O pior dos animais

“Quanto mais conheço o homem mais eu gosto do meu cão”. Esta frase, extraída da música “O homem e o cão”, de autoria do compositor mineiro Ataulfo Alves, em parceria com Arthur Vargas Jr., resume bem a sensação que sempre tenho diante das centenas de notícias diárias envolvendo a brutalidade humana.

Com mais de 6 bilhões de exemplares espalhados pelos quatro cantos do planeta, o ser humano é o único predador que mata e destrói ao bel prazer ou por pura perversidade. Leitores assíduos da National Geographic ou aficionados pelo Discovery Channel, talvez inconformados com uma afirmação tão sem embasamento científico, podem até apontar exemplos de outros animais que façam o mesmo. No entanto, é difícil para qualquer um negar que estamos no topo da cadeia predatória de todas as espécies animais e vegetais, desencadeando, inclusive, um processo perigoso de autodestruição.

São tantos os exemplos de agressões e matanças perversas proporcionadas pelo ser humano ao longo da sua própria evolução que seria preciso uma vida inteira de leituras de obras sobre o tema para alguém tomar conhecimento de tudo neste sentido. Há quinze dias, no Tribuna Livre (jornal de Viçosa-MG em que sou redator e articulista), um texto enviado por Neiva Aparecida Pereira Lopes – publicado com o título “Crônica da Vida Real” – aguçou a minha convicção de que, felizmente, temos também em nossa espécie o contraponto da destruição.

A dor que ela narra ter sentido no dia em que testemunhou, em Viçosa, o atropelamento proposital de carneirinhos por dois ocupantes de um “carrão preto de vidro fumê” me confirmou a tese de que temos salvação. A sua estupefação diante daquele crime foi tanta que ela sentiu necessidade de desabafar com as pessoas que passavam pelo local, chegando ao ponto de buscar alento em um homem que, logo depois, apresentou-se como um ladrão. O rapaz roubou a sua bolsa, mas, diante do seu pedido para devolver os documentos, deixou seu pertence pendurado em uma árvore um pouco mais à frente, como chegou a prometer que faria.

“Ele roubou um relógio, meu celular e dois maços de cigarros. Ele não encostou na minha carteira, que continha documentos, cartões de crédito, de banco e 40 reais em dinheiro. Este ladrão foi muito mais humano que aquelas pessoas do carro; ele me roubou com dó. Ele é um pobre coitado, fruto da miséria humana, das desigualdades sociais, que tanto conheço, mas este pode ser recuperado; demonstrou que, apesar de ladrão, ele é humano”. Esta foi a moral da história que a leitora-cronista enviou por e-mail ao Tribuna, pedindo para que ela fosse compartilhada com os milhares de leitores do jornal.

Ao longo de minha vida, desde a infância, tive o privilégio de conviver com cães, gatos, aves e tartarugas de estimação. Posso afirmar que tê-los por perto é ter a oportunidade de aprender muito sobre afeição gratuita, baseada em ações e reações instintivas. Thor e Bial – os dois gatos que eu e minha esposa criamos – são seres tão puros e afetuosos que às vezes me sinto incapaz de ter a mesma nobreza deles.

Já está mais do que comprovado que um animal de estimação pode até mesmo ajudar uma pessoa a se recuperar de enfermidades graves. O motivo? Muito simples: eles se entregam aos seus amigos humanos com tanta verdade, com tanto afeto que o amor resultante desta troca age como uma espécie de remédio, de terapia. Os bichinhos não deixam dúvidas sobre possíveis segundas intenções em suas atitudes, tão comuns nas relações humanas.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 19/06/2009
Reeditado em 08/08/2010
Código do texto: T1656605