Sobre Junho e Festas Juninas



    

Sobre Junho e Festas Juninas

                                                                   Compadre Lemos


Alegre Devoção


Se São João estivesse acordado na noite do dia vinte e três para vinte e quatro de junho e visse o clarão das fogueiras em sua homenagem, não resistiria aos fogos, aos balões, à comida e
à farra; daria um jeito de descer à Terra.

Mas, diz a tradição que se ele acordar e descer à terra, o mundo será consumido pelo fogo. É por isso que nessa noite Nossa Senhora se encarrega de velar o seu sono e fazê-lo mais profundo.

A devoção a São João foi trazida ao Brasil pelos portugueses, que a transmitiram aos índios. Imediatamente o culto se espalhou, porque os índios, sempre atrás de novidades, comemoravam o dia com grande festejos.

Em 1583, o jesuíta Fernão Cardim, indicando as três festas religiosas celebradas pelos selvagens com maior entusiasmo, escreveu:

"A primeira são as fogueiras de São João porque suas aldeias ardem em fogos e para saltarem as fogueiras, não os estorva a r
oupa, ainda que algumas vezes chamusquem o couro".

O tempo não fez desaparecer esta tradição e acrescentou-lhe outras alegrias e novidades. Hoje, São João é festejado com farta alimentação, (é um dos dias em que mais se come durante o ano) música, danças, bebidas, adivinhações para casamento, fogos de artifício e até banhos coletivos na madrugada.                                                                                                                
                              

Comida e Dança Pra Valer


O menu varia conforme a região, mas todos os alimentos são antes chamuscados no fogo.

No Ceará come-se lingüiça, inhame, pamonha, beiju, carne assada com pirão, tudo isso regado a cauim.

Em Goiás come-se paçoca, pé-de-moleque, bolinhos de mandioca doces e salgados e pipoca.

No Amazonas os pratos continuam quase os mesmos dos outros dias, embora com  mais fartura: carne de boi, de tartaruga, carne de galinha e de peixe.

No Norte é a vez da castanha-do-pará ou de caju, das raízes e bulbos - mandioca, e inhame - do peixe moqueado - assado na brasa.

No Sul, o pinhão assado ou cozido, com o chimarrão - chá mate servido em cuias ou bombas. E carne, muita carne, principalmente bovina, preparada das mais diversas formas.

Depois, uma cachacinha pura
ou misturada com frutas e quentão, que é licor de maracujá ou de jenipapo misturado com suco de raízes e canela.

Ao redor da grande fogueira acesa ao centro do terreiro, ou mesmo dentro da casa, dança-se até o sol raiar. No Amazonas, a polca, o scotish, a quadrilha, a valsa e o samba.

Os mascarados do Pará formam uma procissão acompanhada por uma banda de música percorrendo as ruas. No Nordeste, d
ança-se o coco, o coco-de-praia, o boi-de-são-joão e samba.

G
rupos alegres de adultos, cantando e dançando, saltam as fogueiras. O grupo vai se avolumando até se reunir ao redor da maior fogueira da vila, geralmente situada na praça pública. Ali então todos dançam o roda-pagode.

A fogueira é em geral acesa logo que o sol se põe. Pode ser antes ou depois da reza, mas sempre antes da meia-noite. Então soltam-se balões que sobem levando um recado para o santo, e por isso convém fazer-se um pedido
quando o balão está subindo. Caso ele queime, o pedido não será atendido. E sobem balões com as formas mais variadas: balão comum, balão do tipo charuto, zepelin, cebola, cruz, pião e almofada.

As bombas, foguetes, os fogos, enfim tudo o que faz de junho um mês barulhento tem a sua razão de ser: é que, na Idade Média, acreditava-se que o demônio andava solto pelo mundo nesta época fazendo tudo para atrapalhar a colheita. Os estampidos tinham pois a finalidade de afugentá-lo. Mas, hoje em dia, o diabo está tão desacreditado no Brasil que ninguém mais procura fazer, como outrora, pacto com ele, na noite de São João, como ainda acontece em Portugal.

                               
                                  

O Santo dos Compadres

Esta época de junho é excelente para reforçar os laços de amizade através de uma instituição que se tornou folclórica — o compadrio. Os compadres, parentes do coração, chegam a atingir numa família número superior aos parentes de sangue. Há até casos em que não há crianças a batizar; são os chamados compadres de fogueira.

Os amigos que desejam se tornar compadres esperam ansiosamente o dia de São João, quando saltam a fogueira três vezes, tendo antes feito um juramento: "Eu juro por Santo Antônio, São João e São Pedro que serei seu compadre hoje e sempre, daqui até o fim do mundo." Está selado o pacto, e uma vez compadre, sempre compadre, compadre até morrer.

