A MESMA HISTÓRIA

Mesmo dentro do mais estrito âmbito do otimismo, não há como perceber uma fresta na história humana mais recente que já não tenha sido escrita. Nem mesmo uma reedição pode ser reinventada, pois os fatos continuam os mesmos, embora disfarçados vestindo roupa nova.

O maior prazer do imperador romano Calígula, por exemplo, cujo nome verdadeiro era Caio Caesar não foram exatamente suas extravagâncias sexuais, tradicionalmente atribuídas a problemas mentais, mas sim, sua obsessão por ridicularizar o poder legislativo, tendo seu ápice quando empossou seu cavalo Incitatus como senador da república.

Calígula, cujo diminutivo significava um tipo de sandália usado pelos soldados romanos, se transformou num monarca teocrático quando mandou colocar sua estátua em tudo quanto é templo religioso, inclusive no de Jerusalém, considerando-se uma divindade, o que aliando seu desprezo pelo poder legislativo, incluindo mulheres e filhos dos senadores, valeu-lhe o amor do povo, pois lhes dava pão como embrião para a nossa conhecida bolsa família, angariando um altíssimo índice de popularidade nas pesquisas daquela época.

Nem seria sutil uma comparação da política brasileira atual com a romana, nestes dias em que o poder legislativo atravessa uma crise moral sem precedentes, tendo em sua síntese um senador gerado na oligarquia do retrocesso, e o que é pior, com o apoio da maioria dos seus aliados, para manter o país em permanente atraso político.

Que razões forçam o Estado deixar que seus técnicos de assistência social distribuam “pacotes de bondade” em troca de vantagens equivocadas de um governo que dá esmolas sem pensar no prejuízo que ela pode causar?

A situação está muito difícil. Grande parte está vivendo do “pacote da caridade” ilusória do governo que só aumenta a miserabilidade do povo brasileiro, convencido nossos governantes se julgam senhores de tudo, acima da lei e que são a própria lei, numa conjunção carnal do legislativo com o executivo promíscuo e repulsivo, que faria Calígula corar de vergonha.

Não se preocupam que o povo possa despertar e fazer o que Calígula fazia com eles. Os índices de popularidade do nosso governante tende a aumentar, enquanto os ilícitos chocam os olhares progressistas cansados da visão arcaica do Brasil colonial com a realidade presente.

Muitos políticos ainda não assimilaram a Constituição. Vêem a lei como mero recurso estratégico contra os inimigos. O Senado Federal que deve dar equilíbrio à federação, não está compensando o critério populacional que a Câmara estabelece.

Como efeito só nos resta à visão atrasada de uma realidade política sem saída.

Somos acostumados a torcer para que tudo dê certo. Necessário e urgente se faz que os subterrâneos da corrupção sejam abertos, para que a luz lançada sobre eles evite que o povo seja assolado pela fome, inclusive a de saber, como aconteceu com os romanos, fazendo com que seu imperador caísse dos altos índices de popularidade para a desgraça.

Enquanto o jogo sujo não terminar, fica a torcida para sairmos da categoria de pés de chinelo.

Nilton Salvador
Enviado por Nilton Salvador em 10/07/2009
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