Os novos bacharéis do cerrado mato-grossense

* Izaias Resplandes

A UNIC – Universidade de Cuiabá, Campus de Primavera do Leste, MT, região de cerrados do leste mato-grossense, realizou no dia 21 de agosto de 2009 a colação de grau de seus novos bacharéis em Direito, Administração de Empresas, Agronomia e TSI, numa grande festa realizada no seu Ginásio de Esportes e que contou com grande participação da sociedade primaverense e regiões circunvizinhas. Na ocasião, em saudação aos presentes, falou o paraninfo dos novos juristas, empreendedor das Faculdades UNICEN em Primavera do Leste e que teve a primazia na introdução desse grupo de formandos na Academia de Ciências, antes de ser a mesma incorporada pelo grupo IUNI Educacional, juntamente com a UNIC e outras faculdades do país, “formando o oitavo maior grupo no segmento de instituições privadas de Ensino Superior, com atuação nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, conforme registro em seu sítio na internet.

A formatura em uma das diversas áreas do conhecimento é uma grande vitória, digna de ser comemorada com muitas festas. Para o estudante, o curso superior é um dos primeiros céus a serem conquistados pelo cientista. E como é cediço, não é fácil chegar ao céu. O caminho é estreito e apertado e há diversos inimigos que, disfarçando-se de amigos, são na verdade lobos devoradores e têm como objetivos afastar os vocacionados de sua meta final. Eles vivem sempre em derredor procurando algum incauto para arrebatar. Por essa razão, embora muitos se sintam chamados para realizar essa missão, poucos realmente conseguem atingir o alvo. E menos ainda alcançam o segundo céu, equivalente ao ingresso no mercado de trabalho como profissional qualificado. A concorrência é dura e desleal e não perdoa os mal formados. É uma luta de lobos que se devoram, de gladiadores que se enfrentam em um corpo a corpo muitas vezes desigual, sem espaço para os despreparados. Somente uma minoria prossegue na carreira e atinge o terceiro céu da consagração profissional. Por fim, ao sétimo céu, então, equivalente ao êxito pleno no sentido pessoal, social, material e espiritual, é possível contar nos dedos aqueles que se formam e recebem a coroa de glória. É de se ver que a vida é uma carreira em que muitos competem, mas poucos vencem. Não há espaço para terceiros. Ou se é o primeiro ou então se está decididamente eliminado do processo competitivo.

A formatura em Direito, dentre todas as áreas do conhecimento é, sem dúvida alguma, a que mais se assemelha à carreira espiritual para a conquista do sétimo céu. O Direito é o que é reto e justo. Jesus é a personagem bíblica que, em um primeiro momento, exerce a advocacia, defendendo os filhos de Deus quando cometem erros. É evidente que os homens não são perfeitos, embora estejam em processo de aperfeiçoamento. O apóstolo Paulo escrevendo as filipenses sobre a perfeição disse não a ter alcançado, mas que, esquecendo das coisas que ficavam para trás, prosseguia para o alvo, para o prêmio da soberana vocação. E o apóstolo João em sua primeira epístola universal, de forma carinhosa diz aos “filhinhos” que escrevia aquelas coisas para que eles não pecassem (errassem), mas que, se alguém, no entanto viesse a pecar (errar), essa pessoa teria um advogado junto ao Pai (Deus): Jesus Cristo, o Justo!

No Brasil, o bacharel em Direito, após uma experiência jurídica de três anos pode alçar à magistratura. Jesus veio ao mundo como mediador, para arbitrar as causas dos miseráveis, dos perdidos, dos pobres, dos desafortunados e de todos aqueles que, de alguma forma precisassem dos seus favores. Ele advogou a causa dos cegos e dos mudos, sendo seus olhos e sua voz. Defendeu a mulher pega em adultério de morrer por apedrejamento, como era o costume entre os judeus. Não teve a ambição material. De origem terrena humilde, filho do carpinteiro José, buscou conhecer a sabedoria secular, estando entre os doutores da lei, debatendo com eles em profundas manifestações de sabedoria. Defendeu o direito do Estado aos tributos na célebre frase “daí a César o que é de César”. Jamais negou a assistência jurídica e material aos necessitados. Disse a certa mulher que não era lícito deixar de atender aos seus clientes (filhos) para atender aos indigentes (cachorrinhos), mas curvou-se ante a humildade daquela senhora, quando ela lhe respondeu dizendo que os indigentes (cachorrinhos) comiam das migalhas que caiam das mesas dos seus senhores. Em suma, em todas as questões Jesus foi um grande advogado quando esteve na terra, mas não parou aí, pois hoje continua advogando as causas dos fiéis em grau de recurso, contra as astúcias e artimanhas de seu Acusador nos Céus, o mesmo que enganou a primeira mãe Eva quando esta vivia no Jardim do Éden, no Paraíso terrestre, induzindo-a ao erro e à desobediência as leis divinas. Por toda essa experiência aqui resumida é que Jesus alçará com mérito as funções jurisdicionais, quando julgará todos os homens conforme as suas realizações, seguindo os parâmetros da Justiça, da Verdade e do Direito.

