O progresso e o sacrifício do beijo no carcereiro

O que é ser de esquerda pura? Se dentre as definições estiver não aceitar conchavos suspeitos nem mesmo em momentos que seja necessário se livrar da forca, então a esquerda pura é uma grande utopia, simplesmente não existe. E é uma grande falsidade dizer-se puro.

Não há adegas neste país com vinhos que possam dizer que nunca se misturaram a azeite. Mais: misturas fazem parte do jogo político que, queiram os “puristas” ou não, precisa ser jogado. O grande segredo está em fazer com que este jogo não apague a chama da defesa da justiça social, da luta pelas liberdades democráticas e dos Direitos Humanos, bandeira indiscutível do nosso presidente.

Chegar ao governo não é a mesma coisa que chegar ao poder. É preciso deixar isso sempre claro. Poder conquista-se a troco de alianças.

Se não foram poucas as realizações do governo Lula em projetos sociais, há que se assumir que isso se deve em grande parcela ao talento do nosso presidente para agregar para suas trincheiras conhecidos adversários. Não por acaso ele desfila sua credibilidade, de cabeça erguida, pelos mais nobres salões internacionais. E isso não o faz deixar de ser de esquerda, não o torna menos progressista. Ao contrário, o progresso requer o sacrifício do beijo no carcereiro. Sempre foi assim em toda história da humanidade. Como então uma esquerda fechada conseguirá avançar? Manter ideais, sim, mas transformar rivais em aliados nos momentos de batalha mais sangrenta é questão de sobrevivência.

Temos agora aí a CPI da Petrobras, este engodo plantado pela oposição para desestabilizar o governo e afundar o país. Numa situação como essa, ter maioria no Congresso, mesmo que à custa de determinados acordos que nunca foram e não são dos sonhos do governo, parece que se faz arma fundamental – e inevitável. Só assim é possível vislumbrar um afrouxamento da corda que essa oposição que nós temos, totalmente desinteressada com o país, ajudada por nossa grande imprensa, vendida e imunda, tem colocado todos os dias no pescoço de Lula.

Ora, responda-me rápido: se fosse você que estivesse lá no Planalto, você também não iria querer se livrar da forca?

Ana Helena Tavares
Enviado por Ana Helena Tavares em 21/07/2009
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