A OCASIÃO FAZ A CRIAÇÃO !

Fui convidado a proferir uma palestra sobre "A Cultura da Empresa" em uma multinacional de Campinas (SP), onde eu já tivera um contato com o superintendente.

Ele me segredara querer atingir um cargo na Diretoria e precisava melhorar o ambiente de trabalho.

Nesta primeira entrevista ele me revelou que teríamos a visita de um Vice-Presidente para o Brasil e que eu precisava ter muito tato, para torná-lo acessível, pois seu gênio era do tipo "carrasco mal humorado"!

"Deixa comigo!", eu respondi.

Enquanto o pessoal enchia o anfiteatro, o "distímico", como são chamados estes "do contra", me fez uma pergunta tão logo fomos apresentados: "Quanto você fatura por mês?"

Acostumado a estes contratempos lhe respondi que a quantia poderia ser -lhe dada, se ele chegasse até o final da palestra crendo que valeu a pena assisti-la. Ele não perdeu a verve e arrematou: "O que o faz pensar que poderá me agradar? Eu já viví tudo que precisava?" Ouviu esta: "E espera o que, para morrer?", seguida de uma risada escancarada.

Ele ficou mais retraído, creio que respeitando o ping-pongueante.

Eu abrí a pasta amiga e tirei um livro que costumo usar: "A Levitação" e me puz a fingir que estava revendo algo. Ví-o cochichando com o superintendente.

Feitas as apresentações, arrastei a minha mesa para o centro da sala, pedi que apagassem todas as luzes, à exceção da última do fundo. Subi na mesa em posição de buda e pedi a todos que se dessem as mãos e me ajudassem com sua concentração, pois pretendia me elevar.

A princípio surgiram algumas risadas, mas ao verem minha seriedade, começaram a se concentrar. Entreabri os olhos levemente e vi muitos de olhos fechados, meditando fazendo força.

Deixei passar tres minutos e comecei a cantar minha paródia de "MY WAY" (T944190). Levaram um choque e começaram a rir, sentindo e fazendo-me sentir que realmente nós nos eleváramos.

Mostrei a todos que se uma pretenção dirigida e comunicada com seriedade, faria com que todos se envolvessem, da mesma forma que uma ordem mal dada, impositiva, faria com que a empresa despencasse.

Comecei a falar sobre como se formam todos os grupos sociais, mostrei como a imposição não é compreendida e como os dirigentes escolhem seus comandados com muita cautela, de preferência submissos e aprendizes de um esponja, que suga a todos e rouba suas idéias, diferentemente das empresas que criam um abrigo agradável para seus colaboradores, em contrapartida aos "recursos", "burrinhos de presépio".

Em pouco tempo vi o Vice virando massa de pastel e sua inquietação o levou tres vezes ao banheiro em menos de trinta minutos, ao abordar o medo de errar das pessoas, se postando como "Todo Poderoso", para se revelar inseguro.

O superintendente se divertia e piscava os olhos para mim, apontando seu superior.

A palestra foi um sucesso e fui convidado a repeti-la na Matriz no Rio.

A cada dia me convenço mais do nosso medo de errar e por isto cremos mais em fantasias, como ser capaz de levitar.

Você já levitou? Não? Por que não procura se elevar, vendo que o erro leva ao acerto?

Abraços.

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