O PORTUGUÊS SOBE AO ESPAÇO

Língua; sentimento de nacionalidade; cultura, ciência e pesquisa autônomas são os pilares essenciais da Soberania Nacional” - S.M.P.


     Com a subida de nosso primeiro astronauta, o comandante Marcos César Pontes, ao espaço sideral, no final de março de 2006, permanecendo por dez dias em órbita, a bordo da ISS (Estação Espacial Internacional), a língua portuguesa conquistou mais um feito extraordinário, como uma das poucas a serem faladas – e ouvidas na Terra – a partir de uma espaçonave situada a milhões de quilômetros de nosso planeta, entre os astros da galáxia a que pertencemos. Foi para nós, como pensamos ter sido para muitos milhões de lusófonos, mundo afora, uma enorme e gratíssima emoção ver e ouvir, com total clareza e limpidez sonora, nosso representante nas alturas cósmicas expressar-se acerca de suas sensações e anseios em nossa língua comum. A expressão de alegria, a certeza do sucesso estampada nos gestos, a bandeirola pátria afixada na manga esquerda do uniforme e, depois, a exibição do pavilhão nacional e de uma bola de futebol, a simbolizar o esporte de que somos pentacampeões mundiais, encheu-nos de ufanismo e justificado orgulho.
     O brasileiro via de regra desconhece ou não sabe aquilatar, em sua integral extensão, a riqueza que nos foi legada pelos nossos descobridores e colonizadores, por isso que não valoriza fatos e feitos notáveis que realiza ou propicia.
Para além da extensão territorial, de proporções continentais, herdamos um riquíssimo patrimônio cultural e populacional difícil de encontrados em outros Estados soberanos, em que se há de ressaltar o harmonioso polimorfismo étnico, com seus múltiplos dizeres, saberes e fazeres, de par com a unicidade linguística.
     Bem precioso do cabedal sociocultural de nossa gente, a língua portuguesa deve ser conservada, preservada, exalçada, com o máximo de orgulho e zelo, pois um dos elementos responsáveis pela unidade de nosso povo, de nossas terras, de nossa cultura, de nosso “jeito de ser”, conquanto disso muitos não se apercebam. Quantas vezes ouvimos referências a idiomas alienígenas, igualmente importantes uns, outros nem tanto, serem decantados como superiores ou de maior valia que o nosso belo, prestante e sonoroso linguajar lusitano, por ignorar o real alcance e importância de nossa forma de expressão.
     O português, na atualidade, conquista posições e ostenta destaques que o põem no patamar das principais línguas faladas no mundo, cotejado com mais de 13 mil maneiras de expressão, entre línguas e dialetos (milenares alguns) utilizados pelos habitantes de nosso planeta, como a seguir se verá.
     O idioma camoniano é o 5° mais falado no mundo, em termos absolutos, com próximo de 300 milhões de usuários, ultrapassado apenas pelo mandarim (chinês), indi (ou indu), inglês e espanhol. Mas se levarmos em conta que o mandarim só tem livre curso na China e o indi na Índia, logo inferimos que isso reloca o português na terceira posição e o insere entre as chamadas línguas universais de cultura (falada em várias partes do mundo), à frente de outras tantas e outrora dominantes falares como o alemão, francês, italiano, russo, árabe, só para pôr alguns exemplos. É também a 3ª mais falada na banda ocidental de nosso orbe terrestre. Esses dados, juntamente com muitos outros que daremos a seguir, podem ser coonestados e esmiuçados percorrendo o recém-criado Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, cuja visita deveria ser estimulada a todos quantos têm interesse ou curiosidade pelo tema.
     A “última flor do Lácio” é, ao lado do inglês, espanhol e francês, um dos quatro únicos idiomas falados nos seis continentes, como oficial, a ver: na Europa Portugal é a expressão maior e o berço do idioma e onde se processou, também, sua lapidação, pelo gênio de iluminada cerebração, Luís de Camões, elevando-o ao pataréu de língua literária e culta. Na terra portuguesa (continental e insular) a língua é falada com exclusividade, o que é exemplar, eis que no eurocontinente são raras as nações monolíngues. Na África o português é oficial em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e no arquipélago de Cabo Verde e cooficial na Guiné Equatorial (junto co o francês e o castelhano).