                            
                           
Um Rival de Santo Antônio

As moças solteiras também costumam apelar para São João, para arranjar casamento, através de uma série bastante variada de simpatias assim:

• Em noite de São João passa-se um ramo de manjericão na fogueira e atira-se no telhado; se na manhã seguinte o manjericão ainda está verde, o casamento é com moço; se murcha, é com velho.

• Em noite de São João, introduz-se numa bananeira uma faca, que ainda não tenha sido usada. No dia seguinte, aparecerá na faca a inicial da noiva ou do noivo.

• Em noite de São João faz-se um pirão com um pouco de farinha e põe-se dentro um caroço de milho; com os olhos fechados, divide-se o pirão em três porções e se coloca uma na porta da rua, outra sob o leito e a terceira na porta do quintal; se for encontrado o caroço de milh
o na porta da rua, é sinal de casamento próximo, se sob o leito, o casamento é demorado, se na porta do quintal, nada de casamento.

                        

Santo Antônio e São Pedro

Santo Antônio, o casamenteiro, está entrando em certa decadência nos centros mais adiantados do Brasil; praticamente as festas populares que lhe eram dedicadas, quase não existem mais.

Mas em vários lugares ainda a
s solteiras desejosas de se casarem colocam-no de cabeça para baixo atrás da porta ou dentro do poço e bem baixinho suplicam:

Meu querido Santo Antônio,
Feito de nó de pinho,
Me arranje um casamento
Com um moço bem bonitinho (ou bem bonzinho).

E enquanto o marido bonitinho ou bonzinho não vem, fica o Santo Antônio lá de castigo.

As festas juninas que têm início no dia 13 de junho, atingindo o clímax no dia 24, encerram-se  no dia de São Pedro, 29 de junho, que merece todo o respeito e atenção, porque na verdade, ele tem as chaves do céu.

Em Ubatuba e em outras
áreas de pesca havia no dia de São Pedro pomposa procissão marítima — um barco grande à frente e atrás uma centena de canoas, ubás — todos eles levando uma tocha acesa, dando a volta à baía de Iperoig, regressando mais tarde à igreja.

Mas, hoje, sua cerimônia constitui uma festa promovida por viúvas que transportam em canoa a imagem ou fotografia do santo em uma casa à capela. Reza-se o terço e soltam-se uns poucos foguetes. O culto das viúvas, origina-se certamente na lenda sobre a sogra, viúva de São Pedro, que era muito egoísta.

Certo dia, ao limpar umas folhas de tempero, deixou cair uma folhinha tenra de cebola que foi levada pelas águas do rio onde a lavava; não podendo alcançá-la, disse: "pois que fique para as almas". Quando morreu, para entrar no céu foi uma dificuldade, porque nunca tinha dado nada a ninguém, só tinha a folhinha para ajudá-la. Agarrou-se a ela, mas eis que outras almas que nem uma folhinha tinham em seu favor, se dependuram na velha. Tanto ela esperneou que se desprendeu da folha da salvação e por aí vagueia.

                               

Panorama Atual


Atualmente ainda se festejam os Santos Juninos de várias maneiras, dependendo dos contextos sociais onde se esteja inserido.

No Nordeste do Brasil são festas populares de muita força comercial, além da tradição cultural.

Existem verdadeiros “Quadrilhódromos”, espaços dedicados à dança da Quadrilha e do Forró, típicos das festas de Junho.

Concursos de quadrilha são o ponto alto dessas festas, e demandam ensaio, estrutura e produção semelhantes ao Carnaval do Rio de Janeiro ou ao Boi de Parintins, na Região Norte, especialmente no Pará.

Por todo o país, com o objetivo de preservar o Folclore e as tradições nacionais, organizam-se festas juninas nas escolas, com quadrilhas infantis adolescentes e adultas, além do imperdível Casamento da Roça, no qual se vê o Teatro como expressão artística. Tais festas são aproveitadas também para gerarem renda pra as escolas, com a venda de iguarias e bebidas típicas.

                               

A Música
se resume basicamente em Marchinhas Juninas e Forró, composto de Baião, Xote, Xaxado, Coco e Rancheira, ao som de sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro.

Mais recentemente, tem-se ouvido e dançado o Forró Moderno ou Forró Universitário, com a introdução de bateria, guitarra, baixo eletrônico e percussão.

Essa música, que, antes, era executada ao vivo pelos sanfoneiros, trios ou grupos de forró, hoje pode ser vista também sendo executada eletronicamente, por “sons” e “DJs”.

Vale tudo, desde que seja para a preservação da alegria tradicional das festas juninas.

Os tempos mudam... e até as tradições se adaptam.

Boas festas juninas a todos!...


     

                                                       




Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 20/06/2009
Reeditado em 01/08/2010
Código do texto: T1658359
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