Uma carta para Deus!

Oi, não vou fazer como sempre, como todas as outras vezes que escrevi e te perguntar, tudo bem? Já que esse é o motivo pelo qual tenho te escrevido, não sei se escrever é uma forma de se importar, ou uma forma de avaliar como eu tenho te visto, ou o quanto tenho estado longe, mas mesmo sem saber o porque de verdade quero poder falar contigo de novo, voltando a saudação, sei que não está bem, não posso descrever o que você tem sentido, meu coração é pequeno demais pra poder sentir como você sente, os meus olhos não conseguem ter tamanha visão e os meus ouvidos tapados pelas besteiras que fiz, escutei não sei, não quero falar de mim.

Acho que agora aprendi a ver que não tem sido como era pra ser, até poderia escrever sobre tudo isso, da forma como você amou, porque não da pra falar: da forma como você pensou, sei lá se você pensa desculpa a intromissão mas acho que não sei bem certo se você pensa, pra mim você só ama, e quem ama de verdade sofre quando o "objeto" o qual se deve essa amor não se deixa ser amado ou se valoriza, não é do jeito que aquele que ama gostaria que fosse, no teu caso, não só aquele que ama, mas aquele que criou por amor, aquele que é o amor aquele que sofre, e você já sabe de quem estou falando né?

Das tuas filhas, aquelas que se tivessem comido um pouco mais, se tivessem sentido os braços da mãe as envolvendo e o leite materno escorrendo por sua boca, com toda certeza não teriam aquele corpo franzino, um projeto de ser mulher, com um interior destruído como se tivessem vivido a eternidade ali daquele jeito, é tenho que falar delas, acabei de ler uma notícia sobre elas, pra falar a verdade só passei o olho, disso eu já sabia, parece um super poder de adivinhação, mas não é, é que se repete...

Dessa vez é no Ceará, não sei o nome delas eles (os jornalistas) sempre abreviam por elas serem "de menor", sei que tem um M e um ponto pode ser de Maria, dói ainda mais né? Até fala do sonho de voltar pra escola, mas fala que tem dia que o movimento tá fraco e que se vende por 5 reais, mas usa camisinha sempre, qualquer coisa que eu fale, um eufemismo que eu use não será capaz de te confortar, a verdade dói, o amor ainda mais, e você as ama, e ama os donos do dinheiro e não fala nada só ama e sofre, não é só no Ceará que está assim, é no mundo todo, as pessoas insistem em matar aquilo que você deu a vida, não só o material, mas aquilo que foi o teu presente para que fossemos felizes, a inocência, a pureza, a ingenuidade, estão matando tudo.

Suas filhas pequenas, que ainda não viraram mulher fisicamente, se vendem, se matam a cada dia a cada homem, a cada noite, matam o olhar, matam a vergonha, matam o medo, estão se matando, matando aquilo que se sente, por um prato de comida, por uma cheirada na cocaína, deve doer né?

Era pra ser tão bonito, o amor, a relação sexual, era pra ser diferente, parece que ninguem entendeu aquilo que você nos disse quando ainda estávamos aí contigo, e dói, dói de pensar, na tua dor de ver aquilo que lhe é mais precioso sendo usado por outro, molestado, assassinado, roubado e te expulsam daqueles corações que se "enferrujaram" e não te sentem mais, se acostumaram a viver assim, sem dó, sem dor, sem amor, sem roupa, sem tudo, se acostumaram a viver só com o que é necessário e você sofre, o sangue já não escorre na cruz, mas a ferida se abre cada vez mais a cada dia ao viver tuas filhas "Maria" morrendo a cada dia e nascendo um pouco pior no outro, e dói, porque você ama, ama quem compra, ama quem vende, ama quem vê pela internet, ama quem comenta com os amigos, ama quem não se importa, ama quem se preocupa mais com a roupa de amanhã, ama e ama e ama e dói, e o que você pensa disso tudo eu não sei, porque como disse não sei se você pensa, sei que você ama e sofre por cada menina, que matam a inocência, a pureza e tudo aquilo que você tinha colocado nela e ama e ama e sofre!

Perdão, eu ainda não fiz nada pra te ajudar!

Te amo!

Gabriel Antunes Ferreira
Enviado por Gabriel Antunes Ferreira em 25/09/2009
Reeditado em 04/08/2010
Código do texto: T1830451
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