De Simon para baixo

Quer dizer que Pedro Simon (PMDB-RS) acaba de se transformar no último dos moicanos? Paladino da moral e dos bons costumes, sobrevivente de um Congresso que não sabe mais o que é ética. Vejam o que faz uma imprensa vendida ao cacifismo.

Não, não é só o nordeste brasileiro que conhece coronéis. O sul também os conhece. O governo Lula é corrupto, diz Simon, e no estado natal do senador vai tudo bem? Yeda Crusius (PSDB-RS) navega em mar de denúncias sobre corrupção e seu padrinho Simon não tem nada a declarar. Entendi.

Em entrevista concedida, por telefone, em 04 de Agosto, ao programa "Acorda pra vida", apresentado por Raimundo Varela, na TUDO FM 102,5, o senador Pedro Simon disse que o presidente Lula quer manter o Senado "por baixo, porque assim ele se sente mais à vontade para conduzir o seu pensamento". Pena que Pedro Simon não se sinta “à vontade” para combater a corrupção no RS.

Mas sente-se “à vontade”, livre, leve e solto, para declarar hoje, 17 de Agosto, em plenário do Senado, que Lula deveria "calar a boca" ao invés de ficar fazendo comentários sobre a denúncia feita pela ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, de que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a teria mandado apressar uma investigação que vinha sendo feita nas empresas da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Se Lula se dá ao trabalho de abrir a boca para defender Dilma com veemência, obviamente é porque acredita nela. Mesmo porque não há prova absolutamente nenhuma quanto a essa denúncia, já quanto à corrupção no governo de Yeda Crusius... Ah, tá, mas aí, quem prefere calar a boca é Simon. Sabe-se lá em quem ele acredita.

Sabe-se lá em quem a imprensa brasileira acredita. Cabe perguntar: será que acredita nela mesma? Os mártires da vez são Collor e Sarney. Ora, ora, que grande descoberta fez a nossa grande imprensa! Descobriu agora que eles são execráveis, desprezíveis, baixos. E eles são mesmo isso tudo? São políticos da pior espécie? São. Basta estudar rapidamente suas biografias. Mas sempre flanaram junto com o vento, ou melhor, junto com as cifras, ou melhor ainda, junto com os editoriais. Quando eles interessavam aos barões midiáticos, Collor e Sarney foram reis. Agora, que não mais interessam, viram bandidos chave-de-cadeia. Bem, mas isso até chegarem perto das grades, porque, nessa hora, sempre flanará uma folha amiga, um globo salvador, que lhes pague a fiança. Ao contrário disso, peço que me digam em que momento nossa grande imprensa tomou as dores do ex-retirante que hoje ocupa o Planalto com mais de 80% de aprovação popular.

Mas a patética mídia nativa tem novo rei. O destemido Pedro Simon, que resolveu enfrentar os coronéis no Congresso. Triste de um país que, na busca desesperada por heróis, é enganado por sua grande imprensa, e endeusa corajosos de ocasião. Quando a figura ápice da honestidade em um Congresso é aceita por muitos cidadãos como sendo um senador que acoberta a corrupção em seu próprio estado, há algo muito errado.

Fico me perguntando: há bravura seletiva? Pavlov ia adorar responder a isso, mas nem é preciso. Há seleções e seleções, claro, mas, quando há interesses políticos envolvidos, tudo é seletivo.

Simon é tão coronel quanto os que por agora “enfrenta”, mas, se depender de nossa grande imprensa, ficaremos até 2010 nivelando o Congresso de Simon para baixo.

Ana Helena Tavares
Enviado por Ana Helena Tavares em 17/08/2009
Reeditado em 17/08/2009
Código do texto: T1759298