O Michael Morreu.

O Michael Morreu...

É cedo estou assentado a mesa do café da manhã, é a refeição de que mais gosto. Torradas e bananas com mel, suco e bolachas, as mais sequinhas, são as minhas prediletas. O Michael não mais se assentará á mesa de um café matutino.

Olho para meu jardim as folhas das orquídeas, brilham, as palmeiras balançam suas lindas folhas, sob a luz fria do sol de inverno. É um dia lindo para se partir para a eternidade. Lembro - me da poesia Salomônica, antes que se escureçam o sol, a lua, a luz e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir às nuvens depois da chuva.

No dia em que tremerem os guardas da casa e se curvarem os homens fortes, cessarem seus moedores da boca por já serem poucos e se escurecerem os teus olhos nas janelas, os teus lábios, quais portas das ruas se fecharem; no dia que não puderes falar em alta voz, te levantares á voz das aves e todas as harmonias, filhas da música, e, te diminuírem como também quando temeres o que é alto, e, te espantares no cominho, e, te embranqueceres como floresce a amendoeira, o gafanhoto te for um peso e te perecer o apetite porque vais á casa eterna e os pranteadores andarão rodeando pela praça antes que se rompa o fio de prata, e, se despedace o copo de ouro, quebre o cântaro junto á fonte, e, se desfaça a roda junto ao poço, o pó volte a terra, como o era e o espírito volte a Deus que o deu...

Gosto de ouvir música enquanto tomo café. A música é uma potência feiticeira, ela entra pelo meu corpo e fico outro, me acalma, tenho desejos ouvindo música, tenho sonhos e fantasias.

Estou em uma igreja na qual nunca estive. A luz brilhando pelo vidro, é como mil sóis brilhando, mistura-se com a música dos Bee Gees, “Words” enchendo assim o espaço vazio com cores e sons. Tudo é belo sem palavras.

Nas paisagens da alma, mora um lugar sagrado, onde tudo é maravilhoso e harmônico. A minha sensação é de um lugar onde já estive, e, desejo voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiqüíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer.

A música dos Bee Gees me faz ser protestante, pena que o protestantismo não mais exista, como o catolicismo, ambos acabaram. Ficaram os vitrais, os sóis e a música.

O Michael morreu, minha tristeza é mansa, bonita, e justa. Não desejo que me consolem, se me consolarem, esse espaço sagrado desaparecerá, pois é nesse espaço que se encontram as coisas que amei e perdi; um espaço é sagrado quando está cheio de ausências. Nele acontece a presença da ausência. É o lugar da saudade.

Onde estará ele? Onde estarei eu? Onde estarão aqueles a quem amo? Ausências que se demoram. Despedidas prolongadas, dor, sentimentos de perdas de quem não ia voltar. Lembre-se do Michael, do João, do Pedro, seja seu amigo, seja seu parente, seu fã, mas lembre pelas coisas belas que eles conseguiram, e, não pelos atos que não produziram. J.F.ALVAREZ.

jafjaf
Enviado por jafjaf em 12/07/2009
Código do texto: T1696278