O grão de milho...

Quando criança, morávamos em Cosmorama/SP na fazenda do Sr. Alfredo Carneiro, onde meu pai arrendava terras para plantio de algodão, arroz e milho. Éramos pequenos, meu irmão Sebastião com dois anos e eu com quatro. Provavelmente estávamos no ano de 1946 ou 1947. Eu brincava com ele debulhando algumas espigas de milho para as galinhas Sebastião, por brincadeira, colocou no meu nariz um grão de milho que tentei tirar o que fez aprofundá-lo mais ainda, vindo certa inquietude de minha parte. Logo procurei a mãe que também tentou tirar usando a antiga ramona, ou seja, “espécie de grampo de prender os cabelos”. Escurecia e meu pai já chegara do serviço da roça o qual também tentou tirar, nada conseguindo. Pegou o cavalo, arreando e me levando ao pronto socorro da cidade de Cosmorama que era mais ou menos a cinco quilômetros. O médico tentou, tentou e nada conseguiu, só me sujando toda a camisa de sangue e dizendo ao meu pai que não fora possível: “Amanhã cedo você pega o trem e o leva a São José do Rio Preto, onde somente lá há condições e ferramentas apropriadas. Talvez precise operá-lo para retirar o milho, que pode começar a crescer, dada a umidade do local”.

Fiquei assustado com todo aquele alvoroço e com a respiração um pouco dificultada. Ia montado no cabeçote do arreio com meu pai de volta para casa, para preparar a viagem no outro dia pela manhã. Vi na rua um senhor empurrando um carrinho e tocando apito. Perguntei a meu pai o que era. “Ele vende picolé. Você quer?” e comprou um para mim. Era um picolé branco no palito de tamanho avantajado em relação aos atuais.

Chegando em casa, meu pai silenciou-se, certamente em oração, e tomou a decisão de torrar um pedaço de fumo com os grãos de semente de umburana, fazendo um pó fininho que chamam de rapé, cuja finalidade dos nordestinos é desobstruir as vias respiratórias após vários espirros. E me colocou a cheirar o rapé feito com todo cuidado, e meio de longe, porque eu tinha o hábito de vomitar por qualquer coisa e foi assim que comecei a espirrar, expulsando o grão de milho de vez, sendo desfeita a viagem a São José do Rio Preto/SP que estava marcada para o amanhecer.

José Pedroso

Ano de 2009

Josepedroso
Enviado por Josepedroso em 21/08/2009
Reeditado em 01/10/2009
Código do texto: T1767124
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