Vinte e um de agosto de 2009 foi o dia de glória para os vinte e dois acadêmicos que formaram a segunda turma de bacharéis em Direito da UNIC/UNICEN de Primavera do Leste, MT. Fui agraciado por estar no meio desses valorosos companheiros, cujos nomes estarão escritos nos frontais dos panteões sagrados da Justiça para sempre: Alice Brunetta, Clarice Canzi Guadagnin, Célio Almeida Costa, Daiane Agne, Daniel Luiz Sponchiado, Elaine Evangelista Dias, Élson Sousa Miranda, Evandro Jorge Zanatta, Fábio Pículi da Rosa, Haryshon Marden de Oliveira Marques, Jacqueline Chamun Soldera, João Ricardo Borges Leal, Laura Amanda Ferreira Gomes, Maria José Gomes Lopes, Miguel Moreira da Silva Junior, Naumann José da Silva, Rafael Carlotto Correia, Reginaldo Gomes dos Reis, Roni de França Barcelos, Solange Pereira Braga Viana e Vôlei Lorenzzon.

Além disso, fui honrado com a permissão de beber nas mesmas fontes do saber que saciaram meus imortais mestres José Carlos Iglesias, Marcelo Antônio Theodoro, Divanir Marcelo de Pieri, Tatiana Peghin Merendi, Juliano Pedro Girardello, Onédson Carvalho da Silva, Darley da Silva Camargo, Derly Garcia Pereira, Marilei Schuster, Fabiane Marisa Salvajoli Guilherme, Cláudio Santos Réche, Neusa Maria Mariussi, Rosecler Szadowski, Renato Cintra Farias, Ovídio Girardello, Kelly Lorenzetti Krzyzaniak, César Aquino Cabrioti, Paulo Henrique Mioto Donadeli, Rodrigo Barbosa de Abreu, Lurdes Helena Bosa, Reinaldo R. de Oliveira Filho, Ana Cristina Medeiros, Fabíula Alessandra Fachin Packer Faleiros, Adiana Sant’Ana Coningham, João Paulo Vieira Deschk, Keila Comelli Alberton, Jesset Arilson Munhoz de Lima, Eloina Maria Bonfim, Wagner Plaza Machado Junior, Frederico Fernandes Filho e Paulo Eduardo Angelin. Citando as palavras de nosso paraninfo Dr. João Medeiros, nós tivemos “a felicidade de aprender com os grandes do Direito o melhor que eles aprenderam”.

Agora, passadas as emoções da formatura, apagas as luzes do auditório, do ginásio e do salão de festas, vemos à nossa frente grandes espaços vazios, simbolizando as questões sem resposta e os diversos conflitos sociais que deveremos mediar na promoção e na busca da justiça e da paz social. Sentimos como é grande a nossa responsabilidade. Se o primeiro céu foi conquistado, seis outros céus para vencer ainda nos separam da vitória final. Se a conquista do diploma foi importante, ela pouco significará se não conseguirmos desempenhar os ofícios jurídicos na medida das expectativas e anseios da sociedade.

Que Deus nos abençoe e nos ajude para que, a partir dessa região dos cerrados do leste mato-grossense, possamos alcançar o sétimo céu, como eficientes operadores do Direito e promotores da Justiça, do Conhecimento e da Paz Social.

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Izaias Resplandes de Sousa é bacharel em Direito pela UNIC/MT, Pedagogo pela UFMT, Licenciado em Matemático pela UFMT, Especialista em Gerência de Cidades pela FAAP/SP e em Matemática e Estatística pela UFLA/MG. E-mail: respland@gmail.com.