem honrosas medalhas a serem exibidas diante do espelho e dessa platéia hipócrita? Medalhas que só atestam e comprovam que eu venci várias coisas, que conquistei várias coisas, e por tanto sou o grande herói de minha existência destinada a ser devorada por vermes, a se decompor, a se tornar pó, e ao esquecimento... Grandes vitórias triunfantes e inúteis no final das contas.

O arbítrio, a liberdade que possuo é simultaneamente uma dádiva e uma maldição. O livre-arbítrio é um grande peso, é um terrível fardo que cada indivíduo tem que saber lidar. O homem poderia retornar para seu caminho, para sua vida trivial, para seus afazeres que tentam lhe auto-convencer que este homem, e cada homem em si, é útil e essencial. Piada hilariante. Este homem poderia fugir desse penhasco,mais ele sabe que cedo ou tarde ele terá que enfrentar esse abismo inescapável. Então, esperar até a velhice para ser aplaudido como um herói vitorioso, como um exemplo a ser seguido, como mais um número estatístico que o governo utilizará para mostrar as outras nações sua “alta expectativa de vida”, e por tanto, que se é um país desenvolvido? A tua velhice servirá como propaganda utilizada pelo governo para ser bem apreciado e agraciado pelas demais nações como sendo um “país de primeiro mundo”. Que grande feito meu Deus!!!

Então, que direções e caminhos a se tomar? Fugir provisoriamente desse abismo para os braços de alguma religião, ou para alguma profissão estimada pela sociedade; ou se esconder em um belo casamento, na educação dos filhos, no amor a se dedicar a mulher para não sentir a si próprio, e os horrores interiores que escondemos de todo mundo?; ou quem sabe se refugiar em ideologias, dogmas, convicções, não importa em que castelo fortificado, e em que refúgio aparentemente inabalável e prazeroso possa o homem habitar a fim de brincar de viver, de pensar, de fazer coisas, de existir, não importa, esse penhasco está em todos os lugares, em todas as ilusões, em todos os amores,em todas as verdades, em todos os oásis religiosos, esse abismo incomensurável está inserido em todo o Universo. Esse penhasco angustiante, apavorante e ao mesmo tempo belo, reside no âmago de cada pessoa, germina e floresce na consciência humana, e jorra seus frutos estranhos, imperscrutáveis e intransponíveis no arbítrio que cada indivíduo tem que assumir, de uma forma ou de outra...

Contudo, pense nisso: A liberdade não existe, mas sua estrada intangível permanece no mundo e no olhar humano.

Gilliard Alves Rodrigues

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 10/06/2009
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1641509
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