O SENTIMENTO NEURÓTICO DE CULPA
As pessoas que acham difícil dizer “não” quando lhe pedem algo, quando se posicionam defendendo o que pensam, ou quando reclamam por algo que é justo, vivem cheias de culpa, portanto, necessário se faz que discorremos sobre esse sentimento tão atroz chamado culpa, verificando antes qual é a base em que se assenta a personalidade neurótica cujo sentimento de culpa ou sentimento neurótico de culpa se abriga.
1. A CULPA E SUAS MANIFESTAÇÕES
A culpa de forma disfarçada ou declarada encontra-se envolvida em todos os problemas psicológicos. Dessa forma os sentimentos de culpa desempenham um papel capital no quadro manifesto das neuroses. Exprimem-se em algumas pessoas de forma declarada e intensa e em outras de forma disfarçada, embora a sua presença se traduza no comportamento, nas atitudes e na maneira de pensar e agir.
Predominando de tal forma na sociedade ela foi identificada em duas categorias: culpa objetiva e culpa subjetiva (sentimento neurótico de culpa).
A culpa objetiva existe em separado de nossos sentimentos. Ela ocorre quando uma lei foi violada e transgressor é culpado embora ele ou ela não se sinta dessa forma. A culpa subjetiva (sentimento neurótico de culpa) está associada aos sentimentos íntimos de remorso e autocondenação resultantes de nossos atos.
2. TIPOS DE CULPA OBJETIVA
* Legal: refere-se à violação das leis sociais (roubar, atravessar o sinal vermelho, etc.).
* Social: refere-se à quebra de uma norma não escrita, mas socialmente esperada (grosseria, comentários maliciosos, críticas ferinas, etc.).
* Pessoal: refere-se à violação de padrões pessoais ou resistência aos apelos da consciência (trabalhar no feriado ao invés de ficar com a família).
* Teológica: refere-se à violação das leis de Deus.
3. A CULPA SUBJETIVA OU SENTIMENTO NEURÓTICO DE CULPA, GERADO PELA DIFICULDADE DE DIZER “NÃO”
É o sentimento pouco confortável de pesar, remorso, vergonha e autocondenação que surge com freqüência quando fazemos ou pensamos algo que sentimos estar errado, ou deixamos de fazer algo que deveria ter sido feito. Com freqüência surge desânimo, a ansiedade, medo de castigo e um sentimento de desolação, como parte do sentimento de culpa. Os sentimentos subjetivos se classificam em três categorias: a) medo de castigo; b) perda da autoconfiança e c) um sentimento de solidão, rejeição ou isolamento
Sentimentos inadequados de culpa são aqueles desproporcionais à gravidade dos atos cometidos.
Os sentimentos neuróticos de culpa levam as pessoas se sentirem culpadas face ao mais leve motivo. Por exemplo: ao saberem que alguém se interessa por elas, a primeira reação é esperar acusações por algo que teriam feito; quando os amigos não os visitam ou não lhes escrevem durante algum tempo, perguntam-se se porventura não os teriam ofendidos; quando algo ocorre mal, imediatamente pensam haver sido culpa delas. Embora os outros sejam notoriamente culpados e os tenham submetidos a maus tratos, persistem na mesma atitude de autoacusação. Em qualquer conflito de interesses ou qualquer polêmica, propendem a aceitar cegamente as razões alheias.
Por quê que isso acontece? Porque pessoas que agem dessa forma não confiam em seus próprios poderes de julgamento quanto àquilo que deveriam esperar dela; anseiam por ser amados e temem que os outros pensem mal delas, caso se recusem a fazer o que lhes foi solicitado; têm somente uma vaga idéia de quantos deveres e tarefas podem assumir com sucesso; possuem uma consciência muito desenvolvida e sentem-se culpadas por “recusar-se a ajudar” e sentem-se inferiores às outras pessoas e as vêem como tendo “autoridade” sobre elas.
A existência de sentimentos flutuantes de culpa, em relação aos quais se torna necessário exercer domínio constante, traduz-se ao mesmo tempo nas contínuas tentativas do neurótico se justificar perante a si próprio e aos outros.
Os sentimentos difusos de culpa também se descobrem através do temor neurótico de ser desmascarado e reprovado; de que as pessoas descubram que ele se sente ofendido e com raiva quando frustrado.
Um aspecto a ser considerado à luz dos sentimentos neuróticos de culpa é a tendência compulsiva para a perfeição, origina-se, em grande medida, na necessidade de prevenir qualquer censura.
O temor da reprovação é muito comum para aquele que vive se justificando. Quase todos os neuróticos, embora apareçam à primeira vista muitos seguros de si e indiferentes às opiniões alheias, se encontram dominados por excessivo temor ou por hipersensibilidade às censuras, por medo de serem criticados, acusados ou desmascarados.
4. O SENTIMENTO NEURÓTICO DE CULPA E O MEDO DA REPROVAÇÃO
O medo da reprovação traduz-se, às vezes, em receio constante de incomodar, e nesse sentido o neurótico terá medo de aceitar um convite, discordar de alguma opinião , exprimir qualquer desejo, transgredir as normas estabelecidas ou, sob qualquer forma, chamar atenção, por achar que está sempre dando trabalho e não ser merecedor da atenção dos outros.
Pode manifestar-se também como um temor persistente de que os outros descubram algo a seu respeito e, ainda quando se sinta estimado, tenderá fincar-se em si próprio a fim de impedir a possibilidade de ser desmascarado ou repudiado.
O fator capital do medo da reprovação é o profundo defasamento entre a fachada que o neurótico exibe como própria e todas as tendências reprimidas que atrás dela se encobrem, bem como o desejo de manter oculta a medida da sua fraqueza, insegurança e falta de defesas, a medida da sua incapacidade de se afirmar por si próprio e da angústia que experimenta.
O medo à reprovação leva o neurótico a auto-acusar-se e as auto-acusações tem como funções obscurecer o problema real; evitar todas as críticas, considerando-se sempre com razão e sendo em tudo perfeito, ou refugiar-se na ignorância, na doença e na carência de defesas, ou ainda, no sentimento de ser vítima; serve ainda para iludir o risco de acusar os outros, pois é mais seguro lançar a culpa sobre si próprio.
Esta discussão sobre o sentimento neurótico de culpa e a dificuldade de dizer “não” pode sintetizar-se nos seguintes termos: quando o indivíduo acusa a si próprio e denuncia sentimentos de culpa de qualquer espécie gerado pela não assertividade, a primeira pergunta a ser feita não deve ser: “De que se sente realmente culpado?” mas “Que funções pode desempenhar esta atitude de auto-acusação?”. As principais funções com que temos deparado são as seguintes: expressão de um temor à reprovação; defesa contra tal temor e defesa contra o impulso de acusar o próximo.