OS QUEBRADORES DE MÁQUINAS

“Talvez Ned Ludd tivesse sonhado com tudo:

o dinheiro eletrônico, a economia globalizada e a subtituição definitiva de cem braços por um botão”.

Luís Fernando Veríssimo, in Jornal do Brasil (25-10-1995).

A máquina a vapor, aperfeiçoada pela oficina de Watt e Boulton, em 1776, foi o marco da Revolução Industrial moderna: foi o primeiro produto da tecnologia que não dependia do vento ou da força da água, da força humana ou animal. Essa energia poderosa, posta a serviço dos detentores do capital, reforçou a dominação dos mesmos sobre os operários. Estes sentiram o golpe que, muitas vezes, lhes tirava os empregos. Revoltaram-se contra as máquinas e passaram a quebrá-las. Um lendário Ned Ludd teria começado a rebelião no fim do século XVIII.

Todavia, foi em 1811 que os operários ingleses, autodenominados luditas, passaram a quebrar máquinas sistematicamente e iniciaram uma luta armada contra os patrões que só terminou em 1813. O governo britânico fez passar no Parlamento uma lei que tornava passíveis da pena de morte os destruidores de máquinas. Dos debates então travados, ficou-nos um emocionante discurso de Byron contra a aprovação dessa lei.

Há quase dois séculos, os luditas foram derrotados e execrados. A derrota foi definitiva, mas a execração começa a se transformar em apreço. Em 1990, tomou corpo, nos E.U.A., um movimento de resistência passiva ao chamado “progresso”. Em apenas nove anos, esse movimento angariou a simpatia de muita gente, inclusive intelectuais de renome que não se vexam de serem chamados neoluditas.

Em contraste com os luditas originais, a tática dos neoluditas não inclui a destruição física de máquinas. O que urge é criar novos estilos de vida e redefinir a própria noção de progresso.

A Revolução Tecnológica contemporânea, cujo marco é o computador eletrônico digital, pode ser datada de 1971, quando se deu o aperfeiçoamento do microprocessador. Quando associada ao modelo neoliberal, privilegia o capital intensivo. A automação permite às grandes empresas transnacionais reduzir ao mínimo a necessidade de mão-de-obra. “ Cortar gorduras”, isto é, desempregar, é uma fonte de lucro.

À medida que aumenta o número de pessoas supérfluas ao mercado de trabalho, cresce a tentação de eliminá-las. Muitos julgam inútil fazer campanhas contra a fome e concordam com Garrett Hardin, biólogo americano que criticou o envio de alimentos a africanos famintos, dizendo que seria mais caridoso lançar uma bomba atômica sobre eles.

É impiedoso o sistema capitalista, mas não é o único possível.

José Lisboa Mendes Moreira
Enviado por José Lisboa Mendes Moreira em 22/06/2006
Reeditado em 10/05/2007
Código do texto: T180592