DUAS DÉCADAS NO OSTRACISMO

Sem saída, sem saber por onde correr. Sem saber que rumo tomar, ah, eu decidi sair, decidi dar um basta. Decidi romper com meus princípios ultrapassados. Eu disse meus princípios? Escuse-me por essa gafe, não eram meus princípios, mas um conjunto de regras, doutrinas, paradigmas e conceitos impostos pela crença, pela sociedade, pela religião e pelo sistema cujas bases desde o berço faz a cabeça de cada cidadão brasileiro. É, como qualquer jovem brasileiro, a minha cabeça foi moldada e nela, uma porção de conceitos foram impregnados levando-me a crer que a vida que eu levava era apenas aquilo mesmo. Meu destino estava traçado. As algemas que me prendiam eram invisíveis, mas reais. Eu contemplava sombras. Afundados naqueles conceitos, eu até cheguei a me iludir que eu sabia alguma coisa, mas não, descobre ao longo de duas décadas de uma prisão que em mal sabia dar um passo. Tudo que aprendi ao longo de minha formação familiar, minha crença e religião eram coisas que reconheço hoje como mecanismos ideológicos de dominação e manipulação. A ideologia que pairava sobre a minha cabeça era como uma força sobrenatural parecia que eu nunca ia me libertar.

Na verdade, a ideologia é como um visgo que prende a pessoa, e a torna refém de si mesma, a torna refém da sociedade e do meio ao qual fora criada, a ideologia torna a pessoa refém do sistema que move a educação, a economia, os negócios, as crenças, e a religião. A mídia televisiva, os grandes festivais, o esporte, os grandes shows de auditórios sempre lotados num dia de sábado e domingo, o jornalismo com seus âncoras bem preparados para anunciar mais uma notícia fantástica são visgos ideológicos que faz de uma pessoa prisioneira de si mesma como eu fui por duas longas décadas. Entre todas as regras e imposições, e, entre tantas cadeias e prisões sempre há um mundo do outro lado a descobrir, um mundo além-muro, além-regras e além-prisões. Há sim, um mundo a ser descoberto, mas que somos por vezes privados dele, há um mundo maravilhoso como disse LOUIS AMISTRONG em sua linda melodia What a Wonderful World. Um dia, passe o tempo que passar..., a gente acaba descobrindo que aquele mundinho que a gente vivia não era vida, mas um sacrilégio contra nós mesmos. Há um mundo maravilhoso e que vai além dos sonhos, nele se descobre novas perspectivas de vida, ao descobri-lo, se descobre também que não se está morto. Tudo é encantador quando, e quando a gente se liberta dos grilhões que nos prendem, da alienação que nos cega, da fantasia que nos iludiu por tanto tempo, então se contemplar o real, descobre-se paixões e se aprende a enxergar os outros com outros olhos, aprende a não condenar e nem julgar ninguém, aprende-se a tolerar, a incluir ao invés de expulsar. Torna-se mais sensível para sentir o cheiro das flores e tocar a beleza das rosas. Como é bom sentir o orvalho caindo na pele, o vento soprando no rosto, um instante a saboreando um vinho barato e brasileiro de preferência com pessoas que a gente gosta. Quem sabe uma piada sem graça, e o ambiente fica mais agradável, Pois é, quando se está feliz tudo passa a ter mais graça. A vida torna-se bela. Veja essa letra:

Mundo maravilhoso

Eu vejo árvores tão verdes,

as rosas vermelhas, também eu as vejo azuis

para mim e para você.

E eu penso comigo mesmo:

Que mundo maravilhoso!

Eu vejo o céu tão azul,

e nuvens tão brancas.

A escuridão diz boa noite.

Eu penso comigo mesmo:

Que mundo maravilhoso!

As cores do arco-iris, tão bonitas no céu

estão também nos rostos das pessoas que passam.

Eu vejo amigos apertando as mãos, perguntando: como vai você?

Eles realmente dizem: eu ti amo.

Eu vejo bebês chorando,

Eu olho eles crescendo, eles vão aprender muito mais

do que eu já aprendi.

Eu pendo comigo mesmo:

Que mundo maravilhoso!