     Na Ásia a lusa língua foi oficializada e assim permanecerá por pelo menos mais 45 anos no antigo encrave lusitano de Macau, devolvido à China em 1999, por força de acerto diplomático. Na Oceania, o Novíssimo Continente, também estamos presente, eis que o mais novo Estado soberano, o pequeno, mas heróico, Timor-Leste, que se independentizou em 2002, adotou como oficial o idioma de seus primevos colonizadores, em gesto espontâneo e soberano de seu altivo povo. Na “quarta parte nova” (a América, nos versos de Camões) a língua portuguesa tem seu domínio máximo, representado pelo Brasil, 11ª maior economia mundial num universo de 219 Estados soberanos, afora alguns outros territórios com autonomia relativa, e país líder da América Latina. No Continente Branco, a Antártica, o Brasil integra o fechado e seleto grupo de 26 países a disporem de bases instaladas para pesquisas científicas diversas, com a Estação “Comandante Ferraz”, assentada na Ilha Rei George, e outras móveis, em pontos diversos, que integram o Projeto Antártico Brasileiro – PROANTAR, sobre o qual publicamos artigo específico na Edição n° 33 de Pará +. E lá se fala, raciocina e escreve em português, obviamente.
     Essas oito nações soberanas compõem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, fundada em 1996, que congrega os Estados de expressão oficial portuguesa e tem por objetivos principais promover e expandir o idioma pelo mundo, estreitar os laços de fraternidade e facilitar a cooperação política, social, econômica, financeira e cultural entre seus componentes. Essa entidade vem pugnando, de várias formas, pela adoção, pela ONU, da língua portuguesa como uma das oficiais naquele foro supranacional, o que se impõe premente. Ressalte-se que o português já é oficial na União Européia e no MERCOSUL, o que muito tem feito aumentar sua difusão naquele continente e no nosso.
     Teríamos ainda inúmeras outras facetas a destacar sobre essa fantástica forma de comunicação, mescla do linguajar clássico lusitano com os ornatos que os brasileiros (ameríndios), africanos e entes outros encorpamos, num soberbo sincretismo, tornando-a numa das de mais rico acervo lexical, estimado em mais de 650 mil palavras, exercitada, como ficou visto, em todo o mundo, valendo salientar que comunidades lusófonas estão presentes em muitos outros países, além dos que conformam a CPLP, tais como: EUA, Reino Unido, Japão, Venezuela, Argentina, França, Espanha, Canadá, Holanda e sítios regionais isolados como Goa, Diu e Damão, na Índia, ademais de focos pontuais de dialetos ou crioulos de base portuguesa, resquícios da extraordinária expansão ultramarina lusitana que logrou “dar novos mundos ao mundo”.
Indiscutível e a cada dia maior a expressão e expansão da lusa fala no que concerne à divulgação de conhecimentos, da cultura, das ciências, em todas as áreas, o que se processa pelos mais diversificados meios disponibilizados pela mídia, em todas as suas vertentes, a contemplar os lusófonos dispersos por todos os recantos do globo.
     Para finalizar, uma constatação de magna relevância: lusófonos e hispanófonos (de fala espanhola) juntos ultrapassam, de longe, os 600 milhões, mais de 10%, portanto, dos seis bilhões de viventes do mundo atual. Se levarmos em conta que os dois idiomas ibéricos são bastante assemelhados, com possibilidade fácil de intercomunicação, o “portunhol” (ou será “espanhês”?) passa a ser a “língua” mais falada do mundo contemporâneo, isto é, os que se expressam no linguajar de Camões, ajuntados aos que se comunicam no falar de Cervantes, são mais numerosos que os que têm como língua-mãe o vernáculo anglo-saxão de Shakespeare.
     Camões, n'Os Lusíadas, sentenciou: “e, se mais mundo houvera, lá chegara”. Vivo fosse diria por certo: “e, se mais espaço houvera, lá chegara” (os lusófonos). É isso!

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Médico e Escritor. ABRAMES;SOBREAMES
serpan@amazon.com.br - www.sergiopandolfo.com
Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 19/06/2009
Reeditado em 15/09/2012
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