ILHA DA FANTASIA 2016

Não sei se estou me tornando anti-patriota ou um brasileiro fora dos padrões, mas não senti nenhuma emoção na escolha do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016, para falar a verdade, senti uma emoção sim: fiquei triste por o Rio ter ganho.

Não entendi tanta euforia popular, se para a maioria da população, tanto a Copa do Mundo, como as Olimpíadas que serão realizadas no Brasil, serão como se estivessem sendo realizadas no Japão, China, Espanha, pois o povo vai assistir essas competições do mesmo modo que assistiram às anteriores pela televisão. A única diferença é que alguns assistirão numa televisão de LCD de 32 polegadas compradas em vinte e quatro vezes.

Ah, entendi sim, a elagria do povo, afinal vivemos em um país onde os politicos roubam, mas o que importa, desde que não mexam no carnaval e no futebol. Tudo bem. Dêem o pão e circo ao povo e tudo fica bem.

Ah, um consolo, aquela população mais pobre que mora no Rio de Janeiro poderá assistir a Maratona e ver de longe a competição de vela, isto é senão interditarem as ruas e as praias em nome da segurança.

Também restará ao povo, o consolo de ver os grandes atletas dentro dos ônibus ou esperar por eles nos aeroportos, agora rezem para eles não saírem por outro local.

Ou alguém acredita que os ingressos dos jogos da Copa do Mundo e das principais modalidades das Olimpíadas serão acessíveis ao “povão”?

Mas tem uma pequena, muito pequena, parcela da população que irá se beneficiar com esses eventos.

A começar, pelo quem sabe “ex” ou futuro presidente Lula, que com certeza, fará tudo para voltar às mordomias e viagens inerentes ao cargo em 2014.

Afinal, é mais uma “façanha” para o presidente se vangloriar, afinal, nunca na história do Brasil, um presidente conseguiu trazer eventos tão importantes.

Os políticos, que terão a partir de agora sete anos de negociatas com os empreiteiros.

E os empreiteiros e as construtoras que nunca na história deste país, ganharão tanto dinheiro com as obras superfaturadas, a maioria realizada através de licitações não tão transparentes. E alguém tem dúvida quais são as construtoras que irão vencer os processos licitatórios? Se tiverem, comparem a lista dos maiores doadores das campanhas dos politicos para eleições de 2010 com a lista de empresas que vencerão as licitações para construção das obras da Copa e das Olimpíadas, qualquer semelhança, não será mera coincidência.

As emissoras de televisão, que nunca na história deste país, ganharão tanto dinheiro em contrato de publicidade.

O governo diz que as Olimpíadas gerarão milhares de empregos diretos e indiretos.

Não discordo, mas a construção de hospitais, escolas, casas que poderiam ser construídos com o dinheiro que será gasto para a realização das Olimpíadas também gerariam milhares de postos de trabalhos “permanentes” para médicos, enfermeiros, professores, trabalhadores da construção civil e profissionais de todas as áreas.

O “nosso” presidente sabe muito bem quais são as prioridades do país. Mas o que dar mais visibilidade a ele no cenário internacional: investir em habitação, saúde, educação, infra-estrutura em um país em que pessoas morrem sem ter acesso a um sistema de saúde decente, onde dezenas de milhares de pessoas não tem um teto onde morar, um país que tem milhões de analfabetos ou bancar projetos faraônicos, como realizar uma Copa do Mundo ou uma Olimpíadas?

A resposta é fácil quando temos na presidência, um sujeito que tem um ego nunca antes visto na história deste país.

Não sou um anti-Simão Bacamarte, personagem patriota do livro Alienista de Machado de Assis, nem tão pouco sou contra competições esportivas.

Mas é dificil apoiar qualquer projeto de grande vulto, em um país onde nosso dinheiro se esvai nos ralos da corrupção.

É dificil acreditar na seriedade das aplicações dos recursos nesses dois mega-eventos, em um país que até hoje o Tribunal de Contas da União encontra indicios de irregularidades no orçamento do Pan Americano de 2007. Vejam abaixo um pequeno exemplo de como um gasto em um serviço simples, teve seu valor acrescido em 472 vezes:

“ ...despesas como o custo da implantação do sistema de credenciamento do PanAmericano de 2007, orçado originalmente em R$ 55 mil, mas que acabou representando uma despesa de R$ 26,7 milhões aos cofres públicos.”

Atente bem para esta informação do TCU: “dinheiro público”, isto é, o meu, o seu, o nosso dinheiro.

Como um governo pensa em construir megas ginásios, piscinas, estádios em um país em que 73% das escolas públicas não possuem sequer espaços para práticas desportivas.

Apontam a China, como um exemplo que deu certo quando sediou as Olimpiadas, só que, ao contrário do Brasil, a China já era uma potência olimpica quando sediou o evento, já era uma potência econômica, já investia forte na prática esportivas em suas escolas, faculdades e lá, ao contrário daqui, a corrupção não está tão fortemente impregnada.

O país e principalmente o Rio de Janeiro em 2016 viverão meses de Ilha da Fantasia, transportes de qualidade, ruas limpas, sem mendigos, Exército nas ruas. As nossas autoridades fazendo pacto de boa vizinhança com os bandidos, traficantes, para que estes deem um tempo em suas atividades ou migrem suas ações para lugares mais distantes. Ou alguém acredita que em 6 anos, todos esses problemas serão resolvidos?

Que venham a Copa do Mundo e as Olimpiadas. Dos camarotes luxuosos para o Lula, políticos, empreiteiros, chefe de tráfico de drogas. Traficantes, sim, ou você acha que no “pacto de paz olimpico”, entre as concessões das autoridades, não estarão incluídos camarotes paras aqueles assistirem aos principais eventos.

Quanto ao restante do povo é melhor comprar logo a televisão de 32 polegadas, talvez até começar a Copa, você já tenha quitado as não-sei quantas prestações.

FMBARBOSA
Enviado por FMBARBOSA em 09/10/2009
Reeditado em 28/06/2013
Código do texto: T1857162